• Carregando...
O primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, decretou estados de emergência para que a violência não chegue “ao ponto de ameaçar provocar o colapso do Estado”
O primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, decretou estados de emergência para que a violência não chegue “ao ponto de ameaçar provocar o colapso do Estado”| Foto: EFE/Alberto Valdes

Um crime ocorrido no último dia 6 chocou a Jamaica: Jamila Cole, uma estudante de 15 anos, morreu no hospital após ter sido agredida e estuprada por homens que invadiram sua casa, na cidade de Albert Town. A mãe dela e uma prima de 17 anos também foram agredidas.

Segundo relatos da imprensa jamaicana, dois homens mascarados entraram na residência por uma das janelas e acertaram as vítimas na cabeça com pedaços de pau. Após ter sido agredida e estuprada, Jamila Cole foi deixada amarrada em uma plantação de inhame perto da casa. Um homem, namorado da sogra da mãe da adolescente, foi preso por suspeita de participação no crime.

O episódio é um retrato da violência na Jamaica, que, segundo o ranking da InSight Crime, organização sem fins lucrativos que faz jornalismo investigativo sobre crime organizado, já havia retirado a Venezuela do posto de país mais violento das Américas.

Entretanto, o levantamento mais recente, de 2022, colocou duas pequenas ilhas caribenhas também à frente da ditadura de Nicolás Maduro.

As Ilhas Turcas e Caicos apareceram em primeiro lugar, com um índice de 77,6 homicídios por cada 100 mil habitantes, quase oito vezes mais do que a taxa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera para decretar que a violência é epidêmica numa região.

A Jamaica foi a segunda colocada, com um índice de 52,9, e em seguida, veio Santa Lúcia, com 42,3. Só então apareceu a Venezuela, com uma taxa de 40,4 assassinatos por 100 mil habitantes (entretanto, é importante destacar que o Haiti, onde a crise de segurança atingiu “nível sem precedentes”, não foi ranqueado).

No caso das Ilhas Turcas e Caicos, o pequeno arquipélago de 45 mil habitantes sofre as consequências do espraiamento da instabilidade de outras ilhas caribenhas.

O então governante nomeado pelo Reino Unido, Nigel Dakin, afirmou no ano passado no Instagram que as gangues jamaicanas estão “tentando remover todos os concorrentes criminosos no território” e que ilhas vizinhas “inundadas de armas e drogas [...], onde os criminosos aparentemente conseguem se locomover facilmente por toda a região”, espalham violência.

Em novembro, as Ilhas Turcas e Caicos foram palco de um crime de repercussão semelhante à do assassinato de Jamila Cole na Jamaica: um menino de três anos, a mãe grávida e o pai foram mortos na ilha de Providenciales.

No mês anterior, o governo britânico havia anunciado medidas de segurança adicionais para o território, que incluíram o deslocamento de 24 oficiais que estavam nas Bahamas.

Na Jamaica, que tem 2,8 milhões de habitantes e apenas pela primeira vez em três anos não liderou o ranking da InSight Crime, a atuação de grandes grupos criminosos gerou em 2022 a maior taxa de homicídios no país desde 2017, com um gigantesco tráfico de armas municiando as quadrilhas.

Em dezembro, ao decretar mais um estado de emergência, o primeiro-ministro Andrew Holness disse que o objetivo era “garantir que nossa taxa de homicídios e o nível de violência que os cidadãos vivenciam diariamente não cheguem ao ponto de ameaçar provocar o colapso do Estado”.

No caso da pequena Santa Lúcia (180 mil habitantes), a InSight Crime afirmou que a ilha “se tornou um hub logístico para a cocaína sul-americana que vai para os Estados Unidos e para a Europa”.

Jamaica aposta em lei anti-gangues

Reféns do crime organizado, como tantos vizinhos nas Américas, esses países caribenhos buscam alternativas para frear a criminalidade.

Em 2014, a Jamaica implantou uma nova lei anti-gangues, mas até 2019 a nova legislação havia levado a apenas duas condenações. Porém, mudanças feitas em 2021 ampliaram a definição de envolvimento com gangues, permitindo que as autoridades processassem também quem facilita e ajuda na atuação desses grupos, e aumentaram a proteção para testemunhas.

Um dos grandes resultados foi o julgamento de Andre Bryan, considerado culpado em março deste ano de ser o líder da gangue One Don e cuja sentença será anunciada em setembro. Outros 14 integrantes do grupo foram condenados.

Anthony Clayton, especialista em segurança e professor da Universidade das Índias Ocidentais, disse à InSight Crime que a lei anti-gangues foi um grande avanço, mas que sozinha ela não resolverá a imensa crise de segurança no país caribenho.

“Os julgamentos [de Bryan e seus comparsas] provavelmente terão um efeito inibidor sobre a atividade das gangues, mas é provável que isso seja apenas temporário. As gangues já passaram por reveses antes. Elas evoluem, aprendem e se regeneram”, afirmou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]