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Há menos de uma semana, o presidente Donald Trump impôs a última rodada de sua política tarifária, que atingiu centenas de países em todos os continentes. Desde então, as partes atingidas têm buscado formas de responder à medida.
O tarifaço anunciado por Trump instituiu tarifas mínimas de 10% sobre praticamente todos os produtos importados pelos EUA, além de taxas mais elevadas sobre os países com maior desequilíbrio comercial com o país.
China
A principal afetada pela nova política comercial americana foi a China, que no último dia 2 recebeu uma cobrança adicional de 34% sobre as importações, além dos 20% impostos anteriormente por Trump, e nesta terça-feira sofreu um novo revés com a decisão do governo Trump de ampliar, a partir da meia-noite, em mais 50% essas cobranças, chegando a 104%.
A medida ocorre devido às represálias de Pequim, que imediatamente após o anúncio do dia 2 impôs contramedidas, respondendo com um pacote que inclui uma tarifa recíproca de 34% sobre todas as exportações dos EUA ao mercado chinês, bem como sanções a certas empresas, restrições à exportação de terras raras e a suspensão de importações agrícolas.
Além disso, a China apresentou uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre as "tarifas recíprocas" dos EUA. Nos últimos dias, os dois países têm trocado farpas sobre a guerra tarifária aberta.
Nesta terça-feira, Trump disse que Pequim também busca um acordo tarifário, mas “não sabe como começar" as negociações, acrescentando que a Casa Branca aguarda uma ligação do ditador Xi Jinping para tratar o assunto.
Canadá
Outro país que se mobilizou contra Washington foi o Canadá. No dia seguinte ao anúncio de Trump, o país vizinho anunciou tarifas de 25% às exportações de automóveis dos EUA que não estejam em conformidade com as normas do tratado norte-americano de livre-comércio USMCA, também conhecido como T-MEC.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, disse que a “antiga relação de integração contínua e profunda com os EUA acabou” e que, embora “seja uma tragédia, é também a nova realidade”.
Assim como a China, o Canadá solicitou à OMC consultas com Washington sobre a decisão do governo Trump de impor essas cobranças sobre os produtos canadenses. Esse processo é o estágio inicial da tentativa de solução do impasse.
Antes do anúncio oficial das novas tarifas, o governo canadense já havia anunciado uma tarifa de 25% sobre cerca de US$ 20,7 bilhões em produtos americanos.
União Europeia (UE)
A União Europeia (UE) está no topo da lista das partes mais afetadas pela nova política de Trump, com uma cobrança de 20% sobre seus produtos.
Nesta terça-feira, a Comissão Europeia informou que planeja apresentar na próxima semana um plano de resposta às tarifas que os EUA chamam de "recíprocas" e também às tarifas de Washington sobre automóveis.
No dia anterior, o bloco propôs contramedidas de 25% sobre uma série de produtos americanos, segundo documento consultado pela agência Reuters e pela Agência EFE.
Entre as mercadorias que serão atingidas, estão diamantes, fio dental, salsichas, nozes e soja. Essas cobranças podem entrar em vigor no mês que vem, enquanto outras podem ter início no final do ano, segundo o documento.
Espera-se que os Estados-membros da UE votem nesta quarta-feira (9) a primeira resposta do bloco às sobretaxas anunciadas por Washington.
A Comissão Europeia retirou o uísque bourbon da lista de produtos americanos sobre os quais aplicará tarifas, apesar de constar no documento original. Dessa forma, atendeu a solicitações feitas por alguns de seus membros depois que Trump ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre o vinho e outras bebidas alcoólicas europeias se esse tipo de uísque fosse incluído na lista da UE.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, informou que planeja uma viagem a Washington no próximo dia 17 para conversar com Trump e propor a eliminação recíproca de tarifas industriais com a União Europeia (UE), conforme proposto pelo bloco comunitário.
Meloni, que afirma manter uma boa relação com Trump, anunciou a missão em um encontro com empresas italianas, no Palácio Chigi, em Roma, para estudar o impacto das tarifas.
Outros países negociam diretamente com o governo Trump
O Japão foi um dos primeiros países a buscar uma solução com base no diálogo com os EUA.
O primeiro-ministro Shigeru Ishiba conversou por telefone com Trump nesta segunda-feira e, posteriormente, criou uma força-tarefa para encontrar soluções para a situação das tarifas de 24% impostas ao país asiático.
“Países de todo o mundo estão conversando conosco. Parâmetros rigorosos, mas justos, estão sendo definidos. Falei com o primeiro-ministro japonês [Ishiba] nesta manhã, ele está enviando uma equipe de alto nível para negociar”, informou Trump na rede social Truth Social.
Israel também reagiu rapidamente ao anúncio de tarifas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi a primeira autoridade a se reunir presencialmente com Trump para negociar após a imposição das taxas.
Durante a reunião na Casa Branca, Netanyahu prometeu que seu país irá “eliminar as tarifas” e “uma série de barreiras comerciais” para produtos americanos. Tel Aviv foi atingida por uma taxa de 17% sobre seus produtos que entram nos EUA.
A Índia também já manteve conversas com o governo americano nesta semana para negociar possíveis alternativas às cobranças.
O ministro das Relações Exteriores, S. Jaishankar, conversou com seu homólogo dos EUA, Marco Rubio, no final desta segunda-feira sobre um acordo comercial bilateral. A Índia enfrenta uma tarifa de 26%.
Logo após o anúncio de Trump, o Reino Unido informou que abriria uma consulta com empresas para avaliar possíveis contramedidas. No entanto, o ministro de Empresas e Comércio, Jonathan Reynolds, declarou que buscaria um novo acordo econômico com os EUA antes disso.
A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, reiterou esse posicionamento, ao dizer que a prioridade do governo britânico permanece sendo a tentativa de alcançar um acordo comercial com Washington.
Venezuela decreta emergência econômica nacional
O ditador Nicolás Maduro assinou nesta terça-feira um decreto de emergência econômica de dois meses na Venezuela, em resposta ao que chamou de “guerra comercial sem precedentes” causada pela política tarifária dos EUA.
A medida terá o poder de “ditar todas as medidas que julgar necessárias para garantir o desenvolvimento e o crescimento” do país sul-americano. “Estou procedendo hoje, 8 de abril, para assinar o decreto de emergência econômica que me dá poderes por dois meses para agir, atuar e implementar diversas formas de políticas públicas para defender a economia nacional, protegê-la e avançar”, declarou.
Maduro anunciou que o decreto, que pode ser prorrogado por 60 dias, “deve agora ser imediatamente entregue à Assembleia Nacional (Parlamento)” e entrará em vigor assim que for publicado no Diário Oficial.
Mais de 70 países já pediram para negociar tarifas
Segundo informou a Casa Branca em sua última atualização, cerca de 70 países já entraram em contato com o governo Trump para negociar a retirada das tarifas que começaram a ser impostas na última semana.
“Os países estão trabalhando para reformar suas práticas comerciais injustas e abrir seus mercados ao nosso país, por quê? Porque eles respeitam profundamente o presidente Trump e o poder do mercado americano”, disse a porta-voz do governo, Karoline Leavitt, em entrevista coletiva.
Leavitt disse que Trump se reuniu com sua equipe de Comércio nesta terça-feira e ordenou que ela estabeleça acordos comerciais “sob medida” com cada país que solicitar um pacto.







