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Segurança

Crise econômica coloca partidos europeus contra ofensiva no Afeganistão

Recessão põe em xeque participação da União Europeia na campanha liderada pelos Estados Unidos

Soldados alemães patrulham área urbana no norte do Afeganistão: dois terços da população da Alemanha não acreditam em missão pacífica | Fabrizio Bensch/Reuters
Soldados alemães patrulham área urbana no norte do Afeganistão: dois terços da população da Alemanha não acreditam em missão pacífica (Foto: Fabrizio Bensch/Reuters)
Confira que os EUA dependem de 41 países que integram a operação contra os talebans |

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Confira que os EUA dependem de 41 países que integram a operação contra os talebans

Enquanto os EUA promovem o aumento de tropas para combater os talebans do Afeganistão – aliados dos terroristas da organização responsável pelo 11 de Setembro de 2001 e pe­­lo atentado ao metrô de Madri de 2004, a Al Qaeda – a Europa tenta se desvencilhar da batata quente.

Como formadores da Otan, os países europeus respondem por cerca da metade dos homens que integram a Força de Assistência para a Se­­gu­­rança (Isaf) no Afega­­nistão. O contexto agora é desfavorável para a retirada de tropas, com a intensificação da violência – um atentado suicida do Taleban matou civis na sexta-feira, em Ca­­bul – e a proximidade da tensa eleição presidencial de 20 de agosto. Mas a recessão econômica fala mais alto e serve de argumento para as vozes que pedem a redução das tropas enviadas para contribuir com a invasão iniciada pelos EUA em 2001.

"A crise internacional agravou as dificuldades de todos os Estados, principalmente dos desenvolvidos, que tinham diversos investimentos em subprime (créditos de risco). E a necessidade de corte de custos obriga di­­versos deles a acelerar a retirada de tropas", diz o professor de Relações Interna­cionais da Universidade Católica de Brasília, Juliano Cor­­tinhas.

O argumento financeiro vem bem a calhar aos partidos que pleiteiam a retirada. "Os europeus têm consciência de que a saída da guerra é menos política e mais econômica", explica a professora de geopolítica do Curso Positivo, Lu­­ciana Worms.

No Reino Unido, uma pesquisa publicada pelo jornal inglês The Independent revelou que 52% dos britânicos querem a saída imediata das tropas. Para 58%, será im­­pos­­sível ganhar a guerra contra os talebans.

O ministro das Relações Exte­­rio­­res do Reino Unido, David Mi­­li­­­­band, propõe que a estratégia adotada até agora pelas forças con­­juntas da Otan seja revista pa­­ra aliar diplomacia e estímulo do desenvolvimento à ação militar – na qual, só em julho, morreram 20 britânicos.

Na Alemanha – que, teoricamente, comporia uma força de paz, mas, na prática, enfrenta os talebans –, a veiculação de vídeos de ameaça terrorista aquece o já acalorado debate sobre a retirada das tropas. Em campanha para as eleições federais de 27 de se­­tembro, partidos de oposição utilizam o tema, enfatizando a opinião de dois terços da população, que não acreditam na manutenção do projeto original de participação pacífica.

Na Itália, que tem a sexta maior força na operação "Enduring Free­­dom" ("liberdade duradoura"), com quase 2.800 homens, a pressão pela retirada das tropas nacionais do país dos talebans passa pe­­la oposição entre partidos de centro-esquerda e aqueles de ex­­trema di­­reita, mais conhecido pela posição crítica à imigração. O ministro sem pasta Roberto Cal­­deroli, que integra a xenófoba Le­­ga Nord, pressionou na semana passada pela saída das tropas. O pedido foi refutado pelo ministro de Re­­lações Exterio­res, Franco Frattini: "Estamos trabalhando pe­­­­la segurança da Itália, inclusive aquela de Calderoli. Va­mos ficar", disse.

Mesmo em países europeus com pouca representação na guerra a discussão é acalorada. Portu­­gal, com 90 homens combatendo no Afeganistão no momento, en­­viou mais 40 neste mês sob críticas nacionais. O pesquisador e coronel David Martelo, por exemplo, afirmou ao Jornal de Notícias que "aqui­­lo que leva Portugal ao Afe­­ganistão é tão ‘ilógico’ como os impostos dos alemães e dos holandeses servirem para construir au­­toestradas lusas. No fundo, temos de mostrar solidariedade com eles. Se Portugal não se alinhasse nestas missões, a opinião pública desses países co­­meçaria a questionar por que têm de contribuir para o nosso bem-es­tar. Ou queremos ser sócios desses clubes e pagamos a quota, ou en­­tão deixamos de ter direito às suas be­­nesses". O militar se refere às van­­tagens trazidas pela adesão de Por­­tugal à União Europeia, em 1986.

Ameaça

Apesar das críticas, se depender do líder da operação, o comandante em chefe Barack Obama, ninguém arreda o pé. "A missão no Afega­­nistão é uma daquelas em que os europeus têm tanto em jogo como nós, ou mesmo mais", declarou à Sky News, nas proximidades de Acra, capital de Gana, há duas se­­manas. E isso por uma razão muito palpável: "A hipótese de um ataque terrorista em Lon­­dres é tão provável, senão mesmo mais, quanto a de um ataque nos EUA", disse Obama.

O representante dos EUA na Otan, Ivo Daalder, faz coro ao chefe e pede que a Europa desembolse homens e fundos para a operação. "O reforço de tropas enviado para as eleições deve permanecer lá", disse.

"O argumento de Obama é que existe grande possibilidade de Osama Bin Laden ainda estar por lá", diz a professora Luciana Worms, lembrando da promessa de capturar o mentor do ataque às Torres Gêmeas.

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