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Terrorismo

Egípcio assume posto de Bin Laden

Al-Qaeda nomeia o médico Ayman al-Zawahiri como líder da organização extremista e promete “guerra santa” contra EUA e Israel

Bin Laden (direita) com seu sucessor, Ayman al-Zawahiri, durante entrevista à jornalista paquistanesa Hamid Mir, em novembro de 2001 | Hamid Mir/Reuters
Bin Laden (direita) com seu sucessor, Ayman al-Zawahiri, durante entrevista à jornalista paquistanesa Hamid Mir, em novembro de 2001 (Foto: Hamid Mir/Reuters)

A rede terrorista Al-Qaeda no­­meou ontem o egípcio Ayman al-Zawahiri como sucessor de Osama bin Laden, morto em maio no Paquistão em uma ação dos Es­­tados Unidos. O anúncio da organização extremista foi feito em um comunicado no qual promete ainda prosseguir com "jihad" ("guerra santa") contra Estados Unidos e Israel. "O comando geral da Al- Qaeda anuncia, depois de consultas, a designação do xeque Ayman al-Za­­wahiri à frente da organização", afirma o texto, divulgado em sites islamitas.

Zawahiri já era o número dois da rede e braço direito de Bin Laden. Aos 59 anos, o cérebro e prin­­­cipal porta-voz da Al-Qaeda, se torna assim o homem mais procurado do mundo. Sua cabeça vale US$ 25 milhões, segundo o Depar­­tamento de Estado americano.

"A Al-Qaeda vai prosseguir com a jihad contra os apóstatas que agridem a terra do Islã, com os Estados Unidos à frente e seu acólito Israel", diz o texto do grupo terrorista. "Os combateremos com todas as nossas capacidades e exortamos a nação (islâmica) a combatê-los por todos os meios possíveis até a expulsão de todos os exércitos de invasão da terra do Islã e a instauração da sharia [lei islâmica]", acrescenta o comunicado.

A nota do comando geral da Al-Qaeda diz ainda que a organização não aceitará nenhuma concessão concessão sobre a Palestina e não reconhecerá a legitimidade do "suposto Estado de Israel", assim co­­­mo não se comprometerá com nenhum acordo ou convenção que reconheça Israel".

A Al-Qaeda também expressa "apoio à revolta dos povos muçulmanos" no Egito, Tunísia, Líbia, Iêmen, Síria e Marrocos e pede a continuidade dos movimentos para "eliminar os regimes corruptos e injustos impostos pelo Oci­­dente a nossos países".

Sobre o Afeganistão, a Al-Qaeda pede ao líder supremo dos talebans, o mulá Mohamad Omar, que continue atuando "para expulsar a ocupação norte-americana do país". Também garante aos "ir­­mãos combatentes" no Iraque, So­­má­­­lia, na Península Arábica e no Magreb, onde operam células da Al­­­-Qaeda, assim como na Che­­chênia, que "continuará no mesmo caminho (...) para combater um inimigo único, ainda que de diferentes formas".

O novo líder da Al-Qaeda já ha­­via se comprometido a seguir o caminho da jihad (guerra santa) contra o Ocidente em um vídeo di­­vulgado na internet no dia 8 de junho.

"Ayman al-Zawahiri era o cérebro de Osama bin Laden. Foi depois do encontro entre os dois que Bin Laden ganhou tanta importância", afirma o advogado islamita egíp­­cio Muntaser al-Zayat, que o conheceu muito bem.

O jornalista Abdel-Bari Atwan, que trabalha em Londres e entrevistou Bin Laden em 1996, concorda. "Ele (Zawahiri) conseguiu trans­­­formar a Al-Qaeda de uma pe­­­que­­­na organização voltada para a expulsão dos interesses dos EUA na Arábia Saudita em uma organização mundial", diz.

Assim como o fundador da rede extremista morto pelos Estados Unidos, seu número dois, e agora número 1, escondeu-se depois dos atentados de 11 de setembro. Ay­­man al-Zawahiri foi visto pela última vez em outubro de 2001 na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Sua esposa, seu filho e suas duas filhas morreram em ataques americanos em Kandahar dois meses depois.

Zawahiri terá dificuldade para liderar, afirmam EUA

O novo líder da Al-Qaeda, Ay­­man al-Zawahiri, terá que enfrentar "muitos desafios" para impor sua autoridade à organização porque não tem o carisma de Osa­­ma bin Laden, afirmou ontem o secretário da Defesa norte-americano, Robert Gates. "Bom, não sei se é um cargo ao qual alguém queira aspirar, considerando as circunstâncias, mas acho que en­­frentará muitos desafios", disse Gates.

Quando Bin Laden foi encontrado e morto no Paquistão, militares dos EUA confirmaram que ele ainda coordenava de perto as atividades da Al-Qaeda, mesmo estando escondido. Confirmada sua substituição por Ayman al-Zawahiri, levanta a questão sobre como a organização será liderada a partir de agora. Analistas destacam as diferenças entre os dois terroristas, que trabalharam juntos durante décadas.

"Ele não é tão carismático (quan­­to Bin Laden)", diz Magnus Ranstorp, especialista em Defesa Nacional, ao jornal Washington Post. "Zawahiri é considerado um pouco mal-humorado", acres­­centa.

Além das diferenças entre os dois líderes, a própria Al-Qaeda mudou nos últimos dez anos. Com braços cada vez mais importantes em países como Iêmen e Somália, a organização dificilmente será controlada por uma única figura, segundo analistas.

Segundo o jornal The New York Times, enquanto Bin Laden era o líder ideológico da Al-Qaeda, Za­­wahiri era seu cérebro organizador. Ele é visto, no entanto, co­­mo mais suscetível a ser capturado.

Outra diferença entre os dois são suas origens. Bin Laden dedicou a fortuna herdade de seu pai para financiar a rede terrorista. Já o egípcio é médico e tem menor recursos.

"Bin Laden representava um movimento, ele era quase um mito. Zawahiri não pode igualar isso", observa Richard Barrett, que coordena um grupo de mo­­nitoramento sobre a Al-Qaeda no Conselho de Segurança das Na­­ções Unidas.

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