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O ditador da China, Xi Jinping, não comparecerá à cúpula do G20, que ocorre poucos dias após o anúncio de que mais seis países ingressarão nos Brics
O ditador da China, Xi Jinping, não comparecerá à cúpula do G20, que ocorre poucos dias após o anúncio de que mais seis países ingressarão nos Brics| Foto: EFE/André Coelho

Neste sábado (9) e domingo (10), Nova Délhi, capital da Índia, recebe a cúpula de 2023 do G20, o grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, encontro ofuscado por outro recente.

A cúpula mais recente dos Brics, realizada no final de agosto em Joanesburgo, surpreendeu o mundo com o anúncio de que o grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul deverá, a partir do início de 2024, abranger mais seis membros: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.

Ao mesmo tempo em que essa ampliação coloca os Brics em evidência, o G20 parece estar em crise. Além da falta de acordos sobre comunicados finais em reuniões ministeriais do G20 durante a presidência da Índia este ano, um anúncio de última hora parece ter esvaziado ainda mais o evento em Nova Délhi.

A China indicou que o ditador Xi Jinping não vai participar da cúpula – Pequim será representada pelo primeiro-ministro do Conselho de Estado, Li Qiang. Esta será a primeira vez que Xi não participa da cúpula do G20 desde que chegou ao poder, na virada de 2012 para 2013. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que alegou problemas de agenda, também não vai participar.

As disputas fronteiriças entre China e Índia podem ter pesado na decisão de Xi de não ir a Nova Délhi, mas essa atitude, poucos dias após a expansão dos Brics, um processo capitaneado por Pequim, parece indicar uma questão mais profunda.

Embora líderes dos Brics, como o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e Putin, tenham alegado que o bloco de economias emergentes não tem a intenção de se contrapor ao G7, o grupo dos países mais desenvolvidos do mundo, muitos analistas enxergam o contrário.

O próprio Putin se contradisse sobre a questão, ao enfatizar durante o fórum econômico dos Brics que o bloco, ainda sem o acréscimo dos novos membros, já supera o PIB somado dos países do G7 em paridade de poder de compra.

“A ausência de Xi pode ser a tentativa de Pequim de colocar um prego no caixão do G20, apenas algumas semanas depois de expandir os Brics, que estão mais alinhados com a visão de mundo da China”, disse David Boling, diretor da empresa de consultoria Eurasia Group, à agência Reuters.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Wen-ti Sung, especialista em China e cientista político na Universidade Nacional Australiana, corroborou essa teoria.

“O fato de Xi se ausentar da cúpula do G20, um clube com forte presença do Ocidente, logo após participar da cúpula dos Brics, pode ser uma ilustração visual da narrativa dele de que o Oriente está em ascensão e o Ocidente está decaindo”, afirmou.

Entretanto, nem todos os especialistas concordam com esse ponto de vista. Em entrevista à Gazeta do Povo, Clayton Pegoraro, professor do Mestrado em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), apontou que as ausências de Xi e Putin podem ser “movimentos intencionais para [apenas] tentar esfriar os ânimos” com o Ocidente.

“Se o Putin fosse, a pergunta seria: ‘E a guerra [na Ucrânia]?’ Ele não quer se desgastar perante o G20 e a opinião pública mundial. E à China, sempre no centro da questão da ‘guerra comercial’, seria perguntado: ‘Qual a posição de Pequim sobre o comércio mundial? Sobre o crescimento ou não do PIB chinês?’. Então, [eles vão se ausentar] para não expor esses questionamentos no G20”, disse Pegoraro.

O professor argumentou que a dificuldade de obter consensos e avanços no G20, num momento de fortalecimento dos Brics, pode dar a impressão de esvaziamento do primeiro grupo, mas eles não são antagônicos.

“São discussões independentes. Essa impressão de esvaziamento é porque os países estão discutindo [disputas] nos foros mais apropriados. G20, G7, Brics são reuniões de países para discutir comércio, então você tem foros mais apropriados, a OEA [Organização dos Estados Americanos], a OMC [Organização Mundial do Comércio], o Mercosul, para esse tipo de discussão. Eu não vejo como esvaziamento, vejo como [organismos] complementares”, afirmou Pegoraro.

Entretanto, em artigo para o site britânico UnHerd, o economista Philip Pilkington apontou que “o fato de um [Brics] estar se expandindo enquanto o outro [G20] está se desgastando diz muito”.

“A decisão de Xi Jinping de não participar da cúpula mostra que as potências não-ocidentais estão perdendo o interesse naquilo que consideram instituições hegemônicas, nas quais são forçadas a desempenhar um papel secundário. Outras divisões no G20 podem fazer os Brics parecer ainda mais atraentes”, disse Pilkington.

O tom do comunicado final ou a falta de acordo sobre um ao final da cúpula, no domingo, pode indicar para onde a dinâmica G20/G7/Brics deve rumar nos próximos anos.

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