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Retaliação

"Eles chegaram batendo em todo mundo", diz brasileiro atacado no Suriname

Maranhense de 57 anos está internado em hospital na Guiana Francesa. Segundo embaixada, 14 brasileiros ficaram feridos, 7 em estado grave

O maranhense Aldemir Moreira, de 57 anos, que estava no acampamento de garimpeiros atacado em Albina, cidade do Suriname a 150 quilômetros da capital Paramaribo, disse por telefone ao portal G1 neste sábado (26) que os surinameses atacaram fortemente os brasileiros, incendiaram casas e roubaram pertences.

Moreira está internado em um hospital de Saint Laurent du Maroni, na Guiana Francesa, perto de Albina.

"Foi tudo muito rápido. Estávamos no lugar onde jantávamos e um deles (surinameses quilombolas) que só vivia batendo nas pessoas já chegou batendo num brasileiro. E ele (o brasileiro) tirou uma faca e acertou (o surinamês). Logo depois já chegou para mais de 200 batendo em todo mundo", disse Aldemir, que trabalha no garimpo em Albina e veio da cidade de Lago da Pedra (MA).

Segundo a embaixada do Brasil no Suriname, um ataque a cerca de 80 brasileiros deixou 14 feridos, dos quais sete em estado grave. Conforme a embaixada, o ataque teria sido uma retaliação à morte de um morador local.

Um brasileiro teria assassinado na véspera de Natal, dia 24, um "marrom", como são conhecidos os surinameses quilombolas. De acordo com a embaixada, o brasileiro está foragido. As autoridades surinamesas estimam que entre 100 e 500 marrons tenham atacado os brasileiros em retaliação.

Os brasileiros que vivem em Albina trabalham no garimpo de ouro, atividade proibida no Suriname, e vivem, em sua maioria, ilegalmente no país, informou a embaixada. Albina tem cerca de 10 mil habitantes e fica na fronteira do Suriname com a Guiana Francesa.

O embaixador informou que não é possível estimar a quantidade de brasileiros que vivem em Albina porque a maioria é nômade, vive um pouco para atuar no garimpo, morando em tendas plásticas, e vai embora.

O maranhense Aldemir Moreira disse que não tem informações sobre o brasileiro que teria matado o surinamês.

Moreira afirmou que os locais trancaram brasileiros em quartos e atearam fogo. Ao escapar - ele disse que precisou quebrar a porta, quebrou um osso do ombro. "Trancaram a gente num quarto e bateram em todo mundo. Roubaram pertences, joias. Atiraram fogo. Tem gente sumida", contou, afirmando que há informações extraoficiais de mortos - a embaixada brasileira não confirma.

"Ataque brutal"

O embaixador José Luiz Machado e Costa afirmou que houve um "ataque brutal aos brasileiros" e que os marrons estupraram mulheres e atacaram o grupo de brasileiros com facões.

"Os golpes de facão produzem ferimentos graves e pode ser que o número de mortos aumente", disse o embaixador. Segundo ele, uma equipe da embaixada está no hospital para obter a identidade dos brasileiros e analisar quais são as necessidades imediatas.

"A situação é bastante complicada e hoje a embaixada está montando uma espécie de multirão de emergência. Estamos em contato com os ministros locais da Defesa e da Justiça", afirmou o embaixador.

Os brasileiros que não se feriram foram hospedados em dois hotéis, disse ele e cerca de 30 vão ser interrogados pelas autoridades locais.

Do grupo que atacou os brasileiros, quatro pessoas estão presas e as autoridades surinamesas investigam se há outros envolvidos.

Na avaliação da embaixador, o governo surinamês está sendo muito atencioso com os brasileiros. "Hoje o exército e a polícia estão voltando a Albina para uma avaliação geral. Os ministros foram para a televisão na noite de sexta (25) e pediram oficialmente desculpas aos brasileiros, o que demonstra um especial cuidado e apreço pelos brasileiros."

O embaixador afirmou ainda que o Ministério das Relações Exteriores ofereceu um avião da Força Aérea Brasileira para enviar ajuda aos brasileiros atacados, mas ainda depende do posicionamento das autoridades surinamesas. "Isso é um assunto interno do Suriname e não podemos interferir na soberania do país."

Simpatia

O embaixador afirmou que nunca houve precedente de desentendimento entre locais e brasileiros. "A relação de integração no Suriname é completa e temos total simpatia com eles. Eu acredito que tenha sido mais uma atitude de massa, começa um quebra-quebra e a coisa sai do controle. Não qualificaria como ressentimento."

Cerca de 18 mil brasileiros vivem no Suriname, segundo a embaixada. O país tem uma população de cerca de 500.000 habitantes, e sua economia é baseada, principalmente, na mineração.

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