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Confronto entre polícia e sem-terra deixa 17 mortos no Paraguai

Incidente, que terminou em tiroteio, ocorreu durante uma tentativa da polícia de expulsar 150 camponeses que invadiram uma reserva florestal

Corpo de policial paraguaio morto é carregado por colegas. Confronto entre sem-terra e polícia deixou 17 mortos | Norberto Duarte/AFP
Corpo de policial paraguaio morto é carregado por colegas. Confronto entre sem-terra e polícia deixou 17 mortos (Foto: Norberto Duarte/AFP)
Militares paraguaios carregam os corpos |

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Militares paraguaios carregam os corpos

Feridos foram atendidos dentro de avião |

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Feridos foram atendidos dentro de avião

Imprensa e exército acompanham o atendimento aos feridos |

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Imprensa e exército acompanham o atendimento aos feridos

Corpos em fila enquanto aguardavam remoção |

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Corpos em fila enquanto aguardavam remoção

Muitas pessoas particaparam da operação |

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Muitas pessoas particaparam da operação

Militares também sofreram ferimentos nos confrontos |

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Militares também sofreram ferimentos nos confrontos

Jovem ferido observa a movimentação |

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Jovem ferido observa a movimentação

Feridos chegavam a todo momento no pronto socorro |

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Feridos chegavam a todo momento no pronto socorro

Cinegrafista capta momento de sofrimento |

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Cinegrafista capta momento de sofrimento

Saguão do Hospital ficou lotado |

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Saguão do Hospital ficou lotado

Polícia fortemente armados no confronto |

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Polícia fortemente armados no confronto

Policiais no momento da ação contra os sem-terra |

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Policiais no momento da ação contra os sem-terra

Vários policias foram atingidos |

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Vários policias foram atingidos

Além das viaturas, um helicóptero foi utilizado na operação |

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Além das viaturas, um helicóptero foi utilizado na operação

Rodovia paraguaia foi interditada durante a ação |

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Rodovia paraguaia foi interditada durante a ação

Pelo menos oito policiais e nove camponeses morreram nesta sexta-feira (15) no confronto durante a desapropriação de uma fazenda no nordeste do Paraguai, no pior incidente relacionado à posse de terras nas últimas duas décadas no país. O episódio forçou a saída do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas, que deixaram seus cargos pressionados pelo Congresso. "O ministro Carlos Filizzola colocou o seu cargo à disposição, assim como o comandante da Polícia Nacional... E o presidente aceitou", disse a jornalistas o ministro da Educação, Víctor Ríos.

Veja imagens do confronto no ParaguaiSaiba mais sobre a reserva onde ocorreu o confronto

Filizzola havia anunciado mais cedo que sete policiais e pelo menos nove camponeses morreram na operação. Outro agente morreu enquanto era levado à capital de helicóptero e as autoridades não descartaram um número maior de vítimas entre os camponeses, que são procurados numa área de densa floresta. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, leu na capital um comunicado sobre a violência. "Expresso meu grande pesar e repúdio aos fatos que conduziram à morte de pessoas", disse Lugo. "Manifesto o mais firme apoio às forças da ordem que se desempenham na defesa e preservação da lei", afirmou o mandatário.

O governo Lugo ordenou a intervenção das Forças Armadas para apoiar a polícia na região e descartou o envolvimento do grupo de extrema esquerda Exército do Povo Paraguaio (EPP) nos confrontos.

"A ação se deu com base em uma ordem judicial para a desapropriação... houve disparos por parte deles, a polícia também teve que responder a isso", disse Filizzola sobre o que aconteceu no terreno privado da colônia Ybyrá Pyta no departamento Canindeuyú, a 240 quilômetros de Assunção. O comandante do Exército disse que cerca de 150 efetivos militares serão enviados imediatamente à região localizada na fronteira com o Brasil, uma área onde coexistem lavouras de soja, criação de gado e grandes cultivos ilegais de maconha.

Linhas de ação "Todos os organismos de segurança do governo e suas áreas estratégicas estão trabalhando neste momento em linhas de ação que devolverão a calma e a tranquilidade a esta região", disse Lugo em mensagem à nação. O dirigente rural José Rodríguez afirmou a uma emissora de rádio local que os camponeses que morreram no confronto faziam parte de um grupo que resolveu resistir à desapropriação. "São camponeses humildes que decidiram tomar essa decisão lamentavelmente", afirmou. Mas a promotora Ninfa Aguilar declarou que o grupo tinha treinamento militar, armas de guerra e bombas caseiras. "Estão vestidos com roupa militar... prepararam trincheiras, bombas, tinha tudo preparado para combater. Não são simplesmente camponeses, estavam preparados para o enfrentamento", garantiu.

Grupo radical Ela não descartou a presença do EPP, um pequeno grupo radical responsável por sequestros e assassinatos durante a última década que opera no norte do país e aspira se converter em uma guerrilha. Filizzola disse que o governo não tinha elementos para vincular o grupo ao conflito. Uma fonte policial contou que todos os agentes mortos receberam impactos de bala de grosso calibre na cabeça. A fazenda de cerca de 2.000 hectares pertence a um conhecido empresário local que há 20 dias denunciou a entrada do grupo de umas 100 famílias. As organizações denunciam que são "terras ilícitas" produto da distribuição entre aliados durante a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989). A reforma agrária era uma das prioridades do governo de Lugo, mas o mandatário teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras.

Reserva florestal

A reserva florestal, de dois mil hectares, fica dentro da fazenda Morumbi, propriedade do ex-senador paraguaio Blas Riquelme, do Partido Colorado (oposição).

"Há vinte anos declaramos o bosque como reserva florestal, mas desde o ano passado os sem-terra insistem em se instalar nela. Os fiscais Miguel Rojas e Ninfa Aguilar ordenaram o despejo meses atrás, mas a polícia não cumpriu o mandado judicial porque primeiro tentou uma saída pacífica dos invasores", disse José Riquelme, filho do proprietário.

Héctor Cristaldo, presidente da Coordenação Agrícola do Paraguai entidade patronal do agronegócio, disse que o governo "foi muito brando, nos últimos três anos, com os invasores de propriedades privadas. Inclusive, quando há alguns meses os sem-terra invadiram uma fazenda de soja no departamento do Alto Paraná, o presidente Lugo os ajudou com alimentos, médicos, enfermeiras e instalou escolas móveis no local. Isso não foi correto", opinou Cristaldo.

José Rodríguez, considerado assessor dos invasores, comentou: "Lugo não pode solucionar um problema social grave, que é a recuperação das terras do Estado, adquiridas há décadas por pessoas não sujeitas à reforma agrária, como Riquelme. Vivemos uma situação séria no Paraguai e ela ficará pior porque os pobres precisam de um pedaço de terra". Ele disse que os sem-terra resistiram à polícia apenas com revólveres de calibre 22.

Lugo está a doze meses do final do seu mandato e não cumpriu uma das suas promessas, a reforma agrária para 87 mil famílias camponesas pobres. O governo não pôde comprar terras por falta de dinheiro no orçamento, ante a ausência de terras do Estado para alojar os camponeses sem-terra.

As informações são da Associated Press.

Confronto polícia x sem-terra

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