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Traço dos desenhos de Nicola Heindl é marca registrada nas capas dos discos | Reprodução www.putumayo.com
Traço dos desenhos de Nicola Heindl é marca registrada nas capas dos discos| Foto: Reprodução www.putumayo.com

A Polícia Metropolitana (Scotland Yard) começou a ocupar nesta segunda-feira (1) o banco dos réus por não ter conseguido garantir a proteção do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto a tiros em uma estação de metrô de Londres ao ter sido confundido com um terrorista, em julho de 2005.

Jean Charles, de 27 anos, levou sete tiros na cabeça na estação de Stockwell (sul de Londres) em 22 de julho de 2005. Os policiais confundiram o brasileiro com o etíope Osman Hussein, um dos terroristas que tramaram atentados na capital inglesa dias antes.

A Scotland Yard é acusada de violar as normas de saúde e segurança, por ter realizado uma operação antiterrorista na estação de metrô de Stockwell sem assegurar a segurança dos cidadãos. Os policiais que participaram da morte do brasileiro não serão julgados, apenas a instituição.

Mesmo se for considerada culpada, a Scotland Yard deve ser no máximo condenada a pagar uma multa.

Os familiares de Jean Charles tiveram negado em dezembro passado um pedido de apelação contra a decisão da Procuradoria britânica de não processar individualmente os 15 policiais envolvidos em sua morte por falta de provas.

A previsão é de que o julgamento contra a Scotland Yard, a ser realizado no tribunal criminal de Londres, conhecido como Old Bailey, dure um mês e meio.

As circunstâncias da morte de Jean Charles foram investigadas em uma inspeção, Stockwell One, cujas conclusões ainda não foram reveladas.

Livro sobre o caso

A trágica história, que mistura imperícia, negligência, erros e arrogância de uma das polícias mais famosas do mundo foi recontada pelo escritor Ivan Sant’Anna, no livro "Em Nome de Sua Majestade" (editora Objetiva). Uma tragédia que começou quando o agente secreto, que urinava atrás da árvore, identificou o alvo errado.

"O agente estava em frente ao prédio desde 6h04. Exatamente às 9h30, ele foi atrás de uma árvore, porque estava vontade de ir ao banheiro. Neste momento, o Jean Charles saiu de casa. Foi um erro absurdo porque ele não decorou a cara, a fisionomia do terrorista que estava procurando. Então, ele teve que filmar com um celular e mandar para o comando da polícia para que a central decidisse se era o Osman - o terrorista -, ou não", explica Ivan Sant’Anna.

A partir da falsa identificação, foram 33 minutos de perseguição pelas ruas da área em que Jean Charles morava. Três outros agentes, identificados pelo codinome "hotel", partiram no encalço do brasileiro. Jean Charles foi de ônibus até a estação do metrô mais próxima. Os agentes secretos também embarcaram.

"Se o Jean Charles era um homem-bomba, porque o deixaram entrar no ônibus? Se, 14 dias antes, um homem havia se explodido em um ônibus, em Londres, matando um monte de gente", indaga o escritor.

Apesar de todas as provas, os policiais envolvidos foram inocentados. Segundo a Justiça britânica, eles teriam agido em defesa da coletividade. Harriet Wistrich, advogada da família de Jean Charles, ainda insiste. Ela pretende recorrer, alegando o erro da polícia, que, em vez de proteger, matou um cidadão inocente. A advogada reconhece que, se ganhar a causa, a indenização pode não passar de 10 mil libras, cerca de R$ 40 mil.

"O importante não é o valor", conforma-se a advogada. "O que eu quero é corrigir essa história", afirma.

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