Curitiba Boa parte da motivação para a publicação das charges que retratam o profeta Maomé é pura provocação direitista, argumenta o chargista Laerte, cujo trabalho pode ser visto em publicações de circulação nacional. "Os jornais que publicaram as caricaturas na Europa são xenófobos e racistas. A questão não pode ser analisada fora deste contexto. Existem muitas entidades interessadas na guerra e elas trabalham em harmonia para isso." A ofensa religiosa é clara, diz Laerte, para quem as imagens não apresentam uma provocação intelectual, que seria bem-vinda, mas sim uma atitude de quem tem "péssimas intenções."
Frank Maia, chargista do jornal A Notícia, de Joinville, ficou espantado com o "poder bélico" das charges sobre Maomé, que provocaram um conflito internacional. "Foi uma agressão gratuita, uma ofensa religiosa que nada tem de cunho político. Nenhuma delas é engraçada", diz o chargista, para quem os temas de mau gosto podem ser descartados por questão de respeito ao leitor. Temas que envolvem morte ou catástrofes são complicados, enumera. "Nunca os incluo em minhas charges." Ele lembra de ter se arrependido e barrado a tempo uma charge sobre os atentados do 11 de setembro.
O chargista Benett, da Gazeta do Povo, diz defender sempre a liberdade de expressão. "Entendo a indignação, mas acho que sempre há um exagero irracional quando respondem a uma questão que não deveria sair do debate de idéias e pontos de vista divergentes", afirma.
Para Benett, as charges não são meros desenhos vandalizando a imagem de Maomé. "Não foi mera provocação. Há uma idéia por trás daqueles desenhos, um discurso, uma opinião. Há uma crítica com relação ao comportamento desses que hoje querem a cabeça de todos os chargistas caucasianos da face da Terra. Os chargistas fizeram grandes charges, com conteúdo. E charges são isso mesmo: instigam o riso, instigam o intelecto e bem, agora instigam a violência " Mas se o jornal usou o material apenas como provocação, opina Benett, a história muda. "Descontextualizadas, as imagens soam como provocação".
Para Benett, religião, minorias e sexo são temas polêmicos. "Mas não quer dizer que não devam ser abordados. Isso deve ser feito com um discurso consistente, sem difamação. Enfim, com profissionalismo."



