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Crise

Centro financeiro dos EUA vira palco para indignação

Desemprego, casas perdidas, dívidas de universitários e descrença no atual sistema político impulsionam manifestantes nos Estados Unidos

Os manifestantes de Wall Street consideram que seu movimento representa 99% da população dos EUA que paga pela crise, enquanto os outros se beneficiam dela | Frederic J. Brown/AFP
Os manifestantes de Wall Street consideram que seu movimento representa 99% da população dos EUA que paga pela crise, enquanto os outros se beneficiam dela (Foto: Frederic J. Brown/AFP)
O acampamento no Parque Zucocotti, em Manhattan, é o principal ponto de concentração dos protestos |

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O acampamento no Parque Zucocotti, em Manhattan, é o principal ponto de concentração dos protestos

As palavras de ordem de agora são menos românticas que "Faça amor, não faça guerra", utilizadas pelos hippies nos Estados Unidos no final dos anos 1960. Mas os investimentos na indústria bélica ainda são criticados em cartazes como o que diz "Dinheiro para empregos, não para guerra".

O movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street) reage ao poderio das grandes corporações e aos rumos da política nos Es­­ta­­dos Unidos, com um acampamento que teve início no dia 17 de se­­tembro, no Parque Zucocotti, lo­­calizado no centro financeiro de Manhattan.

No início, os protestos pareciam não ter grande adesão, mas ganharam visibilidade internacional por meio das redes sociais e após as prisões no fim de semana passado de mais de 700 manifestantes que estavam entre os cerca de 1.500 que bloquearam a ponte do Brooklyn. A polícia utilizou ônibus para levar todos às delegacias. Eles foram liberados e vão ser processados por perturbação da ordem pública.

Nas ruas de outras cidades dos EUA (ver infográfico) também ocor­­rem manifestações contra o sistema financeiro que, de acordo com os participantes, ainda funciona somente para um grupo re­­duzido de privilegiados. "Cada vez mais gente está com raiva da situação nos Estados Unidos, porque a elite e os banqueiros não es­­tão pagando pela crise", diz o professor de História dos Estados Unidos da Universidade de São Paulo (USP), o canadense Sean Purdy.

Durante a crise de 2008, o go­­verno de George W. Bush direcionou US$ 700 bilhões para salvar bancos norte-americanos. O in­­ves­­timento não impediu que ci­­dadãos de classe média perdessem suas casas. "Vizinhos fazem manifestações para proteger casas da expropriação e deixá-las com os donos. Isso é inédito nos últimos 60 anos. Só aconteceu na crise dos anos 30 e durante a Segunda Guerra", conta o professor Purdy, que é um dos autores do livro História dos Estados Unidos (Contexto, 2007).

Em um vídeo produzido pelos participantes do movimento que está disponível na internet, é exibido um cartaz com a frase: "Este distrito financeiro é responsável pela maior parte da pobreza e do sofrimento neste planeta". O Occupy Wall Street não se identifica por denominação partidária, foi iniciado por movimentos sociais, conclamou a participação de sindicatos e de todos os 99% da população que seriam as vítimas do 1% beneficiado pelo atual sistema econômico.

O blog do movimento convidou as pessoas a tirarem fotos carregando cartazes com mensagens como: "Sou um estudante com US$ 25 mil em dívidas", em referência aos financiamentos estudantis que muitos universitários assumem e que não sabem se vão ter como pagar diante de um índice de desemprego de 9%. Outra mensagem que os participantes poderiam colocar é: "Sou alguém com milhões em dívidas médicas e não tenho seguro". Todos deveriam incluir em seus cartazes: "Sou um dos 99%".

Para o professor de Economia da Pontifícia Universidade Ca­­tó­­lica do Paraná (PUCPR) Másimo Della Justina o questionamento à grande concentração de renda é uma oportunidade para os EUA retornarem às origens. "É um país que foi pensando para que não existisse uma sociedade aristocrática. Mas hoje tudo está nas mãos de grandes grupos, da economia à indústria do cinema".

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