
A "guerra" entre o governo de Cristina Kirchner e o Clarín, maior conglomerado de comunicação da Argentina, deve ter uma batalha decisiva no próximo dia 7 de dezembro. Nessa data acaba o prazo para que o grupo se enquadre na Lei de Serviços Audiovisuais do país, aprovada em 2009. A legislação prevê uma cláusula antimonopólio, que restringe licenças concedidas pelo governo aos meios de comunicação.
O grupo Clarín será o mais afetado pela mudança, pois sua rede de tevê a cabo, a Cablevisión, domina 60% dos canais fechados argentinos. Com a nova lei, o conglomerado precisaria se desfazer de parte dos seus negócios. Uma medida judicial tem protegido a empresa, mas o prazo vence em 7D (como é chamada a data).
O Clarín e o La Nación são dois dos poucos jornais que ainda mantêm postura crítica em relação ao governo. Desde que a legislação foi aprovada, empresas de comunicação se alinharam à presidente, que, em troca, retribui com receita publicitária estatal.
"O Clarín é um dos grupos mais visados pelo governo e que ainda existe por causa da medida cautelar. A demanda da empresa é que o artigo [antimonopólio da Lei de Serviços Audiovisuais] seja considerado inconstitucional", publicou o jornal na semana passada.
Crise
O 7D tem potencial para desencadear uma nova etapa da crise política no país, que enfrentou em 8 de novembro um dos maiores protestos espontâneos de sua história.
Na ocasião, 700 mil pessoas foram às ruas de Buenos Aires pedir mudanças no governo.
Para Graciela Romer, diretora de uma empresa de consultoria em Buenos Aires, a crise com o grupo Clarín não está diretamente ligada a esse protesto.
"O movimento questionou o estilo de gestão do kirchnerismo, que tem traços autoritários, e a falta de respostas visíveis a problemas como a falta de segurança, a inflação e as mudanças constitucionais", disse à Gazeta do Povo.
Na redação do Clarín, o clima é de tensão. Apoiadores do governo de Cristina, chamados de "Ks", anunciaram protestos na frente da redação do jornal.
O grupo deve tentar estender a medida cautelar para mais um ano.
No entanto, a aprovação da lei do "per saltum" na semana passada, que permite que a presidente interfira em decisões judiciais em matérias de interesse social, pode complicar as intenções do conglomerado.
O argentino Mário Sacchi, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, diz que a primeira ação com a lei será o enquadramento do Clarín.
Para descobrir o que vai acontecer, será preciso esperar até o próximo dia 7.
AcampamentoSoldados querem reconhecimento por serviço nas Malvinas
Um grupo de soldados argentinos está acampado há cinco anos na Praça de Maio, em frente da Casa Rosada de Buenos Aires, para pedir reconhecimento pelo serviço que prestaram na guerra das Malvinas, em 1982. São homens que lutaram contra a Inglaterra e que, desde a década de 1990, não recebem apoio do governo.
O movimento é apenas um dos muitos grupos que alegam não serem ouvidos pelo governo de Cristina Kirchner nos últimos anos. "Não tivemos diálogo nenhum com os últimos presidentes. Agora é ainda pior", diz o porta-voz do grupo, Eduardo Jose Ochoa.
O acampamento representa cerca de 400 homens que esperam que a sociedade argentina os reconheça como veteranos de guerra. Apesar de não falarem sobre compensações financeiras, o título é acompanhado de pensões do governo e um trabalho de inclusão social desses ex-soldados.
"Só queremos que o governo nos dê o nosso direito. Em outros países, seríamos tratados como heróis", diz Ochoa.
Conflito
Após o fracasso na tentativa de conquistar as Malvinas da Inglaterra, em 1982, os argentinos firmaram um pacto de paz com os britânicos no início dos anos 1990. O arquipélago voltou à pauta política do país depois que petrolíferas europeias anunciaram que iriam explorar os recursos da região no ano passado.
Como retaliação, a presidente Cristina Kirchner proibiu que navios ingleses atracassem em seu país e anunciou um referendo para decidir se os habitantes das Malvinas seriam favoráveis à anexação com a Argentina. A votação ocorre em março de 2013.



