
O posicionamento de François Hollande na campanha eleitoral contra as medidas de austeridade da União Europeia (UE) conquistou eleitores insatisfeitos e o levou à vitória nas eleições francesas do último domingo. Eleito presidente da França, o socialista que até então não tinha nenhuma experiência em cargos públicos agora tem como desafio transformar seu discurso de campanha em realidade.
O problema é que o reposicionamento do bloco econômico europeu não depende somente da França. Para especialistas, o momento de Hollande comemorar os resultados das eleições já acabou. Sua tarefa agora é convencer a chanceler alemã Angela Merkel, que defende corte nos gastos governamentais, de que a Europa precisa voltar às políticas de crescimento.
Segundo o professor de economia do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco Rogerio Buccelli, Hollande tem uma "batata quente nas mãos". "Ele precisa cumprir o que prometeu em campanha, gerando mais empregos e combatendo a desigualdade. Para isso, deve se projetar politicamente e ganhar espaço na União Europeia", diz.
Buccelli afirma que, sem espaço no bloco, a França dificilmente conseguirá lutar contra a austeridade. Mas antes de conquistar visibilidade internacional, o novo presidente precisa conseguir respaldo no parlamento francês, cuja maioria dos representantes ainda é da ala política de Nicolas Sarkozy. "Conseguindo o apoio doméstico, a missão de Hollande é capitalizar suporte político em outros países da União Europeia e, então, levar a situação para Angela Merkel", diz Buccelli.
Negociações difíceis
Para o macroeconomista das Faculdades Integradas do Brasil, Wilhelm Meiners, as negociações entre a França e a Alemanha não serão fáceis. O maior problema está em convencer Berlim de que o pacote de austeridade não tem mais sustentabilidade para a Europa.
"Angela Merkel deve fazer resistência (em renegociar o corte nos gastos) por causa de pressões de seus grupos de apoio, como bancos e empresas internacionais", prevê.
Para Meiners, o pacto fiscal assinado em 2011 que protege a unidade do euro e a estrutura da União Europeia está comprometendo o desenvolvimento de determinados países.
O exemplo mais gritante dado pelo professor é o caso da Grécia, cujo voto de protesto deixou o país em uma indefinição a respeito do governo. "Os gregos chegaram a ameaçar, nos últimos dias, em deixar a zona do euro e abandonar as medidas de austeridade."
Para Buccelli, a situação da Grécia pode servir de bandeira para que Hollande consiga capitalizar apoio dos europeus para redefinir as políticas de austeridade. "Levantando a crise grega, ele pode ganhar espaço na União Europeia e justificar as medidas de desenvolvimento que defendeu durante a campanha", observa.



