Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Análise

Culto à tradição dá força para a monarquia inglesa

Wilson Maske, professor de História Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Paraná

George Alexander Louis, o príncipe de Cambridge, na sua primeira aparição pública | John Stillwell/Reuters
George Alexander Louis, o príncipe de Cambridge, na sua primeira aparição pública (Foto: John Stillwell/Reuters)

A atenção dispensada pela mídia e pelo público, dentro e fora do Reino Unido, ao nascimento de George Alexander Louis, o príncipe de Cambridge, filho de William e Kate, é injustificável para os críticos da realeza britânica.

O jornal inglês The Guardian, como exemplo da divisão de opiniões, deixa que o leitor que acessa o diário na internet escolha: clicando em "monarquista", a página aparece com uma quantidade intimidante de notícias sobre o bebê real; clicando em "republicano", tudo que envolve a coroa é eliminado da vista.

Para o professor de História Contemporânea Wilson Maske, da Pontifícia Univer­sidade Católica do Paraná, os críticos da coroa ignoram o retorno que ela dá à nação. Inclusive financeiro.

Na entrevista a seguir, feita por telefone, Maske fala sobre a relevância da monarquia britânica e do fascínio que ela suscita.

Como você explica a comoção gerada pelo nascimento do bebê real?

Tem muito a ver com o fato de o Reino Unido ser a última grande monarquia. Muitos Estados se transformaram em repúblicas e não existe mais esse elemento de sonho, de encantamento que a monarquia desperta. A monarquia britânica, em especial, alimenta isso, cultuando a tradição. A família real mostra uma capacidade de se modernizar sem abandonar a tradição.

Qual é a relevância hoje da coroa para a Grã-Bretanha?

Ela representa a continuidade. É uma instituição numa época em que os jogos políticos parecem tão perigosos, em que os políticos têm má fama. A instituição monárquica da Grã-Bretanha sabe se manter, assumindo uma postura, digamos, de liderança, com um alto índice de aprovação – que ocorre principalmente porque não governa. Eles são símbolos que representam tradições muitas vezes inventadas, mas que sintetizam a nação.

Qual é o papel da rainha Elizabeth II?

Enquanto um primeiro-ministro se expõe com políticas que influenciam a administração do dia a dia, o monarca britânico assume esse papel cerimonial, um papel realmente importante de liderança moral. Ao mesmo tempo em que preserva essa unidade do país, o monarca escapa do desgosto do cotidiano, da administração pública que muitas vezes vai contra interesses de determinados grupos, ou que se alia a determinados outros. Todos os primeiros-ministros dos últimos anos se queimaram de alguma forma.

Há críticos que dizem que a familia real é um peso para a Inglaterra. Isso é verdade?

Realmente, existe um gasto de cerca de 40 milhões de libras anuais [R$ 137,6 milhões na cotação de ontem]. No entanto, alguns defensores dizem que, em função da popularidade deles, do interesse que despertam no mundo todo, a figura da família real acaba atraindo recursos para o Reino Unido. Com turismo, com atividades realizadas em torno da família real – como exposições, visitas aos sítios reais, aos palácios... A família real atrai muito mais dinheiro do que gasta.

Existe um retorno que muitas vezes não é mensurado por quem critica. O interessante neles é essa capacidade de se reinventar e de se modernizar, ao mesmo tempo mantendo uma certa tradição.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.