
Caracas - A oposição na Venezuela impôs um revés ao presidente Hugo Chávez nas eleições legislativas de domingo. Com as 67 cadeiras obtidas nas urnas (65 da coalizão Mesa da Unidade mais 2 independentes), não só impediu que o governo alcançasse a meta de assegurar dois terços dos 165 deputados como desferiu um golpe simbólico: somadas, as principais forças opositoras alcançaram 50,9% dos votos nacionais.
Mesmo assim, o chavista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) manteve folgada maioria na Assembleia Nacional que assume em janeiro, de 98 cadeiras. É o resultado da recente redistribuição de distritos, que privilegiou áreas rurais, em que o presidente é mais forte. "Os esquálidos [opositores] dizem que ganharam. Bom, que sigam ´ganhando´ assim", ironizou o presidente venezuelano no Twitter.
Mas o fato é que foi o próprio Chávez quem definiu que o triunfo nas legislativas seria obter manter a maioria qualificada no Parlamento, necessária para aprovar leis orgânicas, convocar Assembleia Constituinte e revogar mandatos de magistrados do Judiciário, por exemplo. E isso ele não conseguiu.
Aos chavistas da próxima Assembleia faltará um voto para chegar aos 99 que, pela Constituição, permitem conceder ao presidente a prerrogativa de legislar por decreto a chamada lei habilitante. "Provamos que somos maioria", disse Delsa Solórzano, eleita pela Mesa da Unidade (MUD), a diversa coalizão antichavista, para o Parlatino. "O governo não tem legitimidade para impor seu projeto", argumenta.
A conta feita pela MUD é a seguinte: somados os 5,4 milhões de votos (48%) que conquistou com os 330.260 conseguidos pelos dissidentes do chavismo do PPT (Pátria para Todos), ou 2,91% do total, chegam a 50,91%.
Animada com esse desempenho, a oposição já pensa em quem irá escolher como candidato para ser capaz de enfrentar Hugo Chávez nas presidenciais de 2012. Foi o que afirmou Henrique Capriles, governador do estado de Miranda e um dos líderes da frente antichavista. "Precisamos construir um verdadeiro projeto social, não o socialismo de que Chávez fala, este é um país com uma desigualdade extrema, onde o principal problema é a pobreza", disse, em tom de campanha adiantada.
Suspense
O Conselho Nacional Eleitoral, dominado pelo chavismo, levou longas oito horas para divulgar os primeiros resultados da eleição, que teve alta participação: 66,4% do eleitorado.
A demora, provocada em princípio por atrasos em votações em dois estados, se arrastou levando a oposição a exigir a divulgação final dos resultados.
Já eram 2h da madrugada de ontem quando se soube que Chávez tinha perdido a maioria qualificada. O presidente desistiu de aparecer aos apoiadores que se aglomeravam nos arredores do palácio presidencial. Mais tarde, convocou a imprensa para desafiar a oposição a convocar um referendo para revogar seu mandato antes de 2012.
Agora, o temor da oposição é que Chávez use os três meses que faltam de trabalho da atual Assembleia dominada pelo chavismo após o boicote da oposição às eleições parlamentares de 2005 para aprovar leis orgânicas importantes como a das comunas, pelas quais pretende redesenhar política e territorialmente o país.



