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O presidente dos Emirados Árabes Unidos, sheik Mohammed bin Zayed Al Nahyan, em visita à Turquia em 2021
O presidente dos Emirados Árabes Unidos, sheik Mohammed bin Zayed Al Nahyan, em visita à Turquia em 2021| Foto: EFE/EPA/STRINGER

No final de fevereiro, uma notícia inusitada chamou a atenção no mundo islâmico: os Emirados Árabes Unidos anunciaram que vão financiar a construção de uma cidade, Ras al Hikma, na costa egípcia do Mar Mediterrâneo, entre a cidade de El Alamein e a fronteira com a Líbia.

O acordo prevê um pagamento inicial no valor de US$ 35 bilhões, que já está sendo feito ao Cairo. Segundo informações da agência EFE, o projeto, do fundo soberano emiradense ADQ, deve somar ao todo US$ 150 bilhões.

O primeiro-ministro do Egito, Mustafá Madbuli, afirmou que em Ras al Hikma “serão construídas moradias de todo o tipo, hotéis internacionais de alto padrão, grandes projetos de entretenimento, bem como serviços, escolas, universidades, hospitais, complexos administrativos, um bairro de negócios central para atrair empresas e um porto internacional para iates e barcos turísticos”.

Com esse investimento, o maior feito diretamente com dinheiro do exterior na história do Egito, a meta é atrair ao menos 8 milhões de turistas a mais por ano ao país e “criar novas oportunidades de emprego para milhões de jovens”, afirmou o premiê.

Outros objetivos com o ambicioso projeto são ajudar os egípcios a sair da crise econômica, em grande parte gerada pelos empréstimos que contraíram para construir uma nova capital, e aliviar a superconcentração populacional no Cairo e ao longo do rio Nilo.

A iniciativa monumental chama a atenção, mas é apenas parte de uma série de ações que os Emirados Árabes têm desenvolvido na África, com o objetivo de aproveitar o vácuo de influência dos Estados Unidos no continente – lacuna que China e Rússia também vêm buscando preencher.

Outras iniciativas com dinheiro emiradense em países africanos incluem projetos de energia renovável e logísticos, como operação, construção e expansão de portos – exemplos são o porto de Berbera, na Somalilândia (Estado não reconhecido no Chifre da África), e o porto de Maputo, em Moçambique.

Além disso, o site AGBI, especializado em jornalismo de negócios do Oriente Médio e norte da África, noticiou em janeiro que os Emirados Árabes estão no momento negociando 14 novos acordos de compra de terras em outros países, com o objetivo de produzir alimentos.

Segundo a reportagem, desde o primeiro compromisso nesse sentido, estabelecido com o Sudão há mais de 50 anos, os Emirados Árabes já assinaram mais de 56 acordos para esse fim com países em diferentes continentes, com o ritmo de aquisições aumentando vertiginosamente nas últimas duas décadas.

A maioria desses acordos foi estabelecida com países da África, como Etiópia, Sudão e Zimbábue.

Os Emirados Árabes têm recorrido à África também para compensar emissões de carbono e/ou obter créditos na área para vender para outros países.

A Blue Carbon, empresa sediada nos Emirados Árabes e ligada à família real do emirado de Dubai, assinou memorandos de entendimento com cinco países africanos (Zimbábue, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Libéria) para obter concessões de áreas florestais que somam 24,5 milhões de hectares, o tamanho do Reino Unido, com esse objetivo.

Ambientalistas apelidaram essas ações de “colonialismo do carbono”, o que indica que o aumento da influência dos Emirados Árabes no continente mais pobre do mundo começa a incomodar.

Um relatório recente das Nações Unidas apontou evidências de que a presença emiradense na África também pode estar alimentando a violência.

Segundo o informe, os Emirados Árabes estariam enviando armas para o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) utilizar na guerra civil no Sudão, iniciada em abril de 2023.

O relatório indicou que essas remessas estariam ocorrendo “várias vezes por semana” através de Amdjarass, no norte do Chade. Abu Dhabi nega as acusações.

Ao se tornar um agente cada vez mais influente, os Emirados Árabes devem esperar um escrutínio cada vez maior de seus problemas, que incluem violações sistemáticas aos direitos humanos, segundo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch.

Esta destacou que Abu Dhabi “investe numa estratégia para retratar o país como progressista, tolerante e que respeita direitos, [mas] ao mesmo tempo exerce repressão contra a dissidência”.

“Já ouvi falar de organizações terroristas e criminosas, mas é a primeira vez que ouço falar de um Estado que é uma máfia... Os Emirados Árabes são um Estado que adora a destruição e segue os passos do mal”, declarou recentemente Yasser Al-Atta, membro do Conselho Soberano Sudanês e comandante-em-chefe adjunto do Exército do Sudão.

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