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Em 23 de fevereiro, o ano letivo começou na Faixa de Gaza, após uma interrupção de quase um ano e meio devido à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
A Autoridade Palestina, que administra parte da Cisjordânia e vem sendo cogitada como uma alternativa para administrar Gaza após a derrota do Hamas, assumiu a responsabilidade pelo currículo das escolas no enclave.
Entretanto, um relatório divulgado em março levanta sérias preocupações sobre a capacidade do ente político liderado por Mahmoud Abbas de formar um governo capaz de coexistir pacificamente com Israel.
O Instituto de Monitoramento da Paz e Tolerância Cultural na Educação Escolar (Impact-se), ONG israelense que monitora o conteúdo de livros didáticos, destacou no relatório que, além dos esforços para reabrir as escolas presenciais, a Autoridade Palestina implantou um novo “currículo resumido”, uma versão condensada de livros didáticos já utilizados pelo ente político, com pacotes de ensino remoto para que os alunos de Gaza completem dois anos letivos em um.
Em julho de 2024, a Autoridade Palestina assinou com a União Europeia uma carta de intenções para que o bloco ajudasse o ente político a implementar reformas e tentar resgatar sua imagem, manchada por corrupção, falta de renovação e outros problemas.
Entre os itens previstos na carta, constam a racionalização das despesas governamentais, reforma da seguridade social e criação de mecanismos para que os cidadãos façam denúncias e reivindicações.
Desde então, lembrou a Impact-se, a União Europeia destinou à Autoridade Palestina mais de 380 milhões de euros.
Um dos itens da carta de intenções era uma reforma do currículo escolar, de forma que contemplasse os padrões de paz e tolerância estabelecidos pela Unesco. Entretanto, alertou a ONG israelense, o novo currículo implementado em Gaza segue pregando o ódio a Israel.
O relatório citou um texto para alunos do quinto ano que descreve um atentado realizado em 1978 pela terrorista Dalal al-Mughrabi, que matou 38 israelenses, incluindo 13 crianças, como um ato de “heroísmo” que tornou “imortal” a lembrança da extremista nos “corações e mentes” dos palestinos.
Outro exemplo da glorificação da jihad, apontou o documento, é um poema direcionado a alunos do segundo ano que os convoca a “entregar nossos espíritos à Revolução” – com a imagem de um menino e uma menina em um caminho que leva à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, ao fundo.
A Impact-se também mencionou a demonização de Israel em vários trechos do material didático usado pela Autoridade Palestina, como um exercício de interpretação de texto intitulado “Uma Carta de uma Menina Palestina para as Crianças do Mundo”.
“O texto apresenta imagens chocantes e sensacionalistas, incluindo balas de rifle perfurando as orelhas de crianças, rostos de crianças deformados, brinquedos sendo ‘rasgados’, o sol encoberto pela escuridão, rosas e borboletas ‘mortas’ em jardins etc. Esses atos malignos, semelhantes a contos de fadas, são explicitamente atribuídos à ‘Ocupação’”, descreveu o relatório.
Outro problema do material didático, afirmou a Impact-se, é descrever como palestinas cidades e regiões que são reconhecidas internacionalmente como parte de Israel.
“Um mapa do mundo árabe em um livro didático de geografia do 11º ano apaga Israel, apresentando todo o seu território internacionalmente reconhecido como palestino. O mapa não mostra a Linha Verde [que delimita os territórios palestinos] e apresenta Israel propriamente dito, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como um único território, rotulando tudo como ‘Palestina’”, denunciou a ONG.
Com um currículo escolar que “continua a ser um veículo central para radicalizar as crianças em Gaza”, conforme alertou a Impact-se, o futuro dos meninos e meninas do enclave, já tão comprometido pela guerra e pela repressão do Hamas, é um grande motivo de preocupação.







