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Biologia

Cientistas perto de criar vida sintética

Pesquisadores usam recursos da genética moderna para tentar ultrapassar barreiras e dar vida a elementos químicos em um tubo de ensaio

 | Robson Vilalba/Gazeta do Povo
(Foto: Robson Vilalba/Gazeta do Povo)

San Diego - Em um laboratório empoleirado na borda do continente, pesquisadores de San Diego, na Ca­­lifórnia, estão tentando construir a vida como nós não co­­nhecemos em um dedal de lí­­quido.

Gerações de cientistas, crian­­ças e fãs de ficção científica cresceram presumindo que o primeiro encontro da humanidade com a vida alienígena iria ocorrer em uma duna vermelha em Marte ou por meio de um enigmático sinal de rádio, vindo de alguma estrela obscura.

Mas, isso poderia acontecer aqui mesmo na Terra, e logo, segundo alguns químicos e biólogos que estão usando os re­­cursos da genética moderna, para tentar gerar a faísca que irá ultrapassar a barreira que se­­para o inanimado do animado. O dia está chegando, dizem eles, quando os elementos químicos em um tubo de ensaio irão ganhar vida.

Barreira

Para algumas pessoas, Gerald F. Joyce, um professor do instituto de pesquisas Scripps, já teria ultrapassado essa barreira, embora ele seja o primeiro a dizer que não – ainda não.

Os biólogos não concordam sobre qual deveria ser a definição de "vida", ou mesmo se se­­ria útil existir tal definição. Mas a maioria concorda que a capacidade de evoluir e se adaptar é fundamental para a vida. E também concordam que ter-se uma segunda amostra de vida poderia fornecer uma compreensão sobre como ela começa, seu grau ou não de importância para o universo e também uma indicação sobre como reconhecer a vida, se e quando nós es­­bar­­rarmos com ela em algum lugar das estrelas.

"Tudo o que nós sabemos sobre a vida é baseado em estudos sobre a vida na Terra", diz Chris McKay, pesquisador do Laboratório de Pesquisas Ames da Nasa, em Mountain View, na Califórnia.

Joyce disse recentemente: "Fico louco quando os astrônomos dizem: ‘Certamente o universo possui vida’. Se nós temos um planeta parecido com a Terra, quais são as chances de ele possuir vida? Uma em 1 milhão? Uma em 2 milhões? Não vejo como al­­guém possa dizer".

Ele continuou, "Se você ti­­vesse uma segunda amostra de vida, mesmo que fosse sintética, poderia saber melhor. Estou apostando que vamos conseguir".

Molécula

Quatro anos atrás, Joyce e a es­­tudante de graduação Tracey A. Lincoln, agora pesquisadora da Escola de Medicina da Univer­­sidade de Massachusetts, de­­senvolveram em um tubo de en­­saio uma molécula que podia multiplicar-se e evoluir por si própria, trocando pequenos genes mal construídos no tubo de ensaio repetitivamente, en­­quanto continuasse a ser alimentada pelos ingredientes cor­­retos cuidadosamente de­­senvolvidos.

Na Terra, toda a vida como a conhecemos baseia-se no DNA, a molécula baseada em carbono que contém as instruções para construir e operar células vivas, em um alfabeto de quatro letras distribuído em seu espiral de hélice dupla.

Voo

As possibilidades para uma segunda amostra de vida voam tão longe quanto a imaginação pode voar. Ela poderia ser baseada em DNA que use um código ge­­nético diferente, contendo talvez um número maior ou menor do que quatro letras; poderia ser baseada em al­­guma molécula complexa que não fosse o DNA, em mais do que os 20 aminoácidos dos quais são feitas as nossas próprias proteínas ou até mesmo algum tipo de produto químico, baseado em qualquer outra coisa que não seja o carbono e os outros elementos que nós desconsideramos, como o fósforo ou o ferro. Outros perguntam-se se a própria química seria necessária.

As moléculas de Joyce podem ainda não ser inteligentes o suficiente para qualificarem-se como formas de vida, em seu ponto de vista, mas todos os tipos de alternativas estão sendo exploradas em outros laboratórios.

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