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Esta foto tirada em 29 de novembro de 2017 pela Agência Coreana Central de Notícias da Coréia do Norte (KCNA) mostra o lançamento do míssil Hwasong-15, que é capaz de atingir todas as partes dos EUA | KCNA VIA KNS/AFP
Esta foto tirada em 29 de novembro de 2017 pela Agência Coreana Central de Notícias da Coréia do Norte (KCNA) mostra o lançamento do míssil Hwasong-15, que é capaz de atingir todas as partes dos EUA| Foto: KCNA VIA KNS/AFP

Agências de espionagem americanas estão vendo sinais de que a Coreia do Norte está construindo novos mísseis na fábrica que produziu os primeiros mísseis balísticos intercontinentais do país, capazes de atingir os Estados Unidos, de acordo com oficiais familiarizados com o assunto.

A evidência obtida recentemente, que inclui fotos de satélite tiradas nas últimas semanas, indica que a Coreia está trabalhando em pelo menos um ou possivelmente dois mísseis balísticos intercontinentais de combustível líquido em um grande centro de pesquisas em Sanumdong, na periferia de Pyongyang, de acordo com os funcionários, que falaram sob condição de anonimato. 

A descoberta é a mais recente a demonstrar as atividades que estão ocorrendo nas instalações nucleares e de mísseis da Coreia do Norte, apesar das negociações entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, sobre desnuclearização na Península Coreana. A nova informação não sugere uma expansão das capacidades da Coreia do Norte, mas mostra que o trabalho com armas avançadas continua depois que o presidente Trump declarou que Pyongyang "não é mais uma ameaça nuclear". 

Os relatórios sobre a construção de novos mísseis vêm depois de recentes revelações sobre uma suposta instalação de enriquecimento de urânio, chamada Kangson, que a Coréia do Norte estaria operando em segredo. O secretário de Estado, Mike Pompeo, reconheceu durante o depoimento do Senado na semana passada que as fábricas norte-coreanas "continuam a produzir material físsil", usado na fabricação de armas nucleares. Ele se recusou a dizer se Pyongyang estaria construindo novos mísseis. 

Durante a cúpula de Cingapura, em 12 de junho, Kim concordou com uma promessa vagamente formulada para "trabalhar para" a "desnuclearização" da Península Coreana. Mas desde então a Coreia do Norte fez poucos movimentos que sinalizam sua intenção de se desarmar. 

Em vez disso, altos funcionários do regime norte-coreano têm discutido a intenção de enganar Washington a respeito do número de ogivas nucleares e mísseis que eles têm, bem como os tipos e números de instalações, bem como para repelir os inspetores internacionais, de acordo com informações recolhidas pela agências dos EUA. Sua estratégia inclui potencialmente afirmar que eles se desmobilizaram completamente, declarando e descartando 20 ogivas, enquanto retêm outras dezenas. 

O poderoso Hwasong-15 

A fábrica de Sanumdong produziu dois dos mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte, incluindo o poderoso Hwasong-15, que poderia permitir que atingisse a costa leste dos EUA. As evidências recolhidas apontam para a produção de pelo menos um Hwasong-15 na fábrica Sanumdong, de acordo com imagens coletadas pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial nas últimas semanas. 

"Nós os vemos indo para o trabalho, como antes", disse um oficial americano que, como os outros, falou sob condição de anonimato. A exceção, disseram os especialistas, é a estação de lançamento de satélites Sohae, na costa oeste da Coreia do Norte, onde os trabalhadores podem ser observados desmontando um local de testes de motores, honrando a promessa feita a Trump na cúpula. 

Analistas e especialistas independentes, no entanto, veem esse desmantelamento em grande parte como simbólico, já que a Coreia do Norte lançou com sucesso seus mísseis intercontinentais que usam os motores de combustível líquido testados em Sohae. Além disso, o local de testes poderia ser facilmente reconstruído em alguns meses. 

Especialistas independentes confirmam descoberta 

Reforçando as descobertas da inteligência americana, especialistas em mísseis independentes também relataram esta semana que observaram atividades que condizem com a construção de mísseis na fábrica de Sanumdong. O movimento diário de caminhões de abastecimento e outros veículos, como revelam fotos capturadas por satélites comerciais, mostra que a instalação de mísseis "não está parada", segundo Jeffrey Lewis, diretor no Centro James Martin de Estudos de Não Proliferação. O grupo sem fins lucrativos de Monterey, na Califórnia, analisou fotos comerciais obtidas da empresa de imagens de satélite Planet. 

"Esta é uma instalação onde eles constroem mísseis intercontinentais e veículos de lançamento espacial", disse Lewis sobre a fábrica de Sanumdong. 

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Curiosamente, uma imagem de 7 de julho mostra um trailer coberto de vermelho brilhante em uma área de carregamento. O trailer parece idêntico aos usados pela Coreia do Norte anteriormente para transportar mísseis intercontinentais. Para o que o trailer foi usado no momento da fotografia não está claro. 

Usina de enriquecimento de urânio 

O grupo de Lewis também publicou imagens de uma grande instalação industrial que alguns analistas da inteligência americana acreditam ser a usina de enriquecimento de urânio Kangson. As imagens,publicadas primeiramente pelo site The Diplomat, retratam um edifício do tamanho de um campo de futebol cercado por um muro alto, no distrito de Chollima-guyok, a sudoeste da capital Pyongyang. O complexo tem uma entrada única e vigiada e conta com torres residenciais altas, aparentemente usadas pelos trabalhadores. 

O histórico de fotos de satélite mostra que a instalação foi concluída externamente até 2003. As agências de inteligência acreditam que ela está operacionando há pelo menos uma década. Se assim for, o estoque de urânio enriquecido da Coreia do Norte poderia ser substancialmente maior do que se acredita. As agências de inteligência dos EUA nos últimos meses aumentaram suas estimativas do tamanho do arsenal nuclear da Coreia do Norte, levando em conta o urânio enriquecido em pelo menos um local secreto. 

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A instalação de Kangson foi identificada pela primeira vez publicamente em maio, em uma reportagem do Washington Post, que citava pesquisas do especialista em armas nucleares David Albright. Alguns oficiais de inteligência europeus não estão convencidos de que o Kangson seja usado para enriquecimento de urânio, mas há um amplo consenso entre as agências de inteligência americanas de que Kangson é uma das pelo menos duas fábricas secretas de enriquecimento. 

A real vontade da Coreia do Norte 

Autoridades e analistas privados dos EUA disseram que a continuidade da atividade no complexo armamentista da Coreia do Norte não é surpreendente, uma vez que Kim não fez nenhuma promessa pública de suspender o trabalho nas dezenas de instalações nucleares e de mísseis espalhadas pelo país. 

“Os norte-coreanos nunca concordaram em desistir de seu programa nuclear", disse Ken Gause, especialista em Coreia do Norte no Centro de Análise Naval. “E é tolice esperar que eles o façam no início das negociações”, acrescentou. 

"Regime de sobrevivência e perpetuação da família Kim no poder" são os princípios orientadores de Kim, segundo o especialista. "O programa nuclear fornece-lhes segurança contra a mudança de regime pelos Estados Unidos. Desistir da capacidade nuclear violará os dois centros de gravidade fundamentais do regime norte-coreano". 

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Pompeo, na audiência do Senado na semana passada, procurou assegurar aos legisladores que as negociações com a Coreia do Norte sobre o desarmamento da península continuam e que o esforço para desmantelar o arsenal nuclear do país estava apenas começando. 

Mas alguns analistas independentes acreditam que o governo Trump interpretou mal as intenções de Kim, entendendo seu compromisso com a eventual desnuclearização como uma promessa de entregar imediatamente o arsenal nuclear do país e desmantelar suas fábricas de armas. 

"A Coreia do Norte não está negociando para desistir de suas armas nucleares", disse Lewis. "Eles estão negociando pelo reconhecimento de suas armas nucleares, estão dispostos a conceder em algumas coisas, como não fazer testes nucleares e de mísseis intercontinentais. O que eles estão oferecendo é: eles mantêm a bomba, mas param de falar sobre isso".

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