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O ditador de Cuba, Miguel Diaz-Canel, durante um evento realizado em Havana em novembro de 2023
O ditador de Cuba, Miguel Diaz-Canel, durante um evento realizado em Havana em novembro de 2023| Foto: EFE/ Ernesto Mastrascusa

O Hospital Pediátrico Docente de El Cerro, que já foi considerado um dos melhores da área em Cuba, enfrenta neste momento uma grave crise em seu quadro de funcionários, depois que vários médicos decidiram pedir demissão por causa das péssimas condições de trabalho e dos baixos salários. A informação sobre a situação da unidade de saúde foi revelada por meio de uma reportagem do portal independente cubano 14ymedio.

A situação reflete o atual colapso do sistema de saúde pública que está afetando o país caribenho neste momento, que tem sido alvo de protestos e denúncias por parte de pacientes e seus familiares.

O Hospital Pediátrico Docente de El Cerro, que fica localizado na capital de Cuba, Havana, está praticamente abandonado, conforme noticiou o 14ymedio. Segundo uma funcionária do hospital e vários moradores da região que falaram anonimamente com o portal, diversos médicos que trabalhavam na unidade de saúde deram um “basta” nas más condições em que exerciam sua profissão e deixaram o local no final de dezembro de 2023.

Todos que decidiram falar anonimamente com o portal de notícias cubano apontaram para a falta de recursos, de reconhecimento e de respeito pela profissão, como os principais motivos que levaram a saída em massa dos profissionais.

Segundo o 14ymedio, os médicos que atuavam no hospital já haviam reclamado anteriormente que não tinham materiais básicos para atender os seus pacientes, que não recebiam um salário digno, que sofriam com a pressão e a hostilidade da administração e que estavam expostos a riscos de contágio e violência. Além disso, muitos deles afirmaram que estavam tendo que trabalhar em jornadas exaustivas, sem descanso nem incentivos.

O portal cubano veiculou um estudo realizado em 2019 por um grupo de pesquisadores que apontou que os médicos do hospital El Cerro sofriam de um alto nível de desgaste profissional, que se manifestava em sintomas de exaustão e baixa produtividade.

O estudo também mostrou o lado humano da situação, apontando que diversos médicos se sentiam culpados e frustrados emocionalmente por causa das dificuldades que enfrentavam no trabalho.

A crise do hospital de El Cerro não é um caso isolado dentro do precário sistema de saúde pública da ilha comunista, que está vivendo sua mais grave crise econômica em décadas. A escassez de medicamentos, a insalubridade, a falta de equipamentos, bem como a repressão são alguns dos outros problemas que afetam neste momento a qualidade e a acessibilidade dos serviços médicos cubanos.

Os próprios pacientes e seus familiares são testemunhas e vítimas dessa realidade. Em novembro de 2023, o portal 14ymedio noticiou que um grupo de mães de crianças cubanas com doenças graves ou de difícil tratamento protestou em frente ao Ministério da Saúde Pública da ilha, exigindo uma melhor atenção para seus filhos. Algumas chegaram a ser presas pela polícia do regime de Miguel Díaz-Canel, que tentou impedir a manifestação.

Durante o ato, as mulheres gritaram palavras de ordem contra o comunismo e o regime castrista, responsabilizando-os pela situação de abandono e desamparo que viviam.

“Não queremos mais comunismo, queremos uma solução”, disseram elas.

Em meio a toda essa crise, o Observatório Cubano de Conflitos, uma organização de direitos humanos, afirmou que o regime comunista segue explorando e “exportando” médicos para outros países.

Segundo um artigo publicado pela organização em novembro de 2023, essa prática já se tornou uma das principais fontes de renda do regime de Díaz-Canel. A organização veiculou que, segundo dados oficiais, desde os anos 60 mais de 400 mil profissionais de saúde cubanos trabalharam em 164 países, sendo que atualmente cerca de 30 mil estão atuando em 66 países. A organização observa que esses médicos não são contratados de forma voluntária e justa, mas sim obrigados a aceitar as condições de trabalho que “violam seus direitos humanos e trabalhistas”.

Conforme explicou a ONG, diversas denúncias e investigações apontam que os médicos cubanos enviados pelo regime para trabalhar no exterior recebem apenas uma pequena parte do salário que é pago pelos países contratantes, enquanto o resto fica nas mãos do regime comunista da ilha. Além disso, eles são submetidos a uma vigilância constante, que envolve um controle ideológico, um isolamento de suas famílias e o alto risco de represálias se decidirem desertar ou denunciar a situação. Muitos deles também são enviados para zonas perigosas ou conflituosas, onde não têm garantias de segurança nem de assistência.

De acordo com dados da organização de direitos humanos Prisoners Defenders, existe atualmente cerca de 5 mil médicos cubanos espalhados por dezenas de países que não podem mais “ver seus filhos, esposas ou pais que ainda vivem na ilha”. A organização afirma que esses médicos foram proibidos de retornar para Cuba após “abandonarem” o programa do regime comunista de enviar médicos para o exterior.

Assim como atinge os médicos que vivem fora do país caribenho, a repressão do regime comunista cubano também alcança os médicos que permaneceram na ilha, mas que ousaram denunciar as falhas e as injustiças do sistema de saúde local. Segundo informações do 14ymedio, veiculadas em novembro de 2023, seis médicos do Hospital Carlos Manuel de Céspedes, localizado na província de Granma, foram julgados e condenados por uma suposta negligência na morte de um jovem acidentado em 2021. Os médicos, no entanto, alegaram que não tinham os recursos necessários para atender o paciente, e que foram vítimas de um processo político feito para encobrir a responsabilidade do regime na crise sanitária cubana.

Entrevistado pelo portal, o urologista cubano Aldo Luis Zamora Varona acusou o regime cubano de negligência e disse que o Estado era o “único responsável” pela morte do jovem, já que os profissionais de saúde da ilha trabalham em condições precárias “jamais vistas nem no país mais pobre do mundo”.

Dados oficiais de 2022, publicados pela Oficina Nacional de Estatísticas e Informação (ONEI) de Cuba, apontaram para uma redução drástica no número de médicos na ilha: de 312.406 em 2021 para 281.098 em 2022. Esse declínio reflete as renúncias e a emigração de profissionais de saúde, evidenciando o descontentamento deles com as condições precárias de trabalho e as políticas governamentais.

Segundo informações do portal Diário das Américas, de 2021 para 2022 mais de 30 mil médicos cubanos renunciaram a seu posto de trabalho ou emigraram do país.

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