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Por ser árida e inóspita, a região de Cuatro Ciénegas, no deserto mexicano, se aproxima do ambiente que os cientistas acreditam existir em Marte, de temperaturas muito altas | The New York Times
Por ser árida e inóspita, a região de Cuatro Ciénegas, no deserto mexicano, se aproxima do ambiente que os cientistas acreditam existir em Marte, de temperaturas muito altas| Foto: The New York Times

Vantagens

Exploração espacial recua, dando força às pesquisas na Terra

Sobre a questão da água de Cuatro Ciénegas, as autoridades mexicanas estão tentando encontrar uma solução que possa satisfazer tanto os pesquisadores quanto os proprietários de terras, acalmando um convívio conturbado.

O governo designou o vale como área protegida em 1994. Porém, foi apenas em 2007 que o presidente Felipe Calderón deu os primeiros passos para limitar a extração de água na região. Ele deve assinar uma proibição mais ampla nos próximos meses.

No momento, marcadores do nível da água se projetam do chão como grampos de cabelo por todo o vale, deixados ali por cientistas que acompanham mudanças no tamanho de algumas das piscinas.

Segundo cientistas que trabalham em Cuatro Ciénegas, com os cortes orçamentários da exploração espacial – o que provavelmente significa menos espaçonaves indo a Marte nos próximos anos –, a pesquisa na Terra ganha importância.

"Se soubermos o que procurar com base em nosso estudo de Cuatro Ciénegas, nossas missões de Marte estarão mais bem preparadas para identificar sinais de vida", garantiu Sherry L. Cady, editora-chefe da revista Astrobiology, que planeja uma edição dedicada a Cuatro Ciénegas para este ano.

Furacão

A região de Cuatro Ciénegas é propensa a mudanças climáticas extremas – um furacão inundou o vale em 2010 –, mas especialistas concordam que o ano passado definiu um recorde de baixa no nível da água.

"O ecossistema perdeu sua capacidade de resistência", afirmou Souza.

"Ele está bastante danificado agora."

É cedo para dizer quanto se perdeu, mas o sistema pode já ter entrado em colapso.

  • Amostras colhidas por pesquisadores em Chihuahua

Estudar Marte envolve quase sempre levantar a cabeça na direção do céu. Mas não no Deserto de Chihuahua, onde as planícies são tão inóspitas – e tão parecidas com o território marciano – que basta aos cientistas olhar para o chão.

Região árida e inóspita ao extremo, Cuatro Ciénegas é habitada por organismos capazes de sobreviver com poucos nutrientes, alta salinidade, temperaturas excepcionalmente altas e muita radiação ultravioleta. Cientistas dizem que tal ambiente lembra Marte bilhões de anos atrás. As dunas de gesso do vale, ofuscantemente brancas sob o sol da tarde, não são diferentes das atuais crateras de Marte, onde o veículo lunar Curiosity, da Nasa, a agência espacial americana, deve pousar em agosto.

Em maio, uma equipe de pesquisadores realizou uma caravana de veículos off-road e dirigiu durante horas através do vale, no estado mexicano de Coahuila, ao norte. Eles procuravam pelos bolsões de água que podem abrigar seu objeto de estudo: micróbios, bactérias e peixes que sobreviveram num ambiente similar ao que os cientistas afirmam ter existido em Marte.

De uma hora para outra, como uma miragem no deserto, um arquipélago de lagoas dispersas brotou do solo. Algumas tinham água azul celeste, acenando para o grupo; outras eram malcheirosas e enlameadas. Algumas eram do tamanho de piscinas olímpicas; outras não eram maiores do que poças de rua.

Estruturas parecidas com couves-flores preenchiam diversas dessas antigas lagoas. Esses fósseis chamam-se estromatólitos, vestígios dos primeiros micróbios da Terra, e podem oferecer um vislumbre de como a vida teria surgido em Marte quando o planeta era mais quente e úmido.

"Se compreendermos as origens desses ecossistemas, podemos extrapolá-los e desenvolvê-los em outros planetas", explicou German Bo­­nilla, estudante de doutorado da Universidade Nacional Autônoma do México, enquanto segurava as pernas de um colega que se inclinava sobre uma piscina para coletar amostras.

Assim como a água em Marte acabou definhando, a água em Cuatro Ciénegas, que segundo alguns cientistas possui uma diversidade biológica que rivaliza com a das Ilhas Galápagos, está ameaçada.

Especialistas e ativistas trabalhando no local afirmam que os agricultores, criadores e outros proprietários de terras da região, ajudados por uma falta de supervisão governamental, possuem acesso livre às águas de Cuatro Ciénegas – que são internacionalmente reconhecidas como zonas úmidas de grande importância.

"O problema é que eles não têm como mensurar quanta água é extraída", declarou­­ Arturo Contreras, diretor do­­ Centro de Investigação Cien­­tífica de Cuatro Ciénegas, es­­tação de pesquisa afiliada­­ à Universidade do Texas. "Acre­­ditamos que a maioria retira mais água do que deveria."

Evan Carson, biólogo da Universidade do New México, tinha um ar abatido enquanto caminhava entre arbustos esparsos, carregando uma rede de pesca. Carson estuda a recuperação de peixes aqui, mas não teve muito para inspecionar.

"Costumávamos nadar aqui", contou Valeria Souza, cientista da Universidade Na­­cional Autônoma do México, enquanto caminhava por um campo de gesso com rachaduras cobrindo o solo como cicatrizes.

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