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Cuba

Declarações polêmicas mostram uma nova face de Fidel Castro

Líder cubano volta à cena política mundial e dá pistas de uma possível releitura do modelo socialista

“Não acredito que alguém tenha sido mais difamado do  que os judeus. Diria que muito  mais do que os  muçulmanos.”

Fidel Castro |
“Não acredito que alguém tenha sido mais difamado do que os judeus. Diria que muito mais do que os muçulmanos.” Fidel Castro (Foto: )

Fidel Castro, o guardião histórico da Revolução Cubana, volta à cena após quase quatro anos de reclusão causada pelos problemas de saúde que o afastaram do poder em 2006. Mas o Fidel que ressurgiu em 11 de julho, durante uma visita ao Centro Nacional de Pesquisas Científicas em Havana, vem sur­­preendendo imprensa e es­­pecialistas tanto pelo tom quan­­to pelo conteúdo de suas declarações.Recentemente, o ex-presidente veio a público para se dizer arrependido da perseguição instituída contra os homossexuais cubanos durante os anos de seu governo e declarou que "aqueles foram momentos de muita injustiça". Quando questionado se o responsável pelas perseguições tinha sido o Partido Comunista ou alguma entidade ou organização específica, Fidel disparou: "Não. Se alguém deve ser responsabilizado por isto, sou eu."

Em outro episódio ocorrido há poucos dias, durante uma entrevista ao site norte-americano The Atlantic, Fidel Castro assumiu que ter sugerido aos soviéticos, em 1962, que estes realizassem um ataque nuclear contra os EUA não fora uma boa ideia. A revelação foi feita durante uma entrevista cedida ao jornalista Jeffrey Goldberg. "Depois de ter visto o que vi e com o que agora sei, isso [o ataque] não valia mesmo a pena", afirmou o ex-presidente cubano. Em outubro de 1962, a colocação de mísseis soviéticos em Cuba, apontados para os EUA, quase levou o mundo à Terceira Guerra Mundial.

Não satisfeito com a repercussão da primeira declaração ao site, Fidel ainda foi além: criticou o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad – um antigo aliado político contra os Estados Unidos – pela utilização de discurso antissemita. O líder da república islâmica já chegou inclusive a negar a existência do Holocausto – evento relacionado a morte de seis mi­­lhões de judeus durante a Se­­gunda Guerra Mundial. Em relação à posição antissemita de Ahmadinejad, Fidel disparou: "Não acredito que alguém tenha sido mais difamado do que os judeus. Diria que muito mais do que os muçulmanos. Foram mais difamados que os muçulmanos porque são acusados e caluniados por tudo. Ninguém culpa os muçulmanos de nada."

A declaração mais polêmica entre todas – e que atingiu maior repercussão junto à im­­prensa internacional – teria sido feita também ao norte-ame­­ricano Goldberg. Nela, o ex-pre­­sidente teria dito que "o modelo cubano não funciona mais nem mesmo para nós". A revelação caiu como uma bomba e foi noticiada em meios de co­­municação do mundo todo, o que fez com que Fidel – durante uma aparição ocorrida sexta-feira na Universidade de Hava­­na – negasse o conteúdo do que foi publicado pelo jornalista norte-americano, explicando que o que ele quis dizer foi "exatamente o contrário" do que foi divulgado. Fidel chegou até mesmo a caçoar de Gold­­berg, já que o jornalista teria levado tudo o que foi dito muito "ao pé da letra".

Porém, o próprio jornalista revela no texto publicado no The Atlantic que por vários mo­­mentos durante a conversa com o ex-presidente ele teria ficado na dúvida sobre o que Fidel realmente teria dito sobre um assunto ou outro. Como exemplo, o jornalista citou a oportunidade em que Fidel perguntara se ele (Goldberg) gostaria de assistir a um show de gol­­finhos – convite que não foi prontamente assimilado pelo entrevistador.

Independentemente da in­­terpretação do que foi dito a Goldberg, as declarações recentes de Fidel mostram uma nova face do líder cubano. Só não estão claras, as motivações dessa mudança de discurso.

Críticas

Queima do Alcorão e expulsão de ciganos viram alvo de líder

Fidel Castro classificou na sexta-feira de "descomunal show midiático", próprio "de um império que afunda", a ameaça de um pastor da Flórida (EUA) de queimar exemplares do Alcorão e chamou de "holocausto racial" a expulsão de ciganos da França. As declarações do líder cubano foram dadas antes de o pastor Terry Jones ter anunciado a decisão de suspender o plano da queima de exemplares do Alcorão.

O líder cubano também disse que os ciganos expulsos da França são "vítimas" da "extrema direita" daquele país, o que chamou de uma espécie de "holocausto racial". "A última coisa que se podia esperar eram as notícias da expulsão de ciganos franceses, vítimas da crueldade da extrema direita francesa, que já atinge 7 mil deles, as vítimas de outra espécie de holocausto racial", disse Fidel. O ex-presidente cubano referiu-se à expulsão de ciganos romenos da França ordenada pelo presidente Nicolas Sarkozy, que desencadeou fortes protestos e condenações na Europa, inclusive críticas do Parlamento Europeu.

A crítica à França foi feita durante a apresentação da segunda parte de seu livro sobre a luta guerrilheira, na Universidade de Havana. "Não foi preciso gastar dinheiro, recebemos ajuda", comentou o líder a comentar a obra intitulada A Contraofensiva Estratégica.

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