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Ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante cúpula de Cingapura em 12 de junho | KEVIN LIM/AFP
Ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante cúpula de Cingapura em 12 de junho| Foto: KEVIN LIM/AFP

Há apenas um ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falou pela primeira vez na Assembleia Geral da ONU, emitindo uma série de ameaças à Coreia do Norte por causa de seus testes de mísseis balísticos e armas nucleares.

"Os Estados Unidos têm muita força e paciência, mas se for obrigado a se defender ou a seus aliados, não teremos outra opção senão destruir totalmente a Coreia do Norte", disse Trump, antes de usar um apelido depreciativo para o líder norte-coreano Kim Jong-un. "O homem-foguete está em uma missão suicida para ele mesmo e para seu regime". 

Mas nesta terça-feira (25), ao voltar na Assembleia Geral, Trump adotou um tom muito diferente. "Eu gostaria de agradecer ao líder Kim por sua coragem e pelos passos que deu, embora ainda haja muito trabalho a ser feito", disse Trump. 

O que explica essa reviravolta notável?

Há várias respostas plausíveis, mas grande parte do crédito deve ser dado ao presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, que deu início à diplomacia intercoreana no início deste ano e realizou duas reuniões face a face com Kim - incluindo uma na Coreia do Norte, na semana passada.  

Já que Kim não compareceu às Nações Unidas nesta semana – havia rumores de que uma segunda cúpula do Trump-Kim poderia ocorrer em Nova York – Moon é o homem do momento para os observadores das Coreias. 

Durante seu discurso desta terça, Trump agradeceu ao líder sul-coreano, notavelmente mencionando seu nome antes de lembrar do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e do presidente chinês, Xi Jinping. Horas mais tarde, em um evento do Conselho de Relações Exteriores, Moon foi recebido por um grande público de alguns dos melhores especialistas em política externa do mundo. 

"Você é um convidado bem-vindo aqui em Nova York e aqui na América", disse Kevin Rudd, ex-primeiro-ministro australiano e atual presidente da Asia Society, ao apresentar Moon. "Este foi um ano extraordinário nas relações intercoreanas e a principal dinâmica disso, senhor presidente, foi você mesmo. Você assumiu riscos". 

Ceticismo

Durante uma curta palestra e sessão de perguntas com o público, Moon reiterou que acha que Kim está sendo sincero ao afirmar que vai desistir de suas armas nucleares. Também enfatizou que é necessário que haja uma segunda cúpula entre os EUA e a Coreia do Norte, onde um fim formal para a Guerra da Coreia poderia ser discutido como um possível primeiro passo para um tratado de paz permanente. 

Apesar da calorosa recepção, havia, sem dúvida, muito ceticismo entre os que estavam na sala. Muitos especialistas em Washington dizem que a Coreia do Norte nunca vai desistir de suas armas nucleares. Usar o fim da guerra como um primeiro passo, dizem eles, só enfraquecerá a aliança EUA-Coreia do Sul, em vez de aquecer as relações com Pyongyang. 

Até mesmo membros da administração Trump, que está formalmente comprometida com a desnuclearização, expressaram verdadeiro ceticismo. O mais recente a fazê-lo foi a diretora da CIA, Gina Haspel: "O regime passou décadas construindo seu programa de armas nucleares", disse a jornalistas na segunda-feira. "Os norte-coreanos vêem sua capacidade como uma vantagem, e não acho que eles queiram desistir facilmente". 

Mas Moon sabe que, para todas as intenções e propósitos, ele tem um apoio importante: o presidente Trump. 

No evento do Conselho de Relações Exteriores, ele repetidamente descartou pontos negativos e elogiou Trump por tomar uma "decisão muito corajosa" ao se envolver diretamente com Kim. O presidente da Coreia do Sul, de esquerda, fará uma grande entrevista com o canal de notícias favorito de Trump, o Fox News, de direita, onde ele provavelmente repetirá essa mensagem otimista. 

Moon e Washington

Moon não só ajudou a reverter as relações da Coreia do Norte com os Estados Unidos. Ele também mudou o relacionamento de seu país com Washington. 

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Na segunda-feira, Trump encontrou Moon para a tão esperada assinatura de um acordo revisado de livre comércio entre as duas nações. No ano passado, as tentativas de revisar o acordo – negociado pelo governo de George W. Bush e conhecido como KORUS - foram um verdadeiro obstáculo entre Washington e Seul. Trump surpreendeu muitos sul-coreanos com sua demanda para desfazer o acordo "horrível". 

As negociações sobre a alteração do KORUS levaram muito mais tempo do que muitos esperavam - de fato, alguns especialistas em comércio ficaram desapontados com os escassos resultados das negociações. "O novo KORUS é apenas o antigo KORUS com pequenos ajustes", twittou Simon Lester, do Instituto Cato.  

Mas Trump, fiel à forma, retratou com entusiasmo as mudanças como um "novo acordo comercial". Em seu discurso na Assembléia Geral da ONU, ele destacou o KORUS como um exemplo de como seu governo estava "renegociando sistematicamente acordos de comércio falidos e ruins".

Moon entende que Trump precisa de vitórias. O presidente fez muitas reclamações e ameaças em seu discurso na ONU, oferecendo "alerta agudo aos líderes [do] Irã, Síria, Venezuela e China sobre o que ele descreveu como seu comportamento desonesto". Quando ele mencionou a Coreia do Norte, no entanto, ele descreveu como um sucesso qualificado. 

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Agora, isso parece uma estratégia vencedora para Moon - e é muito melhor do que a situação sombria na Península da Coreia no ano passado. Mas talvez tenhamos que checar novamente no ano que vem no discurso de Trump para ver se essa nova atitude se mantém. Como sabemos agora, muita coisa pode mudar em 12 meses.

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