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Cocaína e suborno: como Maduro mantém o alto escalão militar na linha

O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, cercado de oficiais militares de alto escalão, em pronunciamento transmitido na quinta (24), em que declaram lealdade a Maduro | Carlos Becerra / Bloomberg
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, cercado de oficiais militares de alto escalão, em pronunciamento transmitido na quinta (24), em que declaram lealdade a Maduro (Foto: Carlos Becerra / Bloomberg)

Vladimir Padrino é o ministro da Defesa da Venezuela. Gerardo Rangel é um dos mais importantes generais do exército. Nestor Reverol é um ex-comandante da Guarda Nacional que supervisiona o Ministério do Interior e da Justiça. 

Eles também são, segundo o Tesouro dos EUA, traficantes de drogas e participantes de esquemas de corrupção que operam dentro do empreendimento criminoso que é o regime de Nicolás Maduro. 

Lavagem de dinheiro, fraude, mineração ilegal e outros supostamente formam o alicerce deste negócio, que é os críticos afirmam estar no centro do poderoso vínculo entre os militares e Maduro. O entendimento claro, como coloca Diego Moya-Ocampos, analista da IHS Markit, é que "se Maduro cai, eles caem". 

É por isso que Juan Guaidó, o líder da Assembleia Nacional que declarou ser agora o presidente legítimo do país, enfrenta uma árdua batalha na tentativa de conseguir com que o alto escalão militar se volte contra o seu comandante-chefe. 

Em cada momento crucial da decadência para o autoritarismo na Venezuela na última década, os militares estiveram ao lado dos governantes, Maduro e seu mentor Hugo Chávez antes dele. 

"Maduro lidera um governo militar e o alto comando faz parte do governo", disse Moya-Ocampos. "Seria extremamente ingênuo pensar que eles farão algo diferente". 

Guaidó tem intensamente pressionado soldados e generais a reconhecê-lo como presidente, algo que o Brasil, os EUA e uma série de outros governos estrangeiros fizeram esta semana. Por mais difícil que seja para a nova face de uma oposição revigorada, ele precisa fazer isso para ter sucesso em sua tentativa de derrubar Maduro. As Forças Armadas Nacionais são possivelmente a base eleitoral mais importante do país devastado pela crise. 

Até agora, Guaidó e seus compatriotas na Assembleia Nacional fizeram essa oferta: anistia por supostos abusos de direitos humanos e corrupção para qualquer membro que desertar. 

Isso, disse Moya-Ocampos, "pode servir para o médio ou o baixo escalão. Mas os altos escalões não acham isso suficiente". 

Maduro simplesmente deu a eles muitos prêmios lucrativos, o que os EUA alegam ter permitido que eles acumulassem enormes fortunas. Os altos escalões controlam os portos, têm contratos para centenas de projetos de habitação social e valiosas concessões de mineração e de serviços petrolíferos e controlam a joia da coroa da Venezuela, a Petróleos de Venezuela. 

Mesmo neste estágio complicado do declínio devastador do país, seria surpreendente se a maioria dos líderes militares não continuasse apoiando o regime, disse o historiador Tomas Straka, professor da Universidade Católica Andres Bello, em Caracas. "Os interesses econômicos e a visão deles estão completamente unidos com os de Maduro." 

Esses interesses, na opinião dos EUA, são ilícitos e danosos. Nikki Haley, a embaixadora dos EUA na ONU, chamou a Venezuela de "Narco-Estado criminoso que está roubando tudo do povo venezuelano". 

Desde 2015, os EUA sancionaram mais de uma dúzia de antigos e atuais oficiais de segurança de alto escalão por acusações de corrupção, tráfico de cocaína e abusos dos direitos humanos por seus alegados papéis na repressão de dissidências durante protestos contra o governo. 

Maduro condenou as sanções dos EUA como infundadas, resultado de acusações fabricadas. 

Ele ainda pode reunir apoio. Um dia depois de Guaidó se proclamar o legítimo presidente diante de uma multidão de apoiadores em Caracas, Padrino, o ministro da Defesa, e oito comandantes regionais foram à televisão para jurar lealdade a Maduro. Um por um, eles prometeram lealdade e denunciaram um "golpe" de Guaidó. As forças armadas "juraram morrer pela pátria" e rejeitaram um "governo imposto", disse Padrino, da principal base militar de Caracas. 

Maduro declarou vitória para o seu lado. "As forças armadas da Venezuela falaram e estão com a constituição e com o povo", disse ele em discurso. "A voz do exército é firme e clara." 

Mas enquanto os generais e almirantes podem estar protegidos da miséria da vida cotidiana em um país cuja economia foi quebrada pelo governo socialista ao estilo de Maduro, aqueles que estão mais abaixo na cadeia de comando estão em dificuldades. Eles dependem apenas de seus salários muitas vezes escassos – para alguns, tão pouco quanto o salário mínimo, cerca de US$ 10 por mês. Eles têm que lidar com a escassez de alimentos e medicamentos, com apagões, com torneiras de água que secam. 

Certamente, a dissensão tem surgido nas forças armadas desde antes do mandato de Maduro. Em 2002, Chávez foi brevemente destituído em um golpe fracassado de alguns soldados; mas foi reintegrado por fiéis menos de 48 horas depois. 

Mas, recentemente, houve relatos de aumentos nas deserções e aposentadorias precoces. O governo agiu contra algumas tropas dissidentes, que acusou de conspirar contra o regime. Segundo a Coalizão pelos Direitos Humanos e Democracia, um grupo jurídico de Caracas, 163 membros das forças armadas estão atrás das grades por razões políticas. 

Na segunda-feira, duas dúzias de soldados da Guardas Nacional invadiram postos avançados em Caracas, roubaram armas e mantiveram outros soldados detidos para depois se reunirem em um forte perto do centro da cidade. Vídeos postados nas redes sociais mostram os guardas discutindo com seus reféns sobre por que eles não dariam as costas para Maduro dado o estado do país, enquanto outros pediram que os civis se levantassem. 

"Vocês não queriam que os militares fossem para as ruas e acendessem o pavio?", questionou um guarda que se identificou como sargento Luis Bandres em um vídeo. "Estamos acendendo aqui". 

Até o momento, Guaidó forneceu poucos detalhes sobre seus planos de anistia. Ele disse que vai "entregar" a medida adotada pela Assembleia Nacional, mas não especificou onde ou como. 

Enquanto isso, ele continuou a fazer lobby. O legislador de 35 anos, cujos avôs serviram na Marinha e na Guarda Nacional, disse aos militares que "vocês têm o meu respeito, porque eu sei como vocês vivem", em um vídeo gravado esta semana. "Não estamos pedindo que vocês façam um golpe de estado, em vez disso, pedimos que defendam o direito das pessoas de serem ouvidas e livres."

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