Paris (AF) A desempregada Isabelle Dinoire, 38 anos, primeira paciente na história da medicina submetida a uma cirurgia de transplante parcial de rosto, passa bem e está em recuperação em um hospital em Lyon, na França. Contente com o resultado do procedimento, ela disse que ainda está se olhando no espelho. A operação inédita ocorreu no último domingo na cidade de Amiens, no norte da França.
Já a identidade da doadora do rosto para Isabelle ainda é mantida em sigilo. Sabe-se apenas que ela era francesa, tinha 38 anos (mesma idade de Isabelle) e cometeu suicídio por meio de enforcamento, segundo informou o jornal britânico The Sunday Times, citando fontes médicas.
Isabelle é divorciada e mãe de duas adolescentes. Em entrevista, ela revelou que finalmente está fazendo as pazes com o espelho. Para Isabelle, é tudo muito impressionante e a equipe médica está de parabéns porque lhe deu um rosto novo.
De acordo com Isabelle, a operação de mais de 15 horas põe um ponto final em uma seqüência de eventos desastrosos em sua vida, que culminou em maio passado, quando ela tentou suicidar-se com uma overdose de soníferos.
As equipes médicas que fizeram transplante têm recebido críticas de colegas por terem precipitado a operação para serem os pioneiros e por se apropriarem de protocolos teóricos que outros haviam estabelecido.
O cirurgião plástico Laurent Lantieri, que trabalha no Hospital Henri-Mondor de Créteil, perto de Paris, os acusa indiretamente de terem usado seu protocolo para este tipo de transplante e de terem posto em prática sem comunicá-lo.
Uma cirurgiã que participou da equipe pioneira em Amiens, Sylvie Testelin, se defende das denúncias veladas de Lantieri: "Seu protocolo tinha 10 páginas. O nosso, 70. Portanto, talvez tenha sido o primeiro a ter a idéia, mas fomos nós que a realizamos".
A polêmica é alimentada também por Emmanuel Hirsch, responsável pelas questões de ética do Conselho de orientação da recém-criada Agência de Biomedicina, que se queixa de não ter sido informado. Ele apontou o perfil psicológico frágil da paciente e lembrou que o enxerto de rosto cria um desafio médico, mas também psicológico, porque coloca em jogo a identidade da pessoa.



