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Curitiba – A economia da América Latina e Caribe deve crescer 4,6% este ano, de acordo com as previsões da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). Mas a maratona do calendário eleitoral da região preocupa, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que aponta também a vulnerabilidade da região aos altos e baixos do mercado internacional. Este mês, o FMI revisou o índice de crescimento da região para cima, dos 3,8% relatados em setembro do ano passado passou para 4,3%.

A variável-chave é a imprevisibilidade do panorama político da região, comenta o professor de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves. "Mas os governantes com discurso de oposição não significam rupturas. Nada muda, e o desempenho segue medíocre em meio a crises políticas – como é o caso do Brasil", afirma.

A estimativa da Cepal de crescimento para o Brasil este ano não deve passar da casa dos 3,5%.

A política internacional do governo Lula tem privilegiado questões políticas em vez de estimular o intercâmbio comercial, diz o peruano Hugo Eduardo Meza, professor de macroeconomia da Unicenp e Faculdades Santa Cruz. "A política está mais voltada para o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações (CAN), sendo que a Alca poderia ser uma opção melhor", defende.

O governo do presidente venezuelano Hugo Chávez tem sido a única experiência diferente na América Latina, considera Gonçalves. "São mudanças e rupturas que têm refletido em crescimento econômico. No entanto, são oito anos com Chávez no poder em um claro quadro de instabilidade." Em 2005, a Venezuela cresceu 9%, mas este ano deve se limitar a 7%.

Os fatores externos também preocupam, diz Gonçalves. "A América Latina é o vagão de quarta classe na economia mundial e segue atrasada e desequilibrada, com crises político-institucionais abertas ou rastejantes."

Para Renato Baumann, diretor do escritório da Cepal no Brasil, o intenso calendário eleitoral na região representa uma oportunidade de se adotar políticas inovadoras para o crescimento ou a possibilidade de conflitos e complicações. "O discurso em pauta tem sido o de assegurar benefícios à população levando em conta os recursos naturais à disposição."

A ascensão da esquerda na América Latina trouxe um cenário de estatização, de quebra de contratos com a iniciativa privada e de não-cumprimento de compromissos internos tanto no Mercosul quanto na CAN, avalia Meza. "Isso compromete a vinda de investimentos para a região e o clima será de apreensão nos próximos anos, enquanto os fluxos de capitais estão tendo como destino a China e a Índia. O temor da fuga de capitais se dá pela perda de credibilidade na região."

Meza explica que o panorama político de Bolívia, Venezuela, Peru e Brasil leva a um clima adverso para investimentos de longo prazo. "A América Latina está cansada dos políticos tradicionais e o que se vê são votos de protestos apontando para a tendência à esquerda. Os governos da década de 90 abriram a economia na América Latina à custa de desemprego e do não-crescimento produtivo, o que agravou a situação social."

Baumann explica que o fator "eleição" pode afetar as decisões de investimentos, e a reação do mercado internacional influencia o índice risco-país. "Mas não é o caso da Venezuela, por exemplo, que não depende tanto dos investimentos externos em sua economia." A possível saída da Venezuela da CAN anunciada por Chávez recentemente não estava contemplada nas previsões de crescimento da região, diz Baumann. "Caso se concretize, isso seria um terremoto para as economias da CAN, principalmente a Colômbia." Se a Venezuela sair será o fracasso da CAN e também um indicativo de que os acordos bilaterais estão sendo mais viáveis do que os blocos econômicos, diz Meza.

A elevação recorde do preço do barril de petróleo, que bateu na casa dos US$ 75 há uma semana, também não foi prevista e pode afetar a América Latina e Caribe de forma dupla, diz Baumann. "Países como Venezuela, Bolívia e Brasil podem se beneficiar dessa alta de preços, enquanto América Central e Caribe ficam sujeitos a um desastre". O contraponto é que a economia segue o bojo do crescimento dos EUA, grande comprador de produtos da América Central e Caribe, analisa.

A Argentina lidera na taxa de crescimento com 7,5%, seguida de Panamá e República Dominicana (6%), Chile (5,7%) e Peru (5,6%), segundo as projeções da Cepal. Apesar de a Argentina liderar o ranking, não significa que sua economia esteja crescendo efetivamente, e sim que está em recuperação de uma profunda crise que em 2002 provocou a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 10,9%, explica Meza.

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