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China e EUA disputam no mercado global de tecnologia avançada nos últimos anos
China e EUA disputam no mercado global de tecnologia avançada nos últimos anos| Foto: EFE/EPA/MARK R. CRISTINO

À medida que os conflitos se expandem pelo mundo e as tensões entre as grandes potências ganham uma nova escalada, a busca por recursos naturais essenciais que sustentam o aparato de guerra também cresce.

É o caso da China e dos Estados Unidos, que têm investido tempo e dinheiro para expandir suas influências no mercado mineral da África, a fim de manterem, por exemplo, a fabricação dos aviões de combate americanos F-35 e as baterias de veículos eléctricos (EV), mercado no qual Pequim tem buscado se destacar.

O fato dos dois países se interessarem pelo continente africano não é novo. A China passou mais de uma década aprofundando laços e assinando acordos de infraestrutura com parceiros africanos, portanto domina esmagadoramente os processos de refinação e processamento global destes materiais.

Neste quesito, Washington ficou para trás, mas diante do atual cenário global, de disputa comercial com Pequim, intensificou suas negociações para conquistar uma participação no setor crítico mineral.

Uma das mais ambiciosas propostas de infraestrutura dos EUA na África é o investimento milionário, em parceria com a União Europeia, para revitalizar o Corredor do Lobito, que cruza a Angola, o Congo e a Zâmbia.

A administração Biden se comprometeu a emprestar milhões de dólares para modernizar a ferrovia de mais de 1.300 quilômetros de extensão que transportaria minerais críticos da República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia até à costa angolana. A RDC alberga as maiores reservas de cobalto do mundo, enquanto a Zâmbia possui uma riqueza de cobre.

Com sua política externa, a Iniciativa Cinturão e Rota, a China passou as últimas duas décadas investindo pelo menos US$ 170 milhões (R$ 848 milhões) na construção de portos, caminhos-de-ferro e outros grandes projetos de infraestrutura na África. Esses recursos injetados no continente permitiram que Pequim e as empresas chinesas desenvolvessem parcerias de longa data sobre minerais críticos.

A administração do presidente dos EUA, Joe Biden, está esperançosa de competir com a China no continente africano, no entanto os especialistas afirmam que esse processo ainda nem começou.

À revista americana Foreign Police, o analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Cameron Hudson, disse que “Washington realmente valorizou este projeto de investimento, mas ainda não construiu um centímetro de ferrovia”.

Já C. Géraud Neema Byamungu, especialista em relações China-África no projeto China Global South, a iniciativa é vista como "parte da estratégia dos EUA para construir sua própria cadeia de abastecimento de minerais essenciais, livre da China”.

O que mais preocupa os EUA é justamente o domínio crítico da cadeia de abastecimento mineral pela China, que está nesse mercado há décadas. A gestão Biden busca dar um impulso no negócio nacional, principalmente para acelerar o desenvolvimento de uma indústria americana de veículos eléctricos, plano que está diretamente ligado à Lei de Redução da Inflação, aprovada em 2022 pelo Congresso.

Washington tentou reforçar a segurança da cadeia de abastecimento, fortalecendo os laços com outros parceiros, como a Austrália, o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul e o Reino Unido, por meio da Parceria para a Segurança Mineral.

Em fevereiro, legisladores bipartidários no Senado apresentaram a Lei de Segurança de Minerais Críticos, que se destina a ajudar Washington a reduzir ainda mais sua dependência de Pequim.

"A lei nos ajudaria a compreender melhor essas complexas cadeias de abastecimento para que possamos garantir o acesso dos Estados Unidos a minerais críticos e combater o domínio chinês”, disse o senador independente Angus King, um dos autores do projeto, que considera qualquer dependência da China "extremamente perigosa" para o país.

O Corredor do Lobito foi construído pela Bélgica e Portugal há mais de 120 anos, no entanto a ferrovia foi destruída durante a guerra civil angolana e, em 2004, as empresas chinesas investiram pelo menos US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 10 milhões) na renovação da infraestrutura. Em 2022, um consórcio apoiado pelos EUA ganhou os direitos para desenvolver a ferrovia, vencendo a oferta de Pequim.

O projeto se tornou tão importante para Washington que recentemente a diplomacia dos EUA investiu em viagens para o continente, bem como recebeu autoridades desses países. Em novembro do ano passado, o presidente angolano, João Lourenço, visitou a Casa Branca, enquanto o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, fez questão de parar em Angola durante sua visita à África, em janeiro.

No início deste mês, o coordenador presidencial especial de Biden para infraestruturas globais e de segurança energética, Amos Hochstein, também se reuniu com o presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, e com Samaila Zubairu, presidente e CEO da Africa Finance Corporation, para discutir o projeto do Corredor do Lobito.

E no meio dessa mobilização e negociações, a China também se moveu no xadrez comercial ao fazer uma proposta para investir mais de US$ 1 milhão (R$ 4,9 milhões) na ferrovia de Tazara, que liga a Zâmbia e a Tanzânia.

Esse crescimento na corrida de investimentos pelos recursos minerais oferecerem aos governos africanos uma maior influência na celebração de acordos e parcerias com as grandes potências. Mas, conforme o interesse pela matéria prima aumenta, algumas nações africanas estudam novos caminhos para uma maior autonomia sobre suas próprias indústrias para alcançar um destaque maior no mercado global.

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