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Hasan Nasra­llah, lider do Hezbollah, faz um discurso televisionado­, em Baalb­ek, no Libano. OIrã tem usado o grupo terrorista para reforçar seu poder no Iraque, na Síria, no Iemen e no Libano | DIEGO IBARRA SANCHEZ/NYT
Hasan Nasra­llah, lider do Hezbollah, faz um discurso televisionado­, em Baalb­ek, no Libano. OIrã tem usado o grupo terrorista para reforçar seu poder no Iraque, na Síria, no Iemen e no Libano| Foto: DIEGO IBARRA SANCHEZ/NYT

Depois que os Estados Unidos derrubaram a ditadura do Iraque, em 2003, o Irã enviou armas para milícias e apoiou partidos políticos, trazendo o país vizinho para sua órbita. 

 Depois que as revoltas da Primavera Árabe no início desta década abalaram os governos da Síria e do Iêmen, o Irã enviou combatentes e apoiou milícias. No caos da longa guerra de civil na Síria, aproveitou a oportunidade para construir uma infraestrutura militar por lá. 

 Em 2015, o presidente Barack Obama ofereceu ao Irã o que poderia ter sido a maior oportunidade de todas: trocar seu programa nuclear pelo fim das sanções que sufocavam sua economia, preparando o caminho para sua reintegração ao sistema internacional. 

Mudança

 Agora, Donald Trump, Israel e as monarquias árabes sunitas do Golfo Pérsico querem mudar tudo isso. Em 8 de maio, o presidente norte-americano retirou os Estados Unidos do acordo nuclear internacional com o Irã, retomando as pesadas sanções e ameaçando ampliá-las como punição pelo comportamento regional do país. Depois de perder aceitação desde a guerra do Iraque, Washington voltou a falar sobre uma mudança do regime de Teerã de uma forma inédita desde que George W. Bush incluiu o país no "eixo do mal", em 2002. 

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 Mas, mesmo que Trump e seus aliados estejam frustrados porque o acordo nuclear não evitou que o Irã parasse de causar problemas regionais, não está nem um pouco claro se a saída do acordo também o fará. 

 "Se quisermos enfrentar o Irã e desmantelar sua rede, como vamos negociar? E se ele ganhou influência e equidade com essas conquistas, como vai reagir?", disse Randa Slim, analista do Instituto do Oriente Médio em Washington. 

 Rede de milícias

O Irã agora mantém uma poderosa rede de milícias que defende seus interesses muito além de suas fronteiras. 

 Mesmo que Trump retire os EUA do acordo nuclear, os partidos políticos que têm apoio iraniano já contestavam as eleições parlamentares no Líbano e no Iraque, e rebeldes alinhados ao Irã no Iêmen lançavam mísseis balísticos contra a capital saudita, Riad. 

 O outrora membro do "eixo do mal" construiu o que chama de "eixo de resistência", que se estende pelo Iraque, Síria e Líbano. As forças iranianas ou milícias aliadas estão agora basicamente às portas de Israel e da Arábia Saudita, seus maiores adversários na região. 

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 A aliança contra o Irã se fortaleceu, com os Estados Unidos, Israel e países do Golfo firmes na oposição – mas mesmo que agora estejam mais comprometidos que nunca em desafiar o alcance iraniano, suas habilidades são limitadas. 

 Os Estados Unidos hesitam em se embrenhar em novas guerras no Oriente Médio. Trump cortou parte da ajuda externa na Síria e disse que quer trazer para casa os aproximadamente dois mil soldados americanos que estão lá lutando contra o Estado Islâmico. 

 Os países do Golfo, liderados pela Arábia Saudita, gastaram bilhões em armamentos avançados ao longo de anos, mas ainda precisam provar que conseguem usá-los efetivamente. Estão envolvidos em uma guerra aérea contra os rebeldes no Iêmen, apoiados pelo Irã, e sua confiança na diplomacia do talão de cheques lhes garantiu pouca influência no Líbano, na Síria e no Iraque. 

Criatividade diplomática

 Por outro lado, o Irã desenvolveu maneiras criativas de cultivar relacionamentos estratégicos que não requerem grandes gastos militares, mesmo porque o país não pode arcar com isso. "Não é só o dinheiro que azeita as engrenagens; é a ideologia e a vontade dos iranianos de participar do jogo. Os sauditas não têm esse tipo de artifício", disse Slim, o analista. 

 Isso isola Israel, que tem uma poderosa força militar, mas pouca capacidade de formar alianças com países árabes – legado da sua criação, o Estado judaico que ainda é vilipendiado na região pelo modo com que trata os palestinos. 

 A complicação mais recente desde que Trump abandonou o acordo nuclear em maio ocorreu quando forças iranianas na Síria dispararam uma saraivada de foguetes em direção a Israel pela primeira vez, de acordo com os israelenses, e aviões de guerra de Israel bombardearam alvos militares iranianos na Síria. 

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 Segundo os analistas, nenhum dos lados queria guerra total, que poderia rapidamente se transformar em uma conflagração regional, e no início do dia, tudo voltou a sossegar, mas o risco de uma guerra mais ampla não pode ser descartado. 

 "A situação pode ficar tranquila no próximo mês, mas temos um grande problema estrutural. O Irã quer construir uma infraestrutura na Síria; Israel se opõe, ou seja, é um verdadeiro barril de pólvora. Isso é uma prévia de uma situação grave em longo prazo", disse Cliff Kupchan, presidente da Eurasia Group, consultoria de risco político em Washington. 

 Ryan C. Crocker, ex-embaixador dos EUA para a Síria, Iraque, Líbano e outros países, tem a mesma preocupação. "Há grandes chances de uma luta muito maior do que o que vimos até agora, liderada por Israel. E será que algo de bom virá disso? De jeito nenhum", disse Crocker. 

Dificuldades

 O Irã teria dificuldade para se defender contra um ataque direto multilateral de Israel, Estados Unidos e países do Golfo. Sendo um Estado persa liderado por xiitas, é uma minoria sectária e étnica em uma região onde predominam os árabes sunitas. Desprezado internacionalmente desde que um governo islâmico revolucionário tomou o poder em 1979, o país não tem acesso a armas ocidentais. E sua economia enfraquecida significa que seus inimigos regionais o superam em termos de armamentos convencionais. 

 O Irã investiu onde foi possível: em relacionamentos com países menores, com quem compartilha principalmente a fé xiita e o status de azarão. 

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 O protótipo dessa estratégia foi o Hezbollah, que oficiais da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã ajudaram a criar no Líbano, no início de 1980. O apoio ao grupo garantiu um meio para lutar contra Israel perto da fronteira norte desse país, e mais tarde firmou a influência iraniana na política libanesa. Visto há muito como organização terrorista por Israel e os Estados Unidos, acabou se tornando uma força regional. 

 Bassel F. Salloukh, professor de Ciência Política na Universidade Libanesa Americana em Beirute, disse: "Na verdade, o Irã não é tão forte quanto pensamos. Sua economia é bastante fraca, ele está cercado, então tem que mostrar força para se proteger; só que essa estratégia tem funcionado muito bem, por isso a estão reproduzindo em outro lugar". 

 

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