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O ditador chinês, Xi Jinping, em encontro dos BRICS, no Brasil, em 2019.
O ditador chinês, Xi Jinping, em encontro dos BRICS, no Brasil, em 2019.| Foto: EFE/Andre Coelho

A aproximação da Coreia do Norte e da Rússia, reforçada pela guerra na Ucrânia, mostra uma maior abertura do mercado do país comandado por Kim Jong-un aos aliados. Nesse cenário, a China, primeiro parceiro comercial dos norte-coreanos, vislumbra uma retomada comercial e estratégica com o país vizinho, especialmente a partir do 20º Congresso do Partido Comunista, que acontecerá em novembro.

O contexto geopolítico é visto pela Coreia do Norte como uma oportunidade para fortalecer o desenvolvimento militar e nuclear, além de promover a economia.

O alinhamento entre Rússia, Coreia do Norte e China se intensificou desde a invasão russa à Ucrânia, apesar de ter sido discreto nos primeiros meses. Em maio, China e Rússia vetaram, no Conselho de Segurança da ONU, uma resolução proposta pelos Estados Unidos para reforçar as sanções internacionais contra a Coreia do Norte, em resposta a testes de mísseis. O texto recebeu o apoio de 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança, mas não foi adiante, já que Moscou e Pequim têm poder de veto e podem bloquear a medida.

Em 14 de julho, a Coreia do Norte reconheceu a independência de territórios pró-Rússia do leste da Ucrânia, sendo apenas o terceiro país a fazer isso, após a própria Rússia e a Síria.

Uma afinidade entre as forças orientais foi tomando forma mais clara nas últimas semanas. Enquanto a Coreia do Norte recusava o apoio financeiro da Coreia do Sul em troca de um freio ao armamento nuclear, a Rússia oferecia ajuda para reforçar o militarismo de Jong-un.

No dia 15 de agosto, o ditador da Coreia do Norte recebeu uma carta de Vladimir Putin. O presidente russo informou que quer “contribuir para o fortalecimento da segurança e para a estabilidade da Coreia”.

Kim respondeu a Putin sobre a “cooperação estratégica e tática, com apoio e solidariedade” entre os países diante de “ameaças e provocações de forças hostis”, referindo-se aos Estados Unidos.

Diante dos atuais conflitos também entre China e EUA, especialmente em Taiwan, a Coreia do Norte tem aproveitado para fazer seus exercícios militares, o que coloca a Coreia do Sul em alerta.

"Desde o ataque à Ucrânia, a Coreia do Norte pode fazer o que quiser, lançamentos de mísseis intercontinentais ou testes nucleares, porque nenhuma resolução pode ser adotada pelo Conselho de Segurança por causa da rivalidade entre os Estados Unidos de um lado, Rússia e China do outro”, observa Cheong Seong Chang, do Instituto Sejong sul-coreano, ao jornal Le Monde.

Em julho, o embaixador da Rússia em Pyongyang, Alexander Matsegora, em entrevista ao jornal russo Izvestia, disse que “os parceiros coreanos estão muito interessados em peças de reposição e em modernizar locais de produção”, fazendo referência a fábricas construídas na Coreia do Norte com equipamentos usados da assistência soviética. Matsegora também citou o interesse na importação de trigo da região do Donbas, disputada entre Rússia e Ucrânia.

Se antes da guerra e dos últimos conflitos em Taiwan, a aproximação entre norte-coreanos e russos preocupava a China, pois deixaria a Coreia do Norte menos dependente dela, no atual contexto ter um aliado ao lado é visto como um reforço à influência oriental nessa Guerra Fria 2.0. Enquanto isso, a Rússia aproveita a abertura coreana para desenvolver seu tão sonhado “extremo-Oriente russo”.

“É natural que a China aprove que a Rússia esteja consolidando a sua aproximação com a Coreia do Norte, apesar da China deixar muito claro que aquela região é sua”, descreve Marcelo Suano, cientista político e diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI). “Está sendo concretizado um triângulo estratégico”, resume.

De acordo com Suano, apesar da Coreia do Norte ser um país pobre, voltado apenas para o desenvolvimento militar, ele tem uma posição estratégica, fazendo fronteira com a Coreia do Sul e praticamente de frente para o Japão, dificultando a interferência ocidental no sudeste asiático.

“Por incrível que pareça, isso faz com que os Estados Unidos estejam em uma situação de fragilidade. Neste momento, devido a essa configuração, os americanos não têm condições de ir para o enfrentamento direto”, conclui Suano.

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