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A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China atingiu o ápice (ao menos por enquanto) nesta quarta-feira (9), quando o governo Donald Trump anunciou uma tarifa de 125% sobre importações de produtos chineses, em resposta a uma taxa de Pequim de 84% sobre compras dos EUA – que já era parte de uma escalada tarifária iniciada na semana passada, quando o republicano anunciou “tarifas recíprocas” contra a maioria dos países e territórios do mundo.
Como se trata das duas maiores economias do planeta, o mundo prende a respiração: a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, disse que, com a guerra tarifária, o comércio entre os dois países pode diminuir em até 80%. Nesse cenário, o PIB global poderia sofrer uma queda de 7%, alertou.
Segundo dados do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), em 2024, as exportações americanas para a China somaram US$ 143,5 bilhões, enquanto as importações totalizaram US$ 438,9 bilhões.
A China compra muito dos Estados Unidos grãos (principalmente soja) e petróleo, enquanto os americanos importam dos chineses principalmente produtos com maior valor agregado, como equipamentos elétricos e eletrônicos e máquinas.
Em tese, os chineses teriam mais facilidade para encontrar fornecedores alternativos para o que compram dos Estados Unidos, mas sofreriam para achar mercados capazes de substituir o que vendem para os americanos.
No atual patamar de tarifas estabelecido por Trump, exportar para os Estados Unidos se torna inviável, afirmou Dan Wang, da consultoria Eurasia Group, em entrevista à BBC: segundo a economista, qualquer tarifa acima de 35% já elimina todos os lucros que as empresas chinesas obtêm ao exportar para os EUA.
“O crescimento [chinês] será muito menor, já que as exportações contribuíram com 20% a 50% do crescimento desde a pandemia de Covid-19”, acrescentou.
Uma análise da Câmara Europeia de Comércio na China, citada pela agência Associated Press, destacou que, caso a guerra tarifária persista, muitas empresas que atualmente produzem no gigante asiático para exportar para os Estados Unidos precisarão encontrar mercados alternativos, enquanto outras provavelmente precisarão transferir a produção para outros países para continuar atendendo o mercado americano.
Em editorial publicado nesta quarta-feira, a The Economist destacou que, na sua política de “lutar até o fim” contra as tarifas americanas, Pequim parece acreditar que a população americana não conseguirá “suportar a inflação e o descontentamento econômico causados pelas tarifas de Trump”.
Porém, destacou a revista inglesa, isso seria “uma grande aposta” da China. “Quando a inflação aumentar nos Estados Unidos, a indústria e as cadeias de suprimentos chinesas já estarão passando por dificuldades”, apontou a Economist.
Nesse sentido, a China precisaria tomar medidas para fortalecer a economia interna: a projeção é que a guerra tarifária gerará no país efeitos comparáveis à crise financeira global de 2008, o que levou Pequim a lançar à época um pacote de estímulo de US$ 590 bilhões – a ditadura de Xi Jinping já informou no mês passado que estuda medidas para responder a “choques externos maiores do que o esperado”.
“O que isso significa na prática, ainda não está claro”, ponderou a Economist. Com o PIB já desacelerando nos últimos anos, os efeitos do método de “lutar até o fim” deixam o horizonte econômico chinês ainda mais nublado.







