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O ditador norte-coreano, ao lado da filha, observa o maior míssil do país
O ditador norte-coreano, ao lado da filha, observa o maior míssil do país| Foto: Divulgação/YouTube

Em 2022, a Coreia do Norte lançou 75 mísseis, sendo um deles o intercontinental que caiu no mar do Japão e teria capacidade para atingir o território americano. Não é qualquer país que tem meios de sustentar tamanha escalada militar e é de espantar que, em meio a uma desaceleração econômica e a sanções da Europa e dos Estados Unidos, reste uma grande fatia do orçamento norte-coreano para esse setor. Hoje, existem evidências de que a fonte de tanto investimento é ilícita.

Um relatório da ONU revelou que, entre 2019 e 2020, Pyongyang roubou mais de US$ 300 milhões (mais de R$ 1,5 bilhão) em criptomoedas por meio de ataques a computadores, para financiar seus programas nucleares e balísticos. “Uma primeira análise dos vetores usados para o ataque e dos meios usados posteriormente para comprar produtos ilícitos revelam fortes laços com a República Popular Democrática da Coreia”, apontou o documento.

Soo Kim, ex-analista da CIA e pesquisadora do think tank americano Rand Corporation, calcula que cada teste de mísseis de curto alcance custa de US$ 2 a 3 milhões (R$ 10 a 15 milhões).

“Os últimos relatórios estimam que a chuva de mísseis disparada em novembro deve ter custado entre US$ 50 e 75 milhões (R$ 261 e 391 milhões). Para um país rico já seria demais, imagine então para um país isolado, pobre e alvo de sanções”, observou Kim em entrevista ao jornal Le Figaro.

A Casa Branca estima que o país financia cerca de 30% de seus programas de armas através do cibercrime. “Nos últimos anos, especialmente desde 2011, quando Kim Jong-un assumiu o poder, a Coreia do Norte desenvolveu habilidades de hacker muito sofisticadas”, apontou Nils Weisensee, diretor e especialista em cibersegurança do Korea Risk Group também ao Figaro. Segundo ele, as autoridades norte-coreanas são capazes de roubar dados secretos das áreas de defesa, aeroespacial e muitas outras indústrias sensíveis, além de ter arquitetado roubos astronômicos de criptomoedas.

Exemplo disso foi a invasão da rede de pagamento digital Ronin usada para o jogo online "Axie Infinity", quando foram roubados cerca de US$ 615 milhões (R$ 3,2 bilhões) em criptomoedas, conforme denunciou em abril deste ano o FBI.

“Esses ataques cibernéticos oferecem à Coreia do Norte uma maneira barata de obter muito dinheiro", disse Edward Howell, especialista em Coreia do Norte da Universidade de Oxford. Ele destacou que são cerca de 7 mil agentes que se envolvem numa guerra cibernética e são financiados pelo Estado.

Esses agentes se infiltrariam em empresas estrangeiras, com identidades falsas, para acessar mais facilmente o sistema A empresa americana de análise criptográfica Chainalysis calcula que nos primeiros nove meses de 2022 a Coreia do Norte teria roubado cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em criptomoedas.

Especialistas apontam que esse grupo é o mesmo que, em 2014, causou o primeiro grande escândalo desse tipo no país, pirateando a Sony Pictures Entertainment, uma subsidiária da japonesa Sony, para se vingar do filme "The Interview", uma sátira sobre Kim Jong-un.

Pyongyang também é suspeita de ter roubado cerca de US$ 81 milhões (R$ 422 milhões) do Banco Central de Bangladesh (BCB) em 2016. Um ano depois, o grupo teria sido responsável por disseminar o malware - um software desenvolvido para invadir aparelhos - WannaCry, que infectou sistemas de hospitais, companhias petrolíferas e bancos em mais de 150 países.

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