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Peritos no local onde ocorreu a explosão que matou Darya Dugina, filha do filósofo Alexander Dugin, na região de Moscou no último sábado
Peritos no local onde ocorreu a explosão que matou Darya Dugina, filha do filósofo Alexander Dugin, na região de Moscou no último sábado| Foto: EFE/EPA/Comitê Investigativo Russo

O fato mais comentado a respeito da guerra da Ucrânia desde o fim de semana é a morte de Darya Dugina, filha do filósofo Alexander Dugin, considerado o “guru” do presidente russo, Vladimir Putin.

Dugin prega uma visão nacionalista, de oposição ao Ocidente, e se tornou mais conhecido depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro deste ano, uma agressão que para muitos ecoa a visão do filósofo para o futuro russo: a construção de um império para se contrapor política, econômica, militar e culturalmente à influência dos Estados Unidos.

Confira os pontos mais importantes sobre a morte de Darya Dugina:

Quem era Darya Dugina?

Darya Dugina, de 29 anos, estudou filosofia na Universidade Estatal de Moscou e era editora-chefe do site United World International, no qual defendia as visões nacionalistas do pai e de Putin.

Em março deste ano, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sancionou Dugina devido a um artigo que dizia que a Ucrânia “pereceria” se tivesse sua entrada admitida na OTAN, a aliança militar do Ocidente. Ela classificou o massacre na cidade ucraniana de Bucha, descoberto após a retirada russa no final de março, como “propaganda americana”.

O próprio Alexander Dugin foi sancionado pelos Estados Unidos em 2015, por seu apoio e de seus seguidores às agressões russas contra a integridade territorial da Ucrânia – no ano anterior, a Rússia anexou a península da Crimeia e separatistas pró-russos declararam duas repúblicas independentes no leste ucraniano, nas regiões de Donetsk e Luhansk.

Como foi a morte?

Darya Dugina morreu na explosão do Toyota Land Cruiser Prado que conduzia perto da vila de Bolshiye Vyazemy, na região de Moscou, no sábado (20).

Ela retornava de um evento em que havia sido “convidada de honra” – agências de notícias do Ocidente informaram que se tratou de um evento político, enquanto a imprensa russa informou que foi um festival literário e musical.

Uma pessoa próxima da família disse à agência russa Tass que acredita que Alexander Dugin era o alvo do ataque, pois o carro pertencia ao pai de Darya.

O que diz a Rússia?

Segundo informações da Tass, o FSB, serviço federal de segurança, apontou nesta segunda-feira (22) que Dugina foi vítima de um atentado dos serviços secretos ucranianos.

O FSB informou que a autora do ataque foi uma ucraniana identificada como Natalia Vovk, que após a explosão teria fugido para a Estônia. De acordo com as informações prestadas pelo serviço de segurança à Tass, Vovk teria chegado à Rússia em 23 de julho, acompanhada da filha de 12 anos.

Ambas teriam ido ao festival em que Dugina esteve presente como convidada de honra, e o explosivo que matou a russa teria sido ativado por controle remoto.

Segundo o FSB, Vovk havia alugado um apartamento em Moscou no mesmo prédio onde Dugina morava e a seguiu pela cidade em um Mini Cooper. Da chegada à Rússia até a suposta fuga para a Estônia, o veículo teria ostentado três placas diferentes: uma da República Popular de Donetsk, outra do Cazaquistão e por último uma ucraniana.

O que diz a Ucrânia?

O governo ucraniano negou qualquer responsabilidade pela morte de Darya Dugina. Andriy Yusov, porta-voz da Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa da Ucrânia, disse em comunicado que as acusações russas de envolvimento de Kyiv são “falsas”.

“Essa morte parece mais um acerto de contas dentro da Rússia. Tanto Dugin quanto sua filha são personagens marginais e não são um ponto de interesse para a Ucrânia”, alegou Yusov.

Esse episódio pode acirrar ainda mais a guerra?

Como descrito acima, a morte de Darya Dugina abre um novo capítulo na guerra de narrativas entre ucranianos e russos – resta saber se o episódio tem potencial para provocar uma escalada no conflito.

O analista militar Alessandro Visacro acredita que, em si, o fato não deve acirrar a guerra iniciada em fevereiro. “Uma consideração importante que precisa ser feita é que o Dugin já não tinha mais essa influência como ideólogo sobre o Putin, esse papel, essa relevância como grande ideólogo desse novo eslavismo, dessa postura antiocidental, ele já tinha perdido essa proeminência há alguns anos”, argumentou.

“Os fatores objetivos mais importantes é que podem contribuir para uma verdadeira escalada no conflito, e a ausência de uma vitória estratégica tangível por parte da Rússia é o que considero mais importante”, apontou Visacro. “Um evento como esse [a morte de Dugina] serve mais para alimentar a propaganda de guerra, não tem potencial para alterar o rumo do conflito.”

O analista militar destacou que, justamente pela troca de acusações comum em cenários de guerra, a verdade sobre a morte de Dugina não deve ser conhecida tão cedo.

“Esse é o tipo de evento que, pela natureza dele, deve permanecer no limbo da história por muito tempo, porque vai ocorrer troca de acusações, vão aparecer evidências questionáveis de um lado e do outro, isso é mais útil para ser instrumentalizado pelas diferentes narrativas do conflito. Possivelmente só lá na frente vamos ter um verdadeiro esclarecimento dos fatos”, justificou Visacro.

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