
A atenção dispensada pela mídia e pelo público, dentro e fora do Reino Unido, ao nascimento de George Alexander Louis, o príncipe de Cambridge, filho de William e Kate, é injustificável para os críticos da realeza britânica.
O jornal inglês The Guardian, como exemplo da divisão de opiniões, deixa que o leitor que acessa o diário na internet escolha: clicando em "monarquista", a página aparece com uma quantidade intimidante de notícias sobre o bebê real; clicando em "republicano", tudo que envolve a coroa é eliminado da vista.
Para o professor de História Contemporânea Wilson Maske, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, os críticos da coroa ignoram o retorno que ela dá à nação. Inclusive financeiro.
Na entrevista a seguir, feita por telefone, Maske fala sobre a relevância da monarquia britânica e do fascínio que ela suscita.
Como você explica a comoção gerada pelo nascimento do bebê real?
Tem muito a ver com o fato de o Reino Unido ser a última grande monarquia. Muitos Estados se transformaram em repúblicas e não existe mais esse elemento de sonho, de encantamento que a monarquia desperta. A monarquia britânica, em especial, alimenta isso, cultuando a tradição. A família real mostra uma capacidade de se modernizar sem abandonar a tradição.
Qual é a relevância hoje da coroa para a Grã-Bretanha?
Ela representa a continuidade. É uma instituição numa época em que os jogos políticos parecem tão perigosos, em que os políticos têm má fama. A instituição monárquica da Grã-Bretanha sabe se manter, assumindo uma postura, digamos, de liderança, com um alto índice de aprovação que ocorre principalmente porque não governa. Eles são símbolos que representam tradições muitas vezes inventadas, mas que sintetizam a nação.
Qual é o papel da rainha Elizabeth II?
Enquanto um primeiro-ministro se expõe com políticas que influenciam a administração do dia a dia, o monarca britânico assume esse papel cerimonial, um papel realmente importante de liderança moral. Ao mesmo tempo em que preserva essa unidade do país, o monarca escapa do desgosto do cotidiano, da administração pública que muitas vezes vai contra interesses de determinados grupos, ou que se alia a determinados outros. Todos os primeiros-ministros dos últimos anos se queimaram de alguma forma.
Há críticos que dizem que a familia real é um peso para a Inglaterra. Isso é verdade?
Realmente, existe um gasto de cerca de 40 milhões de libras anuais [R$ 137,6 milhões na cotação de ontem]. No entanto, alguns defensores dizem que, em função da popularidade deles, do interesse que despertam no mundo todo, a figura da família real acaba atraindo recursos para o Reino Unido. Com turismo, com atividades realizadas em torno da família real como exposições, visitas aos sítios reais, aos palácios... A família real atrai muito mais dinheiro do que gasta.
Existe um retorno que muitas vezes não é mensurado por quem critica. O interessante neles é essa capacidade de se reinventar e de se modernizar, ao mesmo tempo mantendo uma certa tradição.



