
O maquinista Francisco Garzón Amo, condutor do trem que descarrilou na terça-feira, na Galícia, norte da Espanha, foi intimado ontem a depor na Justiça e deve ser formalmente acusado por ultrapassar o dobro da velocidade máxima permitida no trecho do acidente.
Veja o vídeo com imagens perturbadoras do acidente na Galícia captadas por uma câmera de segurança
O número de mortos pelo descarrilamento subiu ontem para 80 pessoas. Segundo os jornais El País e El Mundo, em conversa por rádio com a mesa de operação pouco depois do acidente, Garzón Amo afirmou que conduzia a 190 km/h no trecho, onde o limite máximo é de 80 km/h por se tratar de uma curva fechada na entrada da cidade de Santiago de Compostela.
Garzón Amo, de 52 anos, deve ser acusado pelo excesso de velocidade, apesar de as investigações do caso também considerarem a hipótese de falha técnica os freios podem não ter funcionado.
O tipo de trem que Garzón Amo conduzia, um dos mais modernos da frota espanhola, tem radares internos automáticos que avisam o condutor nos trechos em que a velocidade deve ser reduzida.
Além da Justiça, que ontem recebeu a caixa-preta do trem, o governo espanhol e a Renfe, administradora da linha férrea, abriram investigações próprias sobre o caso.
Ontem foram divulgadas imagens de uma câmera de segurança que registrou o exato momento em que o trem descarrila (veja as imagens nesta página). Os vagões centrais são os primeiros a sair do trilho, enquanto o frontal tomba e se choca contra uma parede. Os dois maquinistas sobreviveram.
Em sua página no Facebook, já desativada, Garzón Amo, que tinha 30 anos de experiência e um ano no trajeto do acidente, havia postado ano passado uma foto do velocímetro de um trem a 200 km/h com a frase "estou no limite".
Hoje, o maquinista prestará depoimento à Justiça assim que sair do hospital.
O ex-maquinista Luis Cierro disse à reportagem que, quando operava nas linhas, havia pressão para o cumprimento de horários a malha ferroviária espanhola, segundo a Renfe, é uma das mais pontuais do mundo. "Saí de lá, não queria jogar com a vida de pessoas", disse Cierro.
Lista oficial das vítimas sairá hoje
Das agências
As buscas por vítimas foram encerradas ontem. Até as 20 h (horário de Brasília), 94 pessoas continuavam internadas em hospitais da região, 35 em estado grave, segundo autoridades de Santiago.
Dos 80 mortos, 67 foram identificados. Ao menos sete são estrangeiros (cinco norte-americanos, uma dominicana e uma mexicana). A Embaixada do Brasil em Madri não havia registrado brasileiros entre elas. Como faltava reconhecer 13 pessoas, a lista oficial com o nome das vítimas deve sair hoje.
A Espanha viveu ontem dia de luto oficial, que durará mais dois dias em todo o país e seis na Galícia. Toda a administração pública fez um minuto de silêncio no início do expediente.
O rei Juan Carlos e o premiê do país, Mariano Rajoy, foram a Santiago para acompanhar as investigações e o trabalho de atendimento.
Acidente afeta plano da Renfe para o Brasil
Folhapress
A empresa espanhola Renfe, operadora estatal dos trens em seu país e uma das principais interessadas em participar do leilão do trem-bala no Brasil, pode ficar fora da concorrência por causa do acidente de terça-feira em Santiago de Compostela.
Em maio, a ministra espanhola de Infraestrutura anunciou que a Renfe, em parceria com a Ineco e a CAF, duas outras companhias espanholas, entraria na disputa.
O governo brasileiro obriga consórcios interessados a ter uma empresa operadora de trens de alta velocidade. Um item do edital do trem-bala no Brasil diz, porém, que a operadora precisa declarar que "não participou da operação de qualquer sistema de TAV [Trem de Alta Velocidade] onde tenha ocorrido acidente fatal, no período de comprovação indicado [5 anos], por causas imputáveis à operação do sistema".
Chineses
A regra de cinco anos sem registro de vítimas foi criada principalmente para afastar operadores chineses, considerados inexperientes em 2011 houve um acidente naquele país com 33 mortos.
Agora, a regra poderá afetar também os espanhóis.



