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Estados Unidos perderam enorme quantidade de equipamentos militares para o Talibã.
Estados Unidos perderam enorme quantidade de equipamentos militares para o Talibã.| Foto: STRINGER/Agência EFE

Como se não bastasse o Talibã assumir o controle total do Afeganistão: impondo sua vontade e suas táticas assassinas a cidadãos inocentes; colocando em perigo os americanos ainda presentes no país; e complicando os esforços para extrair afegãos que deram apoio importante, como os tradutores; a situação fica pior.

O Talibã também apreendeu dezenas de bilhões de dólares em equipamentos e suprimentos militares, que antes estavam sob o controle das forças de segurança afegãs.

Mais de US$ 28 bilhões foram gastos equipando os afegãos entre 2002 e 2017. Os gastos depois disso são mais difíceis de encontrar, mas como as entregas continuaram até o mês passado, é seguro presumir que o valor total é muito maior.

Na verdade, o Talibã capturou essencialmente todos os elementos necessários para equipar totalmente um exército e uma força aérea, abrangendo a gama de 600 mil rifles e metralhadoras; 76 mil veículos, incluindo veículos multifuncionais de alta mobilidade, caminhões blindados e picapes; rádios, equipamentos de visão noturna e drones; e 208 helicópteros e aeronaves de asa fixa.

De igual importância são as quantidades de suprimentos que adquiriu no processo: milhões de cartuchos de munição, peças sobressalentes, granadas, uniformes, botas, refeições, combustível e foguetes – o suficiente para sustentar os esforços militares do Talibã por anos.

Embora alguns estejam preocupados com o uso pelo Talibã de uma aeronave abandonada, o membro sênior de defesa da Heritage Foundation, John Venable, explicou recentemente que essa não deve ser uma grande preocupação.

Cerca de 25% da força aérea do Afeganistão foram para países próximos, levada por pilotos afegãos que fugiram. O destino dessas aeronaves é incerto. “Para a aeronave deixada para trás”, disse Venable, “a falta de peças de reposição, suporte contratado e manutenção significa poucas opções para voo”.

As mesmas razões que deixaram a Força Aérea Afegã paralisada quando o governo Biden removeu todos os funcionários que faziam a manutenção dessas aeronaves deixarão também o Talibã em dificuldades para fazer alguns voos. E isso pressupõe que haja pilotos treinados.

Os Estados Unidos sequer precisam realmente se preocupar com a captura desse equipamento, temendo que revelasse quaisquer segredos militares americanos. Nenhuma tecnologia avançada foi capturada, como os caças F-35 ou os sistemas de mísseis Patriot.

O que o Talibã conseguiu foi material básico – mas melhor do que já tinha – em enorme quantidade.

Há muitas fotos de combatentes do Talibã agora segurando as mais recentes armas leves dos militares dos EUA, como a carabina M4 ou o rifle M16A4.

Essas são armas muito superiores às AK-47 que possuiam antes, muitas das quais datavam dos dias da ocupação soviética do Afeganistão na década de 1980.

Também preocupa a captura relatada de 16 mil equipamentos de visão noturna, permitindo aos combatentes do Talibã capacidade de operar à noite, cancelando a vantagem normal que as forças dos EUA possuem em atuar durante as horas de escuridão.

Tem havido alguma especulação de que os EUA podem tentar destruir pelo menos alguns dos equipamentos de alto valor deixados para trás, como os helicópteros ou a aeronave de ataque. Porém, dada a resposta tímida do governo exibida até agora, com o desdobramento da situação, isso parece improvável.

Não que ele não possa - o Reino Unido, por exemplo, enviou 300 tropas de elite a Cabul para retirar seus cidadãos, enquanto as forças dos EUA permanecem enjauladas no aeroporto da cidade.

Mesmo que o Talibã e outros adversários não descubram nenhum segredo dos equipamentos, a apreensão significa que ele é uma força de combate muito mais bem equipada do que há dois meses.

Se os EUA ou qualquer outra nação no futuro tentar conduzir operações militares contra eles, enfrentariam equipamentos modernos em um tiroteio, uma perspectiva que nenhum soldado aprecia.

Há também a perspectiva desagradável de que o Talibã possa vender ou transferir alguns desses equipamentos para grupos terroristas transnacionais, como ISIS ou Al-Qaeda, que podem usá-los contra cidadãos dos EUA ou países parceiros.

Depois que o Talibã começou a avançar pelo país, era tarde demais para fazer qualquer coisa para proteger esse equipamento. Ele foi encontrado em centenas de unidades militares afegãs, depósitos e armazéns espalhados por todo o país.

Na verdade, a sorte foi lançada quando tomou-se a decisão de remover precipitadamente todas as forças militares dos EUA e firmar contrato de suporte com o exército afegão – suporte que previamente admitiu que sua força aérea e os soldados afegãos percebessem que nenhuma ajuda viria de Cabul.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ignorou a natureza humana quando previu que era "altamente improvável" que o Talibã invadisse tudo. Sobre a guerra, Napoleão disse uma vez: “O moral está para o físico como três para um”.

Ou seja, embora houvesse supostamente mais de 300 mil membros das forças de segurança afegãs, sem moral e confiança, esses números não faziam sentido contra um inimigo decidido.

Quando os funcionários que mantinham os aviões afegãos no ar e a pequena mas significativa presença das forças dos EUA foram removidos abruptamente, isso criou uma crise de confiança que se espalhou como um incêndio.

E agora, com essa transferência enorme de equipamento militar, o Talibã será uma força mais capaz nos próximos anos. Isso não precisava acontecer.

Thomas W. Spoehr, um tenente-general aposentado do Exército, é diretor do Centro de Defesa Nacional da Fundação Heritage.

©2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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