
Hoyerswerda, Alemanha - No vigésimo ano da data que marca a queda do Muro de Berlim, o governo da chanceler (premier) Angela Merkel está preparando uma série de comemorações para o aniversário da reunificação, em novembro.
A história oficial do renascimento oriental foi reforçada pela recente visita do presidente americano, Barack Obama, a Dresden, em toda sua glória reconstruída.
Porém, além de grandes cidades como Dresden, Leipzig ou Berlim, a história de declínio e despedidas mudou muito pouco na antiga Alemanha Oriental.
Não muito distante dos poucos centros urbanos de prosperidade, o tráfego é praticamente livre nas estradas recém-pavimentadas. Durante a noite, em algumas partes de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, ao norte do país, quase não se veem luzes dos dois lados das autobahns.
Numa popular canção de alguns anos atrás, o cantor Rainald Grebe descrevia um sentimento de solidão ao cantar, "Me sinto tão vazio hoje, me sinto Branderburgo", referindo-se ao estado do antigo lado oriental que cerca Berlim.
Jornais acompanham, por um lado, o retorno de alcateias de lobos à Saxônia ao longo da fronteira polonesa, e por outro, a contínua migração dos jovens e instruídos às melhores oportunidades do Oeste.
Quando funcionários do governo alemão apresentaram, na semana passada, seu relatório anual sobre o estado da unificação e as tentativas da antiga Alemanha Oriental de alcançar o lado ocidental, a imagem pintada foi impressionantemente positiva mas não exatamente completa.
O governo reportou precisamente que, somente entre 2006 e 2008, gastou mais de US$ 60 bilhões em financiamentos para negócios e construções de infraestrutura. A atividade econômica por pessoa aumentou para 71%, dos 67% do antigo setor ocidental, ao longo desta década.
"Graças ao desenvolvimento econômico positivo, o Leste está no melhor caminho para convergir com o oeste", disse Wolfgang Tiefensee, ministro responsável pelo desenvolvimento dos estados da antiga Alemanha Oriental. "O buraco está se fechando".
Ele está se fechando, em parte, porque os líderes de exportação que levam os piores golpes da recessão econômica estão no Oeste. Isso gera um nivelamento para baixo.
O desemprego na ex-Alemanha Oriental continua sendo o dobro do lado ocidental, e em algumas regiões, o número de mulheres entre 20 e 30 anos caiu mais de 30%. No total, 1,7 milhão de pessoas deixaram a ex-Alemanha Oriental desde a queda do muro de Berlim, cerca de 12% da população um processo contínuo mesmo nos anos logo anteriores à crise econômica.
Bomba relógio
O declínio populacional está prestes a se tornar muito pior, resultado de uma bomba relógio demográfica conhecida pelo inócuo nome "o enrosco", chegada com o fim do comunismo. A taxa de natalidade caiu tão drasticamente na antiga Alemanha Oriental durante aqueles incertos primeiros anos, que a queda é comparável somente a anos de guerra, de acordo com Reiner Klingholz, diretor do Instituto de População de Desenvolvimento de Berlim. "Durante muitos anos, os alemães orientais simplesmente pararam de ter filhos", disse.
O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung relatou recentemente que, embora 14 mil jovens estejam recebendo neste ano seus diplomas do colegial na Saxônia, no ano seguinte serão apenas 7.500. Desde 1989, cerca de duas mil escolas foram fechadas na ex-Alemanha Oriental devido à falta de crianças.
Então em Hoyerswerda, outrora uma cidade modelo da Alemanha Oriental Comunista com a maior taxa de natalidade do país , a média de idade aumentou, como em muitas cidades pequenas, de 35 anos, em 1989, para 48 neste ano.
O vazio é o sentimento reinante quando se anda pela cidade, que perdeu mais de 40% de seus residentes desde a queda do muro, com uma população caindo de 70 mil pessoas para menos de 40 mil.
Franziska Kalkbrenner, de 18 anos, pretende trabalhar na Nova Zelândia no próximo ano, e em seguida quer fazer faculdade. Ela não sabe exatamente onde, mas não em Hoyerswerda, pois a cidade não possui escola de ensino superior. Como muitos residentes, entretanto, ela não se descreve como indo embora alegremente, mas saindo apenas porque precisa. "Eu gostaria muito de viver aqui. Foi onde cresci, e gosto da cidade", disse.
A maioria das pessoas que vai embora, como Kalkbrenner, o faz em busca de trabalho. Segundo o governo da cidade, o complexo industrial em Schwarze Pumpe costumava gerar 13 mil empregos aos residentes de Hoyerswerda, nos tempos comunistas. Hoje, são apenas 3.500. O trabalho nas minas vizinhas, que já chegou a representar até cinco mil postos de trabalho, caiu para menos de 500.
O governo municipal está derrubando prédios de apartamentos para tentar acompanhar a queda populacional. Numa cidade que já teve 21 mil apartamentos, 7.500 foram destruídos, e dois mil já estão com a demolição agendada.
Em recente visita à atual cidade oriental onde ela mora, Karlsruhe, Judika Zirzow parou num plano pedaço de terra, sulcado e coberto por rastros de escavadeiras. Essa zona estéril era antes um prédio de apartamentos, um dos pilares do Wohnkomplex, ou projeto habitacional, da ex-Alemanha Oriental e o local onde ela cresceu.
"Toda vez que visito meus pais e passo por Hoyerswerda, há uma nova casa que foi derrubada", disse Zirzow, de 24 anos, que trabalha num banco. "A cara de Hoyerswerda está diferente."
Ela afirma estar bem ciente de ter aproveitado as oportunidades que nunca existiriam sob um regime comunista, refletidas numa recente viagem à Tailândia com seu namorado australiano. Entretanto, isso não muda seu sentimento quando ela volta. "É triste pensar que, se eu tiver filhos, nunca poderei dizer a eles, foi aqui que eu cresci", explicou Zirzow.
Sua mãe, Andrea Zirzow, tem apenas 46 anos, mas já viu o equivalente a uma vida de mudanças.
"As pessoas do Leste se transformaram em nômades", disse a velha Zirzow.



