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Entrevista

Um acordo justo é a chave para o fim do conflito em Gaza

Confira entrevista completa com Jamil Iskandar, professor de Filosofia Medieval Árabe na Universidade Federal de São Paulo

Para Samuel Feldberg, a diferença entre o número de civis mor­­tos entre palestinos e israelenses não pode ser analisado isoladamente, é preciso levar em conta a capacidade de defesa de Israel e o fato de o Hamas se instalar entre civis. Até agora, há registros de que mais de 900 palestinos morreram. Do lado israelense, foram mortos 35 militares e dois civis. Críticos falam na desproporção entre as ações dos dois lados. Como o senhor interpreta esses números?

É óbvio que há uma diferença no número de civis mortos nos dois lados, mas as razões pelas quais isso tem ocorrido não vêm de nenhum tipo de decisão das autoridades israelenses de atacar civis para provocar mortes. É decorrência da política adotada pelos líderes do Hamas de não proteger a população civil.

O problema na percepção desse desequilíbrio se origina não na ação israelense, mas na capacidade dos israelenses de defenderem seu território e seus civis. Alguém poderia fazer o cálculo de quantos civis israelenses teriam morrido se os foguetes que o Hamas lançou não tivessem sido derrubados e tivessem atingido os alvos, isso daria uma ideia da proporcionalidade do confronto. Já houve dois casos claramente denunciados pelas Nações Unidas de foguetes estocados em escolas em Gaza. Como chegar a um acordo de paz e mantê-lo se, mesmo que os dois lados firmem um pacto, grupos rebeldes podem agir por conta própria quebrando as regras estabelecidas por um eventual acordo?

Esse é o grande dilema e foi por essa razão que as negociações não avançaram, inclusive as que previam uma reunificação do governo palestino.

E quanto ao Hamas?

O Hamas se propôs a voltar a compor o governo da Autoridade Palestina, mas sem abrir mão da postura negacionista à existência do estado de Israel. E continua se recusando a integrar as suas forças de segurança à estrutura de segurança da Autoridade Palestina. Se, num cessar-fogo, o Hamas abrir mão da política que propõe a substituição do estado israelense por um estado fundamentalista islâmico, provavelmente haveria espaço para negociações, mas isso por enquanto não aconteceu. Qual a sua opinião sobre o posicionamento do governo brasileiro, que criticou a ofensiva israelense?

É característico da postura do Itamaraty. Foi completamente descabido fazer uma declaração condenando as ações de Israel, sem se referir ao lançamento de foguetes pelo Hamas e ao potencial de risco que esses foguetes representam para a população israelense.

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