
As palavras de ordem de agora são menos românticas que "Faça amor, não faça guerra", utilizadas pelos hippies nos Estados Unidos no final dos anos 1960. Mas os investimentos na indústria bélica ainda são criticados em cartazes como o que diz "Dinheiro para empregos, não para guerra".
O movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street) reage ao poderio das grandes corporações e aos rumos da política nos Estados Unidos, com um acampamento que teve início no dia 17 de setembro, no Parque Zucocotti, localizado no centro financeiro de Manhattan.
No início, os protestos pareciam não ter grande adesão, mas ganharam visibilidade internacional por meio das redes sociais e após as prisões no fim de semana passado de mais de 700 manifestantes que estavam entre os cerca de 1.500 que bloquearam a ponte do Brooklyn. A polícia utilizou ônibus para levar todos às delegacias. Eles foram liberados e vão ser processados por perturbação da ordem pública.
Nas ruas de outras cidades dos EUA (ver infográfico) também ocorrem manifestações contra o sistema financeiro que, de acordo com os participantes, ainda funciona somente para um grupo reduzido de privilegiados. "Cada vez mais gente está com raiva da situação nos Estados Unidos, porque a elite e os banqueiros não estão pagando pela crise", diz o professor de História dos Estados Unidos da Universidade de São Paulo (USP), o canadense Sean Purdy.
Durante a crise de 2008, o governo de George W. Bush direcionou US$ 700 bilhões para salvar bancos norte-americanos. O investimento não impediu que cidadãos de classe média perdessem suas casas. "Vizinhos fazem manifestações para proteger casas da expropriação e deixá-las com os donos. Isso é inédito nos últimos 60 anos. Só aconteceu na crise dos anos 30 e durante a Segunda Guerra", conta o professor Purdy, que é um dos autores do livro História dos Estados Unidos (Contexto, 2007).
Em um vídeo produzido pelos participantes do movimento que está disponível na internet, é exibido um cartaz com a frase: "Este distrito financeiro é responsável pela maior parte da pobreza e do sofrimento neste planeta". O Occupy Wall Street não se identifica por denominação partidária, foi iniciado por movimentos sociais, conclamou a participação de sindicatos e de todos os 99% da população que seriam as vítimas do 1% beneficiado pelo atual sistema econômico.
O blog do movimento convidou as pessoas a tirarem fotos carregando cartazes com mensagens como: "Sou um estudante com US$ 25 mil em dívidas", em referência aos financiamentos estudantis que muitos universitários assumem e que não sabem se vão ter como pagar diante de um índice de desemprego de 9%. Outra mensagem que os participantes poderiam colocar é: "Sou alguém com milhões em dívidas médicas e não tenho seguro". Todos deveriam incluir em seus cartazes: "Sou um dos 99%".
Para o professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Másimo Della Justina o questionamento à grande concentração de renda é uma oportunidade para os EUA retornarem às origens. "É um país que foi pensando para que não existisse uma sociedade aristocrática. Mas hoje tudo está nas mãos de grandes grupos, da economia à indústria do cinema".



