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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vem assumindo riscos calculados nas nacionalizações em direção a um socialismo de inspiração cubana, apesar de cultivar a imagem do típico revolucionário latino-americano impulsivo.

O ex-tenente-coronel do Exército, inimigo declarado do capitalismo e de Washington, gastou 1,4 bilhão de dólares na semana passada para nacionalizar ações de empresas norte-americanas que operam no país.

Os acordos com gigantes como a Verizon (telecomunicações) surpreenderam os investidores, que temiam um confisco puro e simples do capital. As ações se valorizaram expressivamente nesta semana na Bolsa de Caracas, numa aparente acomodação depois dos acordos.

``Acho que isso mostra que ele está escolhendo bem suas batalhas'', disse Miguel Tinker-Salas, professor de Estudos Latino-Americanos na Faculdade Pomona, na Califórnia. ``O lado militar de Chávez entende que não se luta uma batalha na vanguarda e na retaguarda ao mesmo tempo.''

Apesar de se inspirar declaradamente em ícones como Che Guevara, Chávez consegue, desde que assumiu o governo, em 1999, evitar os reveses de outros revolucionários graças à capacidade de manter uma relativa paz com os mercados internacionais, ao mesmo tempo em que impõe sua agenda esquerdista.

Ao contrário de seu aliado equatoriano Rafael Correa, Chávez nunca ameaçou suspender o pagamento da dívida externa e criticou o boliviano Evo Morales por deslocar tropas para apoiar nacionalizações.

O presidente venezuelano também evitou uma colisão imediata com gigantes da energia, como a Exxon Mobil, que opera projetos multibilionários na Venezuela. Sem afetar as grandes empresas, Chávez tem outros recursos à disposição para consolidar seus poderes -como a autoridade para governar por decreto e a possibilidade de cassar a autonomia do Banco Central e redesenhar os distritos eleitorais.

Já no começo do seu governo Chávez mostrava saber quando recuar. Quando numa cerimônia parlamentar um deputado lançou uma diatribe contra o presidente, este limitou-se a ficar calmamente sentado atrás do parlamentar, folheando um exemplar do milenar ``A Arte da Guerra'', do estrategista chinês Sun Tzu.

Anos depois, as lições do livro parecem continuar lhe inspirando. Humberto Njaim, professor de Ciência Política na Universidade Metropolitana de Caracas, diz que Chávez teria preferido confiscar o patrimônio das multinacionais, mas entendeu que a indignação internacional não compensaria.

``Ele sabe que está numa situação especial, que isto aqui não é a Cuba da década de 1960'', afirmou, referindo-se à época em que a ilha comunista tinha apoio da então União Soviética.

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