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O príncipe herdeiro e primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman
O príncipe herdeiro e primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman| Foto: EFE/Marina Guillén

Em 2016, a Arábia Saudita, uma das maiores produtoras de petróleo do mundo e também uma importante aliada dos Estados Unidos no Oriente Médio, apresentou os detalhes do seu ambicioso plano de diversificação econômica para a comunidade internacional: o Visão 2030.

Os detalhes sobre o plano foram revelados pelo príncipe herdeiro e atual primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman, com o objetivo central de reduzir a dependência do país em relação ao petróleo. O plano já está sendo colocado em marcha, e para isso, os sauditas estão fazendo uso do seu fundo soberano, estimado em cerca de US$ 620 bilhões, para investir em projetos que abrangem as áreas de tecnologia, entretenimento, energia e esporte.

Segundo as autoridades da Arábia Saudita, tais investimentos ajudarão o país a ampliar sua influência tanto na região quanto no mundo, e também irão contribuir para uma melhora dos serviços públicos e para a criação de novas fontes de emprego e renda no país.

O pilar principal desse plano está baseado no desenvolvimento de novas cidades e setores que possam atrair investimentos estrangeiros e turismo, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida para os cidadãos sauditas.

A Neom, uma cidade futurista que está sendo construída na costa do Mar Vermelho, é um dos principais projetos dentro do plano de diversificação econômica dos sauditas. A cidade promete ser um centro de inovação e sustentabilidade no Oriente Médio.

Neom significa "novo futuro" em árabe. A cidade, que teve vídeos sobre suas obras divulgados na semana passada, está sendo construída na região de Tabuk, que fica no noroeste da Arábia Saudita, perto das fronteiras do país com o Egito e a Jordânia. A ideia é que ela seja uma cidade inteligente com tecnologias de ponta, como inteligência artificial, biotecnologia, robótica e energia renovável.

A Neom abrangerá uma área de cerca de 26,5 mil quilômetros quadrados, quase o tamanho da Bélgica, e incluirá atividades culturais, de entretenimento e esportivas.

A cidade possuirá quatro regiões, cada uma com suas próprias características e atrações. A primeira região será a The Line, uma área linear de 170 quilômetros que não terá carros, ruas ou emissões de carbono, segundo as informações divulgadas.

Projeto da região de The Line. Imagem: Divulgação
Projeto da região de The Line. Imagem: Divulgação

A The Line se conectará às outras regiões costeiras e abrigará uma população de até 1 milhão de pessoas. Todos os serviços essenciais estarão a cinco minutos a pé, dizem os planejadores, e os sistemas de transporte subterrâneos serão usados para chegar a qualquer ponto em apenas 20 minutos.

A segunda região, chamada de Oxagon, será o centro econômico e administrativo da Neom. A Oxagon terá um diâmetro de 30 quilômetros e abrigará sedes de grandes empresas, instituições e organizações. Ela também terá um parque central, um lago, um estádio e um centro de convenções.

A terceira região será chamada de Trojena, e será uma reserva natural que preservará a biodiversidade e o patrimônio da Neom. Segundo as informações, a Trojena terá três zonas dentro dela: as montanhas, os vales e as ilhas. Por este motivo, ela será desenvolvida próxima de uma área montanhosa de Tabuk.

Arte mostra como ficará a região de Trojena. Imagem: Divulgação
Arte mostra como ficará a região de Trojena. Imagem: Divulgação

A região oferecerá várias atividades de ecoturismo, como trilhas, acampamentos, mergulho e observação da vida selvagem.

A quarta região será chamada de Sindalah, e vai ser construída em uma área costeira. Ela é considerada pelos planejadores como o principal destino de lazer e bem-estar da Neom. A Sindalah terá uma costa de 460 quilômetros e abrigará resorts, hotéis, spas e marinas de padrão mundial. Também terá um parque temático, um parque aquático, um aquário e um campo de golfe.

Com a Neom, as autoridades sauditas projetam que poderão acrescentar US$ 47 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) do país até 2030. Também avaliam que ela possa criar até 380 mil empregos, bem como atrair investimentos estrangeiros e talentos de todo o mundo. Os planejadores não divulgaram o valor que está sendo gasto na criação da cidade.

Outras iniciativas

Alinhados aos investimentos na Neom, o Visão 2030 ainda inclui a criação da Qiddiya - uma outra cidade que ficará localizada perto da capital Riad e será focada no entretenimento, contando também com parques temáticos, instalações esportivas e atrações culturais -, os investimentos na liga de futebol nacional, a Saudi Pro League, e a criação de uma fábrica de aeroestrutura composta, que irá produzir turbinas para uso em usinas eólicas e tubos para uso petroquímico.

“O Reino da Arábia Saudita continua a se posicionar de forma proativa como a principal oportunidade de investimento do mundo. Está claramente se tornando um destino de escolha, especialmente para empresas, à medida que o governo continua a implementar reformas e regulamentações para atrair talentos e operações físicas”, afirmou em 2022 Paul Arnold, diretor-executivo da empresa de investimento saudita Sovereign PPG, ao site Al Arabiya.

Até 2030, a Arábia Saudita também tem como objetivo alcançar 50% de sua geração de eletricidade por meio de fontes renováveis. A meta acompanha os investimentos em iniciativas renováveis chamadas de Saudi Green e Middle East Green, que visam ampliar as áreas verdes, diminuir as emissões de carbono e combater a poluição e a degradação do solo na região.

“Estamos determinados a reforçar e diversificar as capacidades da nossa economia, transformando os nossos principais pontos fortes em ferramentas facilitadoras para um futuro totalmente diversificado. Como tal, transformaremos a Aramco de uma empresa produtora de petróleo num conglomerado industrial global. Transformaremos o Fundo de Investimento Público no maior fundo soberano do mundo. Encorajaremos as nossas grandes empresas a expandirem-se além das fronteiras e a ocuparem o seu lugar de direito nos mercados globais”, disse o príncipe Mohammed bin Salman, em uma carta disponibilizada no site oficial do projeto saudita.

Alvo de críticas por seu envolvimento no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018 e pela repressão contra dissidentes e ativistas dos direitos humanos no país, o príncipe herdeiro consolidou o seu poder na Arábia Saudita em 2022, quando se tornou o primeiro-ministro do país.

É ele quem está conduzindo todo o plano de diversificação econômica do reino e foi dele que partiram as ideias de “modernização” do reino islâmico, que incluem, por exemplo, a permissão para que mulheres passassem a entrar em estádios de futebol e dirigir seu próprio carro.

Propaganda?

Apesar de todo esforço e investimento, os megaprojetos da Arábia Saudita para 2030 ainda são vistos por alguns analistas como apenas uma ferramenta de propaganda para melhorar a imagem do príncipe herdeiro e desviar a atenção dos abusos e violações que ocorrem diariamente no país.

Os sauditas ainda possuem uma interpretação rígida da lei islâmica, que impõe punições severas, como açoitamento, amputação e execução, para o adultério, apostasia, blasfêmia, homossexualidade e dissidência. A Arábia Saudita ainda restringe a maioria dos direitos das mulheres, de minorias, de migrantes e ativistas da sociedade civil.

A Arábia Saudita também é considerada como um Estado extremamente cristofóbico. O país ocupa atualmente a 13ª posição na Lista Mundial de Perseguição a cristãos da organização Portas Abertas, que descreve o local como uma “nação islâmica altamente conservadora” onde “outras religiões não podem ser praticadas abertamente”.

“A maioria dos cristãos na Arábia Saudita são trabalhadores migrantes da Ásia e da África. Eles são muitas vezes explorados e mal pagos e enfrentam discriminação por causa de sua etnia e por causa de sua fé cristã. Também há cristãos de outras partes do mundo. Cristãos estrangeiros são severamente restringidos de compartilhar a fé cristã e se reunir para cultos públicos. Aqueles que fazem isso correm risco de detenção e deportação”, diz a organização em seu site.

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