
A fronteira da Rússia é um caldeirão explosivo. A desintegração da União Soviética provocou uma onda separatista e de disputas que não foram resolvidas até hoje. São um terreno fértil para a guerra de influência entre potências. Transnístria, Nagorno-Karabakh, Ossétia do Sul e Abcásia todas regiões do antigo tabuleiro soviético engrossam a lista dos conflitos não resolvidos. São os pontos em que o Ocidente teme uma ingerência maior da Rússia.
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Num referendo em 2006, a Transnístria não apenas confirmou sua independência da Moldávia, como decidiu que quer se unir à Rússia. O Parlamento da região reafirmou na semana passada seu pedido de anexação. Mas Aleksandar Pavkovic, autor de livros sobre secessão e separatismo no mundo, da Universidade de Sydney, na Austrália, vê um problema geográfico na pretensão da região: entre ela e a Rússia, há o vasto território da Ucrânia.
O tabuleiro na região está se movendo. David Siroky, da Universidade do Arizona, também especialista em separatismo, cita a Ossétia do Sul, uma região montanhosa no Cáucaso reconhecida internacionalmente como sendo território da Geórgia. Mas, em 2008, ela declarou independência, com apoio dos russos. Esse foi o estopim do conflito entre Rússia e Geórgia.
A própria Moldávia, país do Leste Europeu espremido entre a Ucrânia e a Romênia, sofre nesta disputa entre potências por influência. Altamente dependente de importação de energia da Rússia, os moldavos tentaram aproximação com a Europa. Moscou não gostou e, em novembro de 2012, deu um ultimato: ou a Moldávia se retira dos acordos de energia com a União Europeia ou perde descontos na compra de gás russo.
Outra questão mal resolvida e altamente explosiva que Putin pode explorar é a Abcásia, um lugar no Cáucaso que, no mapa da ONU, ainda pertence à Geórgia. Era um dos destinos prediletos para as férias da elite soviética. A Abcásia declarou sua independência em 1999, depois de uma guerra contra a Geórgia, que venceu graças à ajuda de Moscou. Hoje, somente russos, Venezuela e Nicáragua reconhecem Abcásia e Ossétia do Sul como países independentes. Ao contrário da Crimeia, Abcásia e Ossétia do Sul não têm maioria de russos. Mas Moscou tem distribuído passaportes russos ali para quem quiser.
A anexação da Crimeia pode inflamar os ânimos dos nacionalistas sérvios (eslavos apoiados por Moscou) na Bósnia-Herzogovina situação que a UE controlaria impedindo, por exemplo, um referendo. O caso crimeano tira o sono também dos países do Leste Europeu que estiveram sob domínio soviético: como a Romênia, vizinha da Moldávia e que vê uma eventual incursão russa na Transnístria como uma ameaça.



