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Mulheres fazem fila para entrar no estádio King Abdullah Sport City, antes da partida de futebol  na Liga Pro da Arábia Saudita | STRINGER/AFP
Mulheres fazem fila para entrar no estádio King Abdullah Sport City, antes da partida de futebol na Liga Pro da Arábia Saudita| Foto: STRINGER/AFP

Em um passo considerado como uma "pequena revolução", a Arábia Saudita permitirá a partir desta sexta-feira (12) que mulheres possam ir aos estádios de futebol. Mas terão de acompanhar os jogos em uma ala destinada apenas para as "famílias". O jogo inaugural será o do Al Ahli contra Al Batin, em Riad. Neste sábado (13), também serão autorizadas as vendas de ingressos para mulheres no jogo entre o Al Hilal e o Al Ittihad. No dia 18, mais uma partida terá também a torcida feminina.  

Um comunicado do governo aponta que três estádios foram "adaptados" e designados para receber mulheres. Além do estádio Rei Fahd, na capital, também foram reformados o estádio Rei Abdullah, em Jeda, e o estádio Príncipe Mohamed Bin Fahd, em Dammam.  

Um teste chegou a ocorrer, com as mulheres sendo autorizadas a entrar no estádio de Riad em 2017. Mas o evento era uma comemoração pelo Dia Nacional do país. Ainda assim, a reação foi positiva.  

A medida no que se refere ao futebol faz parte de uma decisão do príncipe Mohamed bin Salman de começar a, lentamente, rever o papel da mulher na sociedade saudita, uma das mais fechadas do mundo e denunciada por ampla violação dos direitos humanos. Em junho, ele já deu a autorização para que as mulheres pudessem dirigir pelas ruas do país, um velho pedido de entidades e das próprias mulheres.  

Leia mais: Mesmo permitindo que as mulheres dirijam, sauditas estão longe de unanimidade

A iniciativa também faz parte de um esforço de seu governo em reverter a imagem da Arábia Saudita no mundo, e foi comemorada. "Esse será um jogo histórico", disse Lina Maeena, uma das poucas mulheres na Shura, um conselho criado pelo regime para dar ares menos ditatoriais ao governo. "Isso vai reforçar os valores da família", afirmou.  

Em 2015, os sauditas chegaram a propor ao COI a realização de eventos internacionais no país, mas separados para homens e mulheres. As competições masculinas ocorreriam na Arábia Saudita. Já as femininas no Bahrein, país vizinho. O COI não aceitou e o regime saudita entendeu que precisaria começar a mudar.  

‘Desafio social’

Um ano depois, o governo de Riad anunciou a escolha da princesa Reema bint Bandar al Saud para comandar o departamento de esporte feminino do país. Sua tarefa: adotar o esporte entre meninas.  

Em entrevista ao Estado em 2016, a princesa saudita contou que a introdução do esporte para as meninas seria, acima de tudo, um desafio social. "Temos fronteiras culturais e preciso garantir que as atividades que queremos promover estejam dentro dessas fronteiras", disse a princesa, filha do ex-embaixador saudita nos Estados Unidos. "Mas o que é universal é o bem-estar, fitness e saúde. Todos os homens e mulheres devem ser saudáveis", insistiu. As 13 milhões de meninas e mulheres do reino saudita têm a segunda pior taxa de diabetes do mundo.  

Nem todos concordam que a iniciativa do novo monarca seja suficiente. James Dorsey, especialista da Universidade de Wurzburg e autor de livros sobre o futebol no Oriente Médio, aponta que o regime continua atuando com mãos de ferro no esporte, principalmente ao determinar como as diferentes federações são administradas e banindo aqueles que não são aliados do governo. 

James Dorsey ainda aponta que, de uma forma geral, as mulheres são alvos de profundas discriminações pela lei saudita. "A medida é um marco. Mas é apenas um começo num país onde as mulheres continuam subjugadas à vontade dos homens".

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