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Os corpos entrelaçados significam a relação em vida | Divulgação / PNAS
Os corpos entrelaçados significam a relação em vida| Foto: Divulgação / PNAS
  • Os mesmos parentes face a face

Teste de paternidade é corriqueiro. Ele transforma a formação das famílias provando que os filhos são - ou não - dos pais indicados pelas mães. Agora, os cientistas encontraram uma forma de desvendar o passado por meio da análise genética. Usando exames de DNA, mostraram como eram as relações familiares na Idade da Pedra. A pesquisa foi publicada na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nesta semana. Em 2005, quatro covas foram descobertas perto da cidade de Eaulau, no centro leste da Alemanha. As sepulturas de 4.600 anos continham grupos de adultos e crianças face a face sepultados simultaneamente. Wolfgang Haak, do Instituto de Antropologia da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz, na Alemanha, e seus colegas utilizando o DNA perceberam que os filhos foram enterrados com seus respectivos pais.

"A biologia molecular acaba confirmando o que os pesquisadores já sabiam", disse o paleontólogo Reinaldo Bertini, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Graças a esse avanço da genética, a datação de idade pelo processo chamado radiocarbono, estudo químico dos dentes e a uma equipe multidisciplinar - composta por arqueólogos, antropólogos e geoquímicos - os cientistas descobriram com detalhes como as quatro famílias eram compostas. Também que foram mortas de forma violenta.

Uma das quatro covas recebeu a mãe (com idade entre 35 e 50 anos), o pai (entre 35 e 50), uma criança com cerca de nove anos e outra com quatro ou cinco. A disposição dos mortos parece espelhar as suas relações durante a vida. Os braços e as mãos foram posicionados de forma que se interligam.

História

Na Idade da Pedra, a região da cidade alemã era disputada por um povo - que habitava o norte da Europa - da cultura intitulada "Corded Ware". Certo dia, invasores realizaram no local um ataque surpresa com pedras e flechas. As famílias tentaram se defender com socos, mas a briga resultou na morte de 13 indivíduos. Provavelmente, 85% dos mortos eram crianças e mulheres.

Após a luta, os sobreviventes jovens que conseguiram fugir regressaram para enterrar seus mortos em covas diferentes de acordo com os núcleos familiares. Como era de costume, amassaram ossos de animais para oferecer como alimento aos mortos. Por fim, colocaram artefatos nas sepulturas: pedras ao lado de homens e meninos e pedras e adornos de dente de animais junto às mulheres e meninas. Os enterros foram realizados em um grande cemitério.

Além dessas conclusões, os pesquisadores acreditam que os casamentos entre essas pessoas eram exogâmicos e patrilocal. Respectivamente, realizados entre tribos ou famílias diferentes e quando a mulher deve seguir o marido. Também, que o parentesco genético é um ponto central de organização social.

"Nós temos provas da situação atual. E, atualmente, possuímos evidências daquilo que deveria ter acontecido na região em particular há 4.600 anos atrás", diz Haak. "Nossos próximos passos incluem análise semelhante de restos humanos antigos disponíveis de todo o mundo", completa.

Curiosidades

Durante a Idade da Pedra, possivelmente havia uma alta densidade populacional na área dos rios Elba e Saale, próximos ao local estudado. Afinal, o lugar era propício para a agricultura. Como o povo da cultura "Corded Ware" era sedentário - plantava, colhia e caçava no mesmo lugar - poderia ter se estabelecido por lá. Ou o local era de trânsito, o que gerava conflitos entre grupos.

Outra cova contém uma mulher, um bebê e duas crianças. Na terceira, um homem adulto e duas crianças de até seis anos de idade. Na quarta, uma mulher e uma criança de cerca de cinco anos. As sepulturas deveriam ter pequenos montes em cima delas que hoje são irreconhecíveis devido aos séculos de atividade agrícola.

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