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Saúde

Cientistas estudam medicamento que poderia apagar traumas da memória

Um medicamento que costuma ser usado para o tratamento de hipertensão pode estar por trás de uma significativa mudança no tratamento de distúrbio de estresse pós-traumático. O propranolol, cujo efeito sobre a adrenalina o fez conhecido entre atores com medo de subir no palco, poderia amenizar a dor não só de um trauma recente, como os que estão armazenados na memória há anos, noticiou a rede americana ABC News. As pesquisas estão em seu estágio inicial, mas são promissoras.

Os cientistas esperam que a combinação de medicamento e tratamento com psiquiatra faça com que, aos poucos, o paciente esqueça o trauma. Mas, com o avanço das pesquisas, vêm as preocupações éticas. O que faz a personalidade de uma pessoa não são as memórias das experiências vividas? Então a adoção da terapia poderia interferir no que define um indivíduo?

A idéia de utilizar a droga já existente para apagar traumas antigos agradou a chefe do setor de psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio, Fátima Vasconcelos. Segundo ela, há muitos pesquisadores no mundo que tentam descobrir uma substância que amenizaria o distúrbio de estresse pós-traumático.

Para ela, o estudo ou o início da utilização da substância não são antiéticos.

- Isso é muito importante. Procuram-se hoje substâncias que possam atuar para apagar o evento traumático que causa sofrimento - disse ela.

A psiquiatra afirma que apagar a memória de alguns pacientes não afetará a personalidade.

- Podemos comparar com assaltos. Algumas pessoas que passaram por um ou mesmo assistiram a um desenvolvem o distúrbio e não conseguem viver mais. Elas acordam molhadas de suor, sabem que não estão sendo assaltadas, mas estão sofrendo tanto ou mais do que no momento do assalto. Elas ficam lembrando o fato o tempo todo.

No Brasil, ainda não existem tratamentos significativos para o distúrbio.

- Procuramos tratar através de antidepressivos, como o topiramato, terapia e da realidade virtual, onde o paciente passa pelo mesmo problema progressivamente e vai percebendo que aquilo não vai afeta-lo mais.

De acordo com os pesquisadores, a idéia é rearmazenar as informações com a ajuda da droga. O psicólogo da Universidade de Nova York Joseph LeDoux disse que o medicamento fez efeito em estudos feitos com ratos recentemente.

"Acreditamos que a memória é vulnerável. Podemos melhorá-la ou enfraquecê-la. O principal é que estamos tentando entender como isso tudo funciona e não criar um novo medicamento", afirmou o psicólogo à emissora.

"Isso tudo é muito preliminar. Nós ainda estamos começando", disse o psiquiatra Roger Pitman, da Escola de Medicina de Harvard.

Soldados americanos que regressaram com traumas da Guerra do Iraque e outros conflitos militares poderão ser alguns dos beneficiados caso o tratamento seja aprovado. O Exército americano estima que um em cada oito soldados que voltaram do Iraque sofre de distúrbio de estresse pós-traumático. Os sintomas são flashes de memória, pesadelos, irritabilidade, problemas com a concentração e sono.

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