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Pesquisa

Cientistas afirmam ter encontrado a “partícula de Deus"

Comprovação da existência do bóson de Higgs, responsável por dar massa à matéria, coroa meio século de trabalho

Gráfico distribuído pelo Cern, a organização europeia para pesquisa nuclear, representa uma colisão próton-próton realizada pelo LHC, maior acelerador de partículas do mundo | Cern/AFP
Gráfico distribuído pelo Cern, a organização europeia para pesquisa nuclear, representa uma colisão próton-próton realizada pelo LHC, maior acelerador de partículas do mundo (Foto: Cern/AFP)

Após anos de espera, imprevistos, problemas técnicos e muito suor, os físicos do LHC, maior acelerador de partículas do mundo, anunciaram ontem a descoberta de uma nova partícula.

E eles acreditam que ela seja o bóson de Higgs, mais conhecido como a "partícula de Deus" – responsável por dar massa à matéria e, portanto, pela própria existência de estrelas, planetas e pessoas como os conhecemos.

Modelo Padrão

Caso isso seja confirmado, será o coroamento da teoria científica mais bem-sucedida de todos os tempos – o chamado Modelo Padrão, que explica como se comportam todos os componentes e todas as forças existentes na natureza, salvo a gravidade.

Contudo, cabe atenção para a formulação cuidadosa das afirmações dos pesquisadores. Em seu último relatório, no fim do ano passado, eles já sugeriam ter encontrado algo, mas não descartavam um alarme falso.

Agora, eles já cravam categoricamente a existência da nova partícula. Só não admitem com todas as letras que se trata da almejada "partícula de Deus".

"Embora os eventos [de colisões de partículas] sugiram que estamos mesmo diante do bóson de Higgs, a confirmação de que se trata realmente da partícula predita requer mais medidas comparativas", diz Sérgio Novaes, físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Ele é membro da Colabora­­ção CMS, um dos dois experimentos do LHC que servem de base para o anúncio.

"Apenas o começo"

A descoberta do Higgs há anos é apresentada como a principal motivação para a construção do LHC. Agora que a partícula provavelmente foi encontrada, pode ficar para o público uma sensação de vazio. Mas não parece ser o que os físicos sentem.

"Primeiro, há um equívoco em associar o LHC só ao bóson de Higgs", afirma Ronald Shellard, físico de partículas do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e vice-presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física).

"Todos concordamos que o bóson de Higgs não vale US$ 10 bilhões. O LHC foi concebido para explorar o Universo além do Modelo Padrão. A descoberta coroa o maior feito intelectual da história da humanidade até agora, uma teo­­ria que explica uma infinidade de fenômenos naturais. Mas, para o LHC, ela é apenas o começo."

Descoberta ajuda a explicar as nossas origens, dizem filósofos

AFP

A descoberta do que seria o bóson de Higgs não terá tanto impacto quanto a revolução de Galileu – com a lei dos corpos, o princípio da inércia, o reforço do heliocentrismo e outras decobertas – sobre o pensamento humano, mas ajuda­­rá a explicar a questão das origens, de acordo com os filósofos Hubert Reeves, do Centro Nacional de Pesqui­sa Científica, e Jacques Ar­­nould, do Centro National de Estudos Espaciais, ambas instituições francesas.

"A nova descoberta é um elemento adicional para a compreensão do que seria a origem da nossa realidade contemporânea, o universo em sua composição atual e sua história. E isso é enorme!", diz Arnould.

"Foi assim que se construiu a pesquisa de Galileu, com investigação e questionamento", acrescenta, ao ressaltar que "Galileu ficou conhecido por mudar a ideia ocidental que se tinha do mundo".

Para Reeves, "a descoberta do famoso bóson, se confirmada, não modificará realmente a nossa compreensão do mundo. Ela confirma o que já temos de conhecimento, e isso já é muito".

Arnould observa que "sur­­preendentemente, a ca­­da­­ vez que nos são dados al­­guns­­ elementos da realidade observada e os meios utilizados, tomamos consciência da complexidade da realidade e do compromisso humano para saber o que somos e­­ de onde viemos, e ficamos ma­­ravilhados".

"Nós não estamos nem mais perto nem mais longe­­ de Deus do que ontem. Esta­­mos em tempos extraordinários em termos de construção de um conhecimento coletivo sobre o que nos constitui, em que pela primeira vez não fazemos guerra. O conhecimento não pode impor nada a qualquer crença pessoal e vice-versa, senão chegamos à mistura da qual Galileu é um triste exemplo", conclui Arnould.

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