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Um jovem que estava em coma morreu nesta segunda-feira (26), elevando para quatro o número de mortos na cidade boliviana de Sucre, em meio aos violentos confrontos com a polícia durante o fim de semana.

"José Luis Cardozo morreu na madrugada desta segunda-feira", informou o presidente da Câmara dos Vereadores da prefeitura de Sucre, Fidel Herrera, um dos líderes que encabeçou as manifestações civis contra a aprovação de uma nova Constituição.

Cardozo ficou seriamente ferido e foi internado na CTI do Hospital Santa Bárbara de Sucre, que confirmou seu falecimento.

Sucre virou cenário neste fim de semana de violência e saques por causa da aprovação, no sábado, pela Assembléia Constituinte do texto geral de uma nova Carta Magna sem a presença da oposição.

A partir de agora a Constituição deverá ser aprovada artigo por artigo. O presidente Evo Morales pediu no domingo um pacto social para apaziguar a cidade de Sucre, em uma mensagem exibida em rede de televisão.

O presidente, que responsabilizou seus adversários políticos e civis pela violência, também pediu uma investigação "independente, urgente e imparcial" ao Ministério Público para punir os culpados pelos distúrbios.

A nova Carta

Morales deseja uma nova Constituição para impulsionar sua política de mudanças, que inclui a recuperação de recursos naturais em favor do Estado.

O chefe de Estado garantiu que a nova Constituição será referendada e aprovada pelo povo boliviano por meio de um plebiscito, como previsto na legislação atual do país.

O governante disse que a nova Carta Magna garante as autonomias departamentais e indígenas, assegura a nacionalização dos hidrocarbonetos e declara como "direitos humanos" os serviços básicos de água, energia e telecomunicações, para que não se tornem negócios privados.

Também garante, segundo Morales, a luta contra a corrupção, para investigar fortunas suspeitas e coloca a possibilidade de revogar os mandatos dos prefeitos, governadores regionais e do próprio Presidente. Segundo ele, "estes são os temas importantes em uma transformação democrática, à qual se opõem os grupos oligárquicos e neoliberais do país".

A Constituinte permanecia paralisada desde o dia 15 e agosto, devido a divergências internas e pela pressão exercida por organizações civis de Sucre, que exigiam a aprovação da mudança dos poderes Executivos e Legislativos para esta cidade.

Diante da impossibilidade de se realizar sessões, a Assembléia se mudou na sexta-feira (23) para um colégio militar, uma medida que não foi aceita pela oposição, que boicotou as deliberações. Foi neste contexto, e aproveitando que apenas com seus membros havia quorum, que a maioria governista aprovou o "texto geral" da nova Constituição.

Conflitos

Os fortes choques ocorridos em Sucre e nas proximidades de um colégio militar, onde a Constituinte era deliberada, também deixaram centenas de feridos.

Os manifestantes, especialmente estudantes, destruíram parte do quartel de bombeiros de Sucre, onde foram queimados 10 veículos. Também foram queimadas e saqueadas sedes da polícia de trânsito e outras unidades policiais.

A violência, que já era grande no sábado, aumentou ainda mais no domingo, após ser divulgada a morte, a tiros, do advogado Gonzalo Durán, que teve seu corpo velado por alguns minutos durante a madrugada na Praça de Armas de Sucre.

Membros de organizações sociais que chegaram à Sucre de La Paz, El Alto e Cochabamba, para apoiar os constituintes, seguiram para a cidade de Potosí, para evitar confrontos com a população local.

A Procuradoria Geral, com sede em Sucre, expediu uma ordem de detenção contra os chefes da polícia, entre ele o comandante da unidade policial de Sucre, por "assassinato e lesões graves".

'Grupos delinqüentes'

O presidente da Bolívia, Evo Morales, atribuiu a "grupos de delinquentes" os distúrbios em Sucre, e deu como certa a ratificação de sua nova Carta Magna, aprovada por 136 dos 255 participantes da Assembléia Constituinte.

Em mensagem transmitida pela televisão, Morales não falou concretamente sobre os mortos, mas pediu uma investigação "urgente e imparcial" para encontrar os responsáveis pelos distúrbios.

O presidente também acusou o líder opositor e ex-presidente Jorge Quiroga, chefe da aliança direitista Poder Democrático e Social (Podemos), de ter promovido e "previsto" a violência na cidade.

Morales felicitou os "movimentos sociais", como chama os partidos e sindicatos que apóiam seu governo, por terem apoiado a Assembléia Constituinte e a aprovação em primeira instância da nova Carta Magna, ocorrida no último sábado, em um colégio militar nos arredores de Sucre.

Polícia se retira

O chefe de polícia da Bolívia, general Miguel Vásquez, ordenou neste domingo (25) a retirada de seus oficiais da conturbada cidade de Sucre (sudeste), por falta de garantias. Um policial boliviano, Jimmy Quispe Carazas, morreu após ser linchado por uma multidão na madrugada, durante os choques entre forças de segurança e grupos de manifestantes.

"Não existindo as garantias, o alto comando policial e o Estado-Maior geral decidiram pela retirada de todos os oficiais até que se apresentem as garantias correspondentes", afirmou Vásquez em uma entrevista coletiva.

Fontes policiais afirmam que os manifestantes continuam atacando e saqueando estabelecimentos da polícia, em meio a um completo descontrole e caos em Sucre, cidade na qual 170 criminosos já fugiram das prisões.

O coronel José Galván, chefe da polícia no departamento de Chuquisaca, cuja capital é Sucre, disse que seus agentes queriam deixar a cidade, pois a situação é "incontrolável". Fotógrafos atacados

Um grupo de jornalistas que cobria a manifestação foi atacado e ameaçado de morte pelos policiais bolivianos. Entre eles havia jornalistas do jornal "El Deber", o de maior tiragem do país, do consórcio de TV privado PAT e pelo menos um fotógrafo da agência de notícias France Presse.

Os jornalistas se refugiaram em uma casa particular a um quarteirão do quartel da polícia.

Em outro incidente, Lola Almudevar, repórter britânica da rede de notícias "BBC", morreu em um acidente de carro enquanto se dirigia a Sucre, para cobrir os confrontos. Com ela, estavam outras quatro pessoas, incluindo um redator da agência britânica "Reuters", Eduardo García Gil, que se feriram.

O automóvel dos jornalistas se chocou contra dois veículos pesados que estavam parados na estrada, depois de uma batida na cidade andina de Ayo Ayo, durante a madrugada.

A esposa do taxista que levava os jornalistas, Clotilde Fernández, também faleceu, assim como outras três pessoas não identificadas que estavam nos outros carros envolvidos na colisão.

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