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Uma trabalhadora eleitoral está sentada enquanto espera os eleitores chegarem a uma seção eleitoral em uma escola em Caracas, em 6 de dezembro de 2020, durante as eleições legislativas da Venezuela| Foto: Cristian Hernandez/AFP

Em uma eleição legislativa com pouca margem para surpresa, já que a maior parte da oposição boicotou o processo por considerá-lo ilegítimo, o que chamou atenção neste domingo (6) na Venezuela foi a alta abstenção, uma mistura de desânimo e protesto silencioso contra a ditadura de Nicolás Maduro. Em Caracas, as filas para comprar gasolina eram maiores que a de eleitores nos centros de votação, o que abriu caminho para que o chavismo retomasse o controle do Parlamento.

Durante todo o dia, os centros eleitorais de todo o país ficaram vazios. Maduro, que tem alta rejeição, transferiu o domicílio eleitoral para Forte Tiúna, em vez de votar em um bairro popular de Caracas, como aconteceu em anos anteriores. "A quantas anda a fraude de Maduro", tuitou o líder opositor Juan Guaidó, postando uma imagem de uma seção eleitoral vazia. "Fracasso".

No início da noite, a ausência de eleitores fez o regime atrasar em uma hora o fechamento das urnas. "Decidimos manter os centros de votação abertos em razão das filas", justificou Leonardo Morales, vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Mesmo assim, a abstenção ficou em 69%, segundo a presidente do órgão, Indira Alfonzo.

Até o início da manhã desta segunda-feira, a contagem oficial indicava a participação de 5,2 milhões de eleitores, entre os mais de 20 milhões aptos a votar. A coligação de Maduro obteve 67% destes votos, enquanto coligações de partidos de oposição – que, após intervenção judicial, concorreram sob a liderança de membros que haviam sido afastados e tinham em suas listas parlamentares até mesmo generais chavistas – ficaram em segundo e terceiro lugar, comando pouco mais de um milhão de votos.

A ditadura exaltou a votação como a "festa eleitoral" que marca uma virada na política venezuelana. A Assembleia Nacional vinha sendo controlada pela oposição, que surpreendeu o chavismo, em 2015, ao eleger a maioria dos deputados. Para não conviver com um Legislativo antagonista, Maduro criou uma Assembleia Constituinte, dominada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e que deverá ser extinta assim que os novos deputados assumirem, no dia 5 de janeiro.

"Tivemos paciência e sabedoria para esperar o dia de tirar das nossas costas esta Assembleia Nacional nefasta, que trouxe a praga das sanções e do sofrimento", disse Maduro, após votar em Forte Tiúna.

Guaidó, considerado presidente interino por mais de 50 países democráticos, disse que a alta abstenção mostra que "a maioria da Venezuela deu as costas a Maduro e sua fraude". "A crise tende a se agravar e somos obrigados a resistir até que as soluções sejam encontradas", afirmou em suas redes sociais, convocando os venezuelanos a participar de uma consulta popular que se inicia nesta segunda-feira, com o objetivo de rejeitar a eleição parlamentar realizada neste domingo.

Henrique Capriles, outro líder opositor e que chegou a considerar a participação nas eleições de Maduro, também afirmou que "a rejeição do país tem sido evidente e contundente". "Pouca ou nenhuma participação é o testemunho de nosso povo que não se submete a chantagens. As filas hoje eram por alimentos ou gasolina".

"Agora quem perde hoje? O país perde, que verá se agravar uma crise política, econômica e social que já é trágica para a maioria dos venezuelanos. O show de hoje não vai resolver a situação de milhões de crianças e avós que precisam de ajuda no país", continuou Capriles.

Rejeição internacional

Algumas democracias ocidentais já expressaram sua rejeição ao pleito e afirmaram que não reconhecerão o resultado. Os Estados Unidos foram um dos primeiros a qualificar a eleição como "uma fraude, uma farsa".

"A fraude eleitoral da Venezuela já foi cometida. Os resultados anunciados pelo regime ilegítimo de Maduro não refletirão a vontade do povo venezuelano", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, por meio de suas redes sociais.

No Brasil, o chanceler Ernesto Araújo também repudiou o evento. Disse que "o regime de Maduro promoveu hoje [domingo] 'eleições parlamentares' na Venezuela para tentar legitimar-se. Só se legitimará aos olhos daqueles que apreciam ou toleram a ditadura e o crime organizado, o grande complexo criminoso-político do Foro de São Paulo ou 'Socialismo do Século XXI'". O ministro brasileiro afirmou também que "o Brasil continuará trabalhando, com todos os parceiros que quiserem, pela redemocratização da Venezuela".

A Colômbia, por meio do Ministério das Relações Exteriores, também publicou um comunicado dizendo que não reconhece "as eleições fraudulentas" promovidas "pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro sem garantias de imparcialidade, liberdade, igualdade de oportunidades, justiça e transparência do sistema democrático".

Canadá juntou-se aos países que, até agora, não reconheceram o resultado do pleito, justificando que "o processo não atendeu às condições mínimas para um exercício livre e justo da democracia".

A União Europeia também fez coro às acusações. "Assumiremos as consequências políticas de não reconhecer a legitimidade dessas eleições. (…) A nossa ideia, até 5 de Janeiro, é ter o máximo consenso possível sobre a avaliação das eleições de 6 de Dezembro e o estatuto da nova Assembleia Nacional", disseram fontes europeias na sexta-feira passada.

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