
Ouça este conteúdo
O regime comunista da China condenou a venda de portos estratégicos no Canal do Panamá para um grupo de investidores liderado pela gigante americana BlackRock, alegando que a transação ameaça sua influência sobre rotas comerciais globais. A negociação, no valor de US$ 19 bilhões, envolve a venda de instalações administradas pela empresa CK Hutchison, de Hong Kong.
De acordo com o New York Times, o regime chinês, que antes minimizava as preocupações dos Estados Unidos sobre sua presença no Panamá, agora adota um tom alarmista. O jornal Ta Kung Pao, controlado pelo Partido Comunista da China (PCCh), publicou um editorial criticando o negócio e alertando que os portos do Canal do Panamá são "a rota central para o comércio da China com a América Latina e o Caribe". A publicação afirmou que o acordo resultaria no uso dos portos por Washington "para promover sua própria agenda política", prejudicando a presença comercial chinesa na região.
O texto também acusou a CK Hutchison de agir de forma "lucrativa e injusta" e afirmou que a venda dos portos "vende todos os chineses", em um apelo nacionalista para pressionar a empresa a reconsiderar o negócio. Segundo o New York Times, o editorial foi rapidamente compartilhado pelo próprio regime chinês, demonstrando a relevância do tema para a liderança do país.
A CK Hutchison, controlada pelo bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, não comentou as críticas de Pequim. O empresário, conhecido por sua estratégia de investimentos, tem uma relação cada vez mais distante de Pequim desde a chegada do ditador Xi Jinping ao poder. Em anos recentes, ele vendeu parte de seus ativos imobiliários na China e realocou recursos na Europa, decisão que foi criticada por nacionalistas chineses, mas que se provou financeiramente acertada diante da crise no setor imobiliário do país.
A relação conturbada entre Li Ka-shing e Xi Jinping remonta a décadas. O New York Times relembra que, nos anos 1990, quando Xi era um alto funcionário na cidade de Fuzhou, ele barrou um projeto do bilionário para construir arranha-céus em uma área histórica. Mais recentemente, durante os protestos pró-democracia em Hong Kong em 2019, Li foi alvo de críticas de aliados do regime por declarações que foram interpretadas como favoráveis aos manifestantes.
A venda dos portos no Canal do Panamá ocorre em um momento de crescente tensão entre China e Estados Unidos. O governo do presidente Donald Trump, que já havia alertado sobre a presença chinesa na região, demonstrou apoio à transação.







