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Segundo turno neste domingo

Eleição no Chile deve consolidar guinada à direita na América do Sul

O direitista José Antonio Kast e a esquerdista Jeannette Jara, em debate em Santiago na última terça-feira (9) (Foto: Elvis González/EFE)

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Neste domingo (14), o Chile realiza o segundo turno da sua eleição presidencial, com a esquerdista Jeannette Jara, candidata do presidente Gabriel Boric (que não pode tentar a reeleição porque a legislação local não permite mandatos presidenciais consecutivos), e o direitista José Antonio Kast na disputa.

Embora Jara tenha sido a candidata mais votada no primeiro turno, realizado em novembro, Kast é o grande favorito neste domingo, já que lidera todas as pesquisas com pelo menos dez pontos percentuais de vantagem.

Caso essa vitória seja confirmada, a América do Sul consolidará sua guinada política à direita. No início de 2023, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu seu terceiro mandato no Brasil, o subcontinente tinha oito presidentes de esquerda e apenas quatro de direita.

Caso Kast vença neste domingo, a América do Sul terá no começo de 2026 seis presidentes de esquerda (se o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, não renunciar ou for derrubado até lá) e seis presidentes de direita.

Nas eleições realizadas desde o começo de 2023, a direita manteve os governos do Paraguai, onde o conservador Santiago Peña venceu o pleito do ano retrasado para suceder o correligionário Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, e do Equador, onde o atual mandatário Daniel Noboa venceu duas eleições, há dois anos (para completar o mandato do também direitista Guillermo Lasso, que renunciou) e em 2025, e “virou” na Argentina e na Bolívia.

No primeiro país, Javier Milei derrotou o peronismo (que ocupava a Casa Rosada, com Alberto Fernández) e se tornou presidente no ano retrasado.

Na Bolívia, a esquerda sequer chegou ao segundo turno da eleição presidencial, realizado em outubro deste ano, e o centro-direitista Rodrigo Paz deu fim a quase 20 anos ininterruptos de governos do Movimento ao Socialismo (MAS).

Houve troca de presidente de direita no Peru, mas ali não houve eleições: Dina Boluarte havia substituído no final de 2022 o esquerdista destituído Pedro Castillo, de quem era vice, mas guinou para a direita no seu governo e em outubro deste ano sofreu impeachment, dando lugar ao conservador José Jerí, que era presidente do Congresso do país.

A esquerda, por sua vez, nas eleições realizadas desde o início de 2023, manteve os governos da Guiana, onde Irfaan Ali foi reeleito este ano, e do Suriname, onde Chan Santokhi foi sucedido este ano por Jennifer Geerlings-Simons, de outro partido, mas também esquerdista, e “virou” uma presidência apenas no Uruguai, onde Yamandú Orsi venceu no ano passado a disputa para suceder o conservador Luis Lacalle Pou.

A eleição de 2024 na Venezuela não entra na conta porque Maduro fraudou os resultados para se manter no poder.

Além dos triunfos em pleitos presidenciais, a direita sul-americana obteve uma importante vitória nas eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, em outubro, quando foram renovados metade dos assentos na Câmara dos Deputados e um terço das cadeiras no Senado.

O partido A Liberdade Avança (LLA, na sigla em espanhol), de Milei, obteve mais de 40% dos votos, dando fôlego político ao presidente para aprovar projetos e evitar a derrubada de vetos no Congresso argentino.

No Chile, mais de 70% dos eleitores votaram em candidatos de direita no primeiro turno da eleição presidencial, o que levou a consultoria americana Aurora Macro Strategies a descrever esse resultado como a “rejeição mais clara da esquerda em quase um século” no país.

Em um contexto de grande preocupação com a segurança pública, a população chilena parece buscar soluções em nomes da direita, assim como em outros países latino-americanos, apontaram analistas.

“Há uma frustração real e um desejo por medidas mais drásticas em toda a região para combater o crime ou as crises econômicas”, disse Michael Shifter, especialista em América Latina do grupo de políticas públicas Diálogo Interamericano, em entrevista ao The Wall Street Journal. “Isso favorece os candidatos de direita.”

“Desde a primeira Onda Rosa, com a ascensão de governos progressistas na América do Sul no início dos anos 2000, passando pela Onda Azul, com retorno de governos conservadores, a partir da segunda metade da década de 2010, o que se tem observado na região é a alternância no poder como resultado de voto de protesto, ou seja, uma constante insatisfação do eleitorado em relação ao governo em questão”, afirmou Leo Braga, professor do curso de relações internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, em entrevista à Gazeta do Povo.

O analista destacou que a chamada Onda Rosa se enfraqueceu no “esgotamento do ciclo de valorização e de super demanda de commodities” e a nova direita sul-americana cresce no descontentamento diante de problemas internos, como o fraco desempenho macroeconômico na Argentina sob o peronismo e o colapso da segurança pública no Equador.

Nesse sentido, acrescentou Braga, o mundo pós-pandemia acentuou a tendência à desglobalização, ao nacionalismo e à força política da direita nacionalista em todo o mundo. “Não foi ou não tem sido muito diferente na América do Sul”, disse o analista.

Caso a direita confirme no Chile o “empate” em número de líderes na América do Sul, iniciará 2026 empolgada para buscar a virada, com eleições presidenciais no Peru, na Colômbia e no Brasil, os dois últimos governados pelos esquerdistas Gustavo Petro e Lula.

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