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Serviço secreto

CIA traça perfis de “inimigos”

Contestado por alguns especialistas, método projeta comportamentos dos líderes mundiais que os Estados Unidos querem derrubar

Hugo Chávez (esq.), um dos psicologicamente avaliados. Kadafi (centro) teria perfil do tipo “preparado para morrer”. O norte-coreano Kim Jong-Il, alvo de investigações | AFP e Reuters
Hugo Chávez (esq.), um dos psicologicamente avaliados. Kadafi (centro) teria perfil do tipo “preparado para morrer”. O norte-coreano Kim Jong-Il, alvo de investigações (Foto: AFP e Reuters)

Nova York - Ele é um narcisista delirante, que lutará até o último suspiro. Ou um showman impulsivo, que pu­­lará no próximo voo quando en­­curralado. Ou talvez um psicopata, um estrategista frio e calculista – louco como uma raposa do deserto. O fim de jogo na Líbia pa­­rece depender dos instintos de Muamar Kadafi, e qualquer compreensão desses instintos seria incrivelmente valiosa aos políticos aliados.

Jornalistas formaram suas im­­pressões a partir de histórias ou de suas ações no passado; outros usaram suas recentes afirmações so­­bre a al-Qaeda e o presidente Ba­­rack Obama. Contudo, ao menos um grupo tentou construir um per­­fil baseado em métodos científicos e suas conclusões são as mais prováveis de afetar a política dos EUA.

Durante décadas, analistas da CIA e do Departamento de Defesa americano reuniram avaliações psicológicas de líderes como Ka­­dafi, Kim Jong-Il, da Coreia do Nor­­­­te, e o presidente Hugo Chá­­vez, da Venezuela – assim como de seus aliados, potenciais sucessores e outras autoridades de destaque.

Obviamente, muitos governos estrangeiros fazem o mesmo. Di­­plomatas, estrategistas militares e até mesmo presidentes usaram esses perfis para tomar decisões – em alguns casos para seu benefício, em outros para prejuízo.

Autocratas

O perfil político "talvez seja mais importante em casos onde há um líder que domina a sociedade, agindo praticamente sem restrições", diz Jerrold Post, psiquiatra que dirige o programa de psicologia política da Universidade Geor­­ge Washington e fundou o setor da CIA que conduz análises comportamentais. "E esse tem sido o caso aqui, com Kadafi e a Líbia".

Os dossiês oficiais são confidenciais, mas os métodos são bem conhecidos. Psicólogos civis de­­senvolveram muitas das técnicas, baseados principalmente em in­­formações públicas sobre dado lí­­der: discursos, declarações, fatos biográficos, comportamento ob­­servável. As previsões resultantes sugerem que a "definição de perfil a distância", como a técnica é conhecida, ainda parece mais uma arte do que uma ciência. As­­sim, numa crise como a da Líbia, é crucial conhecer os dois lados des­­sas avaliações: seu valor potencial e as limitações reais.

O primeiro registro encontrado, encomendado no início da dé­­cada de 1940 pelo Gabinete de Serviços Estratégicos, agência an­­tecessora da CIA, foi sobre Adolf Hitler; no documento, o especialista em personalidades Henry A. Murray, de Harvard, especulava livremente sobre a "infinita auto-humilhação", o "pânico homossexual" e as tendências edipianas do Führer.

Analistas ainda usam essa abor­­dagem clínica, mas agora com um embasamento muito mais sólido em fatos biográficos do que em especulações freudianas ou opi­­niões pessoais.

Num perfil de Kadafi para a revista Foreign Policy, conclui-se que o ditador, embora geralmente racional, é inclinado a pensamentos delirantes quando está sob pressão – "e neste momento ele se encontra sob a maior pressão que já sentiu desde que assumiu a liderança da Líbia".

Em seu íntimo, Kadafi enxerga a si mesmo como o último forasteiro, o guerreiro muçulmano en­­frentando probabilidades impossíveis e estaria "realmente preparado para morrer em chamas".

Caracterizações desse tipo foram inestimáveis no passado. Em preparação para as negociações de paz entre Israel e Egito, em Camp David, a CIA providenciou ao presidente Jimmy Carter perfis dos líderes de ambas as na­­ções, Menachem Begin e Anwar Sadat.

Falhas

Nos anos 90, perfis de Saddam Hussein sugeriam que ele era basicamente um pragmático que cederia sob pressão. E em 1993, a CIA teria entregado um dossiê a estrategistas alegando que o líder haitiano, Jean-Bertrand Aristide, teria um histórico de doenças mentais, incluindo psicose ma­­nía­­co-depressiva. Aristide negou fu­­riosamente, e o relatório foi rapidamente desacreditado.

Numa detalhada revisão de análises de inteligência publicada neste mês, um destacado painel de cientistas sociais concordou completamente: a definição de perfis psicológicos, assim como outros métodos usados por analistas de inteligência para prever com­­portamentos, está precisando urgentemente de testes mais rigorosos. E de novas ideias.

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