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O nome do cardeal Giovanni Angelo Becciu voltou ao centro das atenções após sua presença na primeira reunião do Colégio Cardinalício, em Roma, realizada nesta terça-feira (22) na sequência da morte do papa Francisco, ocorrida na segunda-feira (21). Condenado a cinco anos de prisão por peculato e fraude em 2023 pelo tribunal da Santa Sé e afastado pelo próprio pontífice de suas funções e privilégios cardinalícios, Becciu insiste que não há base legal para sua exclusão do próximo conclave.
“A lista publicada pela Santa Sé não tem qualquer valor e deve ser considerada como tal”, declarou ao jornal italiano L’Unione Sarda.
Becciu, que era um dos prelados - termo usado para se referir a bispos e cardeais de alta posição na hierarquia da Igreja Católica - mais influentes da Cúria Romana, chegou a ocupar o cargo de “substituto” na Secretaria de Estado do Vaticano sob a liderança de Francisco — equivalente a um chefe de gabinete do papa — e posteriormente foi nomeado Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Em setembro de 2020, foi afastado pelo então pontífice após denúncias de má gestão e uso indevido de recursos financeiros da Santa Sé.
O caso que resultou na condenação de Becciu envolveu a compra de um imóvel de alto padrão em Londres, financiado com recursos do Vaticano. A Santa Sé investiu cerca de US$ 400 milhões na aquisição de uma antiga loja de veículos da Harrods, no bairro de Chelsea, que seria convertida em empreendimento imobiliário. A operação, no entanto, gerou um prejuízo estimado em US$ 140 milhões. Segundo os promotores, Becciu e outros envolvidos agiram com negligência e permitiram que intermediários obtivessem ganhos indevidos em prejuízo da Igreja.
Além do escândalo financeiro em Londres, o cardeal também foi implicado no caso da “dama do cardeal”, a consultora italiana Cecilia Marogna, acusada de usar dinheiro do Vaticano para despesas pessoais, incluindo compras de marcas de luxo como Gucci e Prada. Becciu teria autorizado transferências que somaram centenas de milhares de euros para Marogna, que foi condenada por apropriação indevida. Durante o julgamento deste caso, imagens de Marogna dentro do apartamento do cardeal e publicações com legendas como “me sentindo em casa” alimentaram as suspeitas de um envolvimento pessoal, negado por ambos.
Mesmo diante das condenações e da perda dos direitos de cardeal — decisão oficializada pelo próprio Vaticano em 2020 — Becciu nega envolvimento em ilegalidades e defende sua legitimidade para participar do conclave.
“O Papa reconheceu as minhas prerrogativas cardinalícias, na medida em que não houve nenhuma vontade explícita de me excluir do conclave, nem houve qualquer pedido explícito por escrito de minha renúncia”, argumentou em entrevista a L’Unione Sarda.
A decisão final sobre a participação de Becciu na eleição do próximo papa deve caber ao decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, e ao cardeal Pietro Parolin, que coordenarão os procedimentos do conclave na Capela Sistina.
Em sua entrevista ao L’Unione Sarda, Becciu lamentou a morte repentina do papa.
“Essa morte é uma grande dor, à luz de uma relação sempre franca, serena, pautada pelo máximo respeito, mesmo diante de naturais e humanas divergências de opinião: o papa aceitava minhas opiniões e, juntos, compartilhávamos todas as decisões, inclusive as mais dolorosas”, disse.
Atualmente, Becciu responde em liberdade enquanto seu recurso está em análise no tribunal criminal da Santa Sé.







