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Paris

Chirac pede calma após sexta noite de distúrbios

Presidente francês pede que integrantes do governo não exponham divergências em público, temendo explosão da violência. Polícia detém 34 jovens. Três são condenados à prisão

Após a sexta noite de distúrbios em bairros periféricos de Paris, o presidente da França, Jacques Chirac, rompeu o silêncio para pedir calma a aplicação rígida da lei, em "espírito de diálogo e respeito". As declarações de Chirac também foram consideradas como um pedido ao governo e à sua maioria de direita para que, ao menos em público, deixem de lado as disputas, temendo uma explosão da violência.

- A ausência de diálogo e a escalada da falta de respeito levariam a uma situação perigosa - advertiu Chirac ao Conselho de ministros, segundo o porta-voz de governo, Jean-François Cope.

O chefe de Estado pediu ao Executivo que no espaço de um mês haja propostas para "acelerar e reforçar" a eficácia das medidas a favor da igualdade de oportunidades.

- Devemos atuar segundo os princípios da República. Cada qual deve respeitar a lei; cada qual deve ter sua oportunidade - disse.

No ponto central da tormenta política se encontra o ministro do Interior, líder do partido conservador governante (UMP) e candidato à presidência da França em 2007, Nicolas Sarkozy. Ele é acusado de alimentar as chamas da revolta, ao chamar de "gentalha" os jovens moradores de bairros violentos, que são focos de pobreza, desemprego e delinqüência, onde residem muitos imigrantes e que, queria "limpar com uma mangueira de pressão".

Depois do encontro do conselho, o primeiro-ministro e aliado de Chirac, Dominique de Villepin, reuniu uma dezena de ministros para tratar de violência nas "zonas urbanas sensíveis" e qualificou os acontecimentos como extremamente graves. Entre os presentes estava, além de Sarkozy, o ministro delegado da Promoção da Igualdade de Oportunidades, Azouz Begag, sociólogo de origem argelina que criticou a semântica guerreira de seu colega. Begag disse também que sempre se deve escolher as palavras quando se fala com os pobres e aconselhou Sarkozy a "deixar de visitar estas zonas de pobreza e suscetibilidades cercado por câmeras e jornalistas".

O ministro do Interior considerou que Begag não tem lhe facilitado o trabalho com suas palavras, enquanto seus aliados pedem a demissão do ministro encarregado da Promoção da Igualdade de Oportunidades, que ainda não visitou o bairro Clichy-sous-Bois, onde se originou a onda de distúrbios na quinta-feira passada. Naquela noite, dois adolescentes que, erroneamente segundo as autoridades, pensaram estar sendo perseguidos por policiais, morreram eletrocutados ao refugiar-se num transformador elétrico.

O incidente foi como encostar o dedo numa ferida aberta, que é a situação dos bairros da periferia. Em seguida, Clichy foi palco de seguidas noites de confrontos entre turmas de jovens e centenas de policiais da tropa de choque, com carros incendiados e pedradas. O lançamento de uma granada de origem indeterminada agravou a situação.

Enquanto Clichy teve uma noite mais tranqüila na madrugada desta quarta-feira, os distúrbios se estenderam a outros bairros periféricos, com dezenas de automóveis incendiados, além de confrontos entre jovens e policiais. Segundo Sarkozy, 34 jovens foram detidos. Três foram condenados a dois meses de prisão. Outros jovens presos no fim de semana seriam levados nesta quarta-feira a um juiz. Os pais dos jovens que foram eletrocutados em Clichy foram recebidos por Villepin, quem prometeu que o caso será plenamente esclarecido e fez saber que nesta mesma noite haveria uma reunião interna de autoridades do Ministério do Interior para "abrir o diálogo num espírito de respeito mútuo".

Villepin, rival potencial de Sarkozy na campanha presidencial de 2007, vinha se mantendo à margem dos distúrbios até agora. Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro informou que adiou uma viagem oficial ao Canadá, enquanto Sarkozy cancelou ida ao Paquistão e ao Afeganistão.

A oposição de esquerda acusou o governo de criar uma situação explosiva. O líder socialista, François Hollande, decretou a "tolerância zero" para Sarkozy, que, segundo ele, está "obcecado por sua candidatura" em 2007.

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