
São Paulo - Milhares tomaram as ruas da Tunísia ontem para celebrar algo jamais visto no mundo árabe: pressionado, o ditador Zine el Abidine Ben Ali, de 74 anos, cedeu a protestos e fugiu do país após mais de 23 anos no poder.
Agências de notícias indicaram que o ditador teria ido para a França, mas Paris não confirmou a informação.
Com apoio dos militares o que gerou suspeitas de que as Forças Armadas pegaram carona na mobilização popular e deram um golpe , assumiu o poder o premier Mohamed Ghannouchi, até então aliado de Ben Ali.
Ele acenou com a realização de eleições em seis meses, o que foi prometido por Ben Ali como um último gesto para tentar se manter no cargo.
A revolta na ex-colônia francesa pode ter implicações regionais. O Norte da África é dominado por regimes ditatoriais, e países como Líbia e Egito são dominados há décadas pelos mesmos líderes.
Logo após a queda do ditador, começaram alguns sinais de liberalização. "Os preços do pão e do leite foram reduzidos e sites como o YouTube foram liberados, atendendo às reivindicações populares, disse à reportagem o embaixador brasileiro na Tunísia, Luis Antonio Fachini Gomes.
Mesmo assim, "o clima é de pânico e incerteza e ainda não se sabe como o premier será aceito, complementou. Na quinta-feira, após 23 mortes confirmadas, Ben Ali ordenou um cessar-fogo às tropas e afirmou que deixaria o comando do país em 2014. Insuficientes, os anúncios não interromperam os protestos e, segundo fontes médicas, mais 12 civis morreram.
O país tem uma pequena comunidade brasileira, com cerca de 60 pessoas, em sua maioria cônjuges de tunisianos, empresários e jogadores de futebol.
Fúria e euforia
Exigindo sua renúncia imediata, na capital Túnis os manifestantes saquearam e incendiaram casas de familiares do ditador, que foram presos. Na Tunísia há um ano, o empresário brasileiro Ruy Fluckiger acredita que o alto custo de vida e casos de corrupção motivaram a revolta. "Quando ele [Ben Ali] foi embora, todos foram para a rua, buzinando, em clima de comemoração. Parecia o Brasil na época do Tancredo, relatou, por telefone.
No interior, marchas com mais de 10 mil jovens foram registradas, além de saques e explosões de postos policiais. Antes da fuga de Ben Ali, o governo já havia fechado o espaço aéreo e declarado estado de emergência.



